[Clássica Off] The Masquerade.

Mais um dia vazio e sem emoções na vida de Lyza terminava, a mulher se encontrava pensativa caminhando pelas ruas de Hilydrus. Sob o véu da noite, linda e aconchegante, caminhava uma mulher fria e amargurada, usando seu sobretudo vinho e de capuz, ela tentava passar despercebida pelas pessoas da rua, ou pelo menos não queria ser vista por ninguém. Parou em uma feirinha, e com as poucas moedas que tinha, comprou alguns suprimentos para passar a semana, seu trabalho como dançarina numa taverna, apesar de não muito digno nem tão pouco lucrativo, lhe mantinha viva até o presente momento. A mulher se ateve apenas a comprar o necessário, como legumes e frutas, pão, azeite, carne e alguns temperos.

- Ahhh... - Suspirou Lyza como se estivesse cansada, mas não fisicamente, mas sim mentalmente. Sua casa, sua vida, toda essa rotina chata e sem sentido, sem um proposito que realmente valesse a pena perseguir, tudo isso a deixava estagnada. Num determinado momento de sua caminhada, quando voltava para casa com suas compras, ela notou algo diferente no ar. Por um reflexo ela olhou direto pro céu e percebeu que a lua mudava de tonalidade, olhou em volta, mas as pessoas pareciam ignorar este fato. - Mas o que... - Do branco brilhante, passou para o rosa salmão, depois escurecendo até tornar-se rubra. Não só o céu, mas na rua o efeito parecia se estender em tudo e todos, menos em Lyza. Aos poucos as pessoas iam entrando em uma espécie de câmera lenta, até finalmente estacarem em seus lugares, suas expressões porem estavam normais, ninguém demonstrava preocupação ou desespero, agiam como se nada estivesse acontecendo.

Lyza não sabia o que fazer, seu coração palpitava no peito e sua respiração começava a ficar mais rápida, ela já se preparava para o pior, soltou as bolsas de qualquer maneira no chão e se colocou em posição defensiva preparando-se para conjurar uma de suas distorções. Então do céu caiu uma folha, que Lyza só notou quando estava a frente de seu rosto, a garota segurou a folha e leu seu conteúdo, mas ao mesmo tempo que lia, uma voz do alem lhe repetia aquelas palavras, como um sussurro fantasmagórico em meio a toda aquela cena bizarra "No centro da cidade... Meia-noite...". Por fim, tudo cessou, as pessoas voltaram ao normal, o barulho, as andanças e até mesmo a lua voltou a sua cor original.

- Senhora? Está bem? - Uma jovem que parecia ter notado a cara de espanto de Lyza, parou a frente dela para ver se havia algo errado, mas Lyza ainda levou um pouco mais de tempo até despertar. - Eu... Estou sim... - Lyza pegou as sacolas no chão e saiu andando depressa, ignorando a mulher a sua frente. Queria chegar logo em casa e por aquilo a prova, precisava saber o que tinha sido aquilo e porque a tinham chamado. Guardou os alimentos o mais rápido que pode, pegou uma capa e saiu novamente trancando a casa, agora seu destino era o centro, ainda tinha algum tempo antes da meia noite, mas ainda assim Lyza tinha pressa em saber o que estava acontecendo.

Ja se aproximava da meia noite quando Lyza chegou a praça, mas ainda havia muitas pessoas por la. De inicio ela pensou estar ficando louca, teria tudo aquilo não passado de um mero sonho? Não via nada de diferente na praça aquela noite, nem mesmo uma movimentação estranha pelos becos ao redor do lugar. A medida que o tempo passava, as pessoas iam para o aconchego de suas casas, mas Lyza ainda estava la a espera de sabe-se la o que. Sentada num do bancos, quando a mulher se deu conta, apenas uns poucos restavam ali. Será que eram aqueles os responsáveis por todo aquele "show" na feira? Ela os analisou bem, mas um deles ela poderia descartar logo de cara como sendo o responsável pelo chamado. Sobravam apenas dois suspeitos, o velho barbudo e o grandalhão maltrapilho.

A noite seguia e após alguns minutos da praça ter esvaziado, o sino de uma igreja local soava solitário anunciando a meia noite, seria agora que ela confirmaria quem deles era o autor do chamado. Contrariando todas as suas expectativas, as coisas começaram a mudar repentinamente. Uma forte ventania acometeu o grupo e uma nevoa negra brotava e tomava forma no centro da praça. Os outros 3 se aproximaram e Lyza, não querendo ficar para trás, também o fez. Quando um ser encapuzado tomou forma Lyza se deu conta do que acontecia, aqueles 3 na verdade foram outros convocados e não tinham nada a ver com a situação aparentemente. O ser falava de forma ritmada, sua voz sinistra e fria causava arrepios, mas não afugentou nenhum dos presentes. Depois de falar algumas coisas, ele fez surgir duas esferas cintilantes, que logo tomaram a forma de uma espécie de espelho, onde do outro lado, podia se ver a lua vermelha vista por Lyza na feira. "Um portal dimensional? Então era isso... Esse cara queria nos chamar para nos levar até seu mundo... Mas para que?" O ser não deixava claro o que queria com o grupo, talvez propositalmente, mas ainda assim era arriscado e perigoso. Podia ser uma armadilha, ou podia ser verdade.

Lyza aguardou por mais um tempo até que um dos integrantes do grupo tomou a atitude de seguir em frente, entrando no portal e sumindo de nossas vistas. Isso não tornava as coisas menos perigosas, mas sim deixava a decisão de entrar cada vez mais tentadora para a maga. "Não tenho nada a perder... Está na hora de fazer algo que realmente valha a pena por mim mesma." E com este pensamento ela fez o mesmo que o velho. Se aproximou do portal, mas antes de entrar, estendeu a mão até o mesmo para verificar, Lyza tinha conhecimento de como fendas dimensionais eram instáveis e sabia que poderia morrer só de chegar perto de uma. Em seguida, visto que não havia nada errado, Lyza finalmente entrou no lugar.

Ao passar pelo portal, Lyza fora chocada contra uma dura realidade, uma visão que lhe marcou por completo. Uma cidade em estado deplorável, sujeira por todos os lados, gente sedenta e suja, crianças mendigando migalhas sujas da calçada, não havia nos poços e as valas eram pura imundice. Os sons, os cheiros e as cenas quase fizeram Lyza passar mal, era algo terrível até mesmo de se imaginar. Ainda chocada e ofuscada pela pobreza do local, Lyza não notou a aproximação do senhor, que suplicava pela ajuda do grupo. - Mascara da ordem? Sacerdote? - No mesmo instante a visão daquela figura de capa e capuz, em meio a praça central de Hilydrus, lhe veio a mente. - Nós o ajudaremos sim, leve-nos até esse sacerdote. - E sem hesitar ela seguiu o velho pela rua principal da cidade.

O grupo seguiu o velho até uma pequena catedral, mas Lyza permaneceu em silencio absoluto até chegarem la finalmente. A angustia que sentia não diminuiu ao ver que ao menos a catedral estava melhor conservada que o restante da cidade. Ainda assim ela precisava entender o que estava acontecendo naquele lugar, para enfim ajudar. O silencio dentro do recinto era incomum, como se estivesse abandonada a seculos, por alguns instantes Lyza se perguntou se realmente havia alguém ali. - Ola? - Falou um pouco receosa, olhava para todos os lados, todas as frestas, qualquer movimento que indicasse que alguém aparecia para recebe-los, ou um som que indicasse que ainda havia alguém vivo por ali. A sensação de aperto no peito de Lyza só aumentava com a espera, temendo que tivessem chegado tarde demais para ajudar, ela ansiava para que o sacerdote aparecesse logo.