[Comum] A Grande Caçada

Depois de um mês que o grupo havia se conhecido, Camille e Rio Ligeiro haviam passado no teste do exército e seguiram para lá começar seu treinamento. A meio-elfa Silméria também teve sucesso no teste, mas preferiu seguir um caminho diferente, continuando na Floresta Endless ao lado dos novos companheiros Aldarion, Hayate e Michelle. O grupo sobreviveu bem e se ajudava prontamente, agora buscando um único objetivo: derrotar um terrível Wyvern. O motivo era os preciosos recursos que poderiam conseguir da criatura poderosa. Ossos, escamas, chifres e até mesmo a carne poderiam ser aproveitados ou vendidos.

E é em busca desta criatura que a jornada começa...

Aldarion degustava seu café da manhã sem dar importância a nada ao seu redor, nem mesmo ao fogo que se descontrolava cada vez mais. Ouviu as palavras de Silméria sobre vingança e se preparou para responder. Foi quando tudo aconteceu repentinamente e o som de uma explosão pegou o guerreiro desprevenido. Naquele momento ele havia enchido sua boca de comida, tamanho fora o susto que levou com a explosão que cuspiu tudo para fora.

- MAS O QUÊ?! - Gritou assustado levantando-se na mesma hora correndo em direção aos seus pertences.

Com uma mão agarrou sua mochila e com a outra a sacola com os objetos saqueados, depois se virou e correu o mais que pode torcendo para não ser pego pelas chamas. Ele não era rápido, mas por sorte estava perto da saída do vilarejo e sua armadura o protegeu das poucas brasas que vieram a lhe tocar. Livre do perigo, virou-se para ver se seus companheiros estavam bem e ao constatar que sim, abriu um leve sorriso e acenou para eles.

- VOCÊS VIRAM ISSO?! EU NUNCA VI FOGO AGIR DESSA FORMA!!! Será que era magia? - Questionou assombrado. Mas logo outra coisa além do fogo lhe chamou a atenção.

Hayate parecia se descontrolar, dobrava-se sobre o próprio corpo como se estivesse tentando conter algo, contorcia-se e grunhia como se estivesse sendo rasgado de dentro para fora. Aldarion sentiu seu coração se acelerar, seus músculos enrijecerem e seu sangue gelar, o medo se espalhou pelo seu ser inundando-o diante da cena assustdora.

Aldarion sempre teve um pouco de medo de Hayate, na presença do licantropo ele nunca se separava de sua arma. Quando acampavam e Hayate ficava de vigia, Aldarion nunca conseguia dormir completamente. Até agora ele havia escondido esse medo, um medo natural que qualquer presa sente por seu predador, o que era o caso ali, pois desde tempos antigos os licantropos sempre foram uma ameaça aos humanos. Agora todo aquele medo que ele sentia se justificava ao ver Hayate crescer a cada segundo até chegar ao ponto que fizesse Aldarion sentir-se pequeno. Por reflexo o espadachim puxou Silméria para trás de si de forma a se interpor entre Hayate e ela. Mesmo com o medo pulsando em suas veias, por fora ele se mantinha frio e resoluto, nem mesmo sacou sua espada, tinha plena confiança de que conseguiria puxar sua arma e se defender no tempo certo.

Quando Hayate terminou sua transformação, simplesmente ignorou Aldarion e Silméria lançando-se em uma corrida desenfreada, mata a dentro o que fez o guerreiro sentir-se mais calmo. Estava contente em não ter que precisar lutar contra alguém que considerava um amigo, ou pelo menos companheiro de viagem.

- Maldições Abissais! - Praguejou. - O que deu nele? Você sabe? Achei que ele iria avançar em nós. - Falou se virando para Silméria, estava visivelmente confuso. A meio-elfa explicou a Aldarion a situação e este assentiu que sim afirmando ter entendido tudo.

- Foda-se essa merda toda, vamos atrás dele. Mas vamos com calma, se tentarmos alcançá-lo pode ser que ele realmente resolva nos atacar. - Depois de falar isso seguiu atrás de Hayate, movendo-se sem muita pressa seguindo os rastros que Hayate deixara para trás.

Spoiler:

Sem pensar duas vezes Aldarion e Silméria montaram nas costas de Hayate. Conseguia correr com muita velocidade pela vontade de estraçalhar seu mais novo inimigo. O caminho era íngreme, já que era quase o meio dia. Era longe apesar de parecer mais perto. Demorou quase uma hora para chegarem e Hayate já sentiu a mudança em seus pés, era a neve que tomou espaço fazendo-o derrapar, mas isso não era problema, mantinha seus olhos na mesma montanha para não perder o inimigo de vista; viu que eles haviam entrado numa caverna.

Assim que chegaram não havia sinal de criatura alguma, mas seu cheiro era reconhecido facilmente pelo Lobo, ele tinha estado ali. Dando uma boa olhada dentro da caverna não havia nada de estranho, poderiam entrar sem risco algum. Quando entraram viram que não era uma caverna, era uma passagem para outro lugar. A cena já se iniciava em um campo de flores. Era vasto, com muitas flores e um céu bem azul de poucas nuvens e um cheiro de jasmim. Era um lugar tão bonito em relação ao que estavam, como se fosse impossível ou até mesmo ilusão. Mas o cheiro, mesmo fraco, de seu inimigo ainda pairava e seguia para frente.

Obviamente seguiram os três pelo caminho reto, sempre atentos a qualquer novo sinal de perigo, mas nada aconteceu. Andaram por quase dez minutos até verem ao longe uma cidade com tom vermelho. Havia uma igreja no centro da pequena cidade. Era impressionante como o céu acima dela era vermelho sangue. Havia uma placa logo mais a frente; nela estava escrito:

" Que seja amaldiçoado assim que passar por aqui. Amém.

O aviso era claro, havia uma assinatura ilegível apagada pelo tempo. Assim que atravessaram, sentiram um vento gelado e um cheiro de enxofre e um calor que lembrava o inferno. Era como se a placa dividisse o céu e o inferno. Agora o cheiro do inimigo se mesclava ao de tantos outros. Conforme adentraram na cidade criaturas estranhas apareciam de todos os lados. Era uma cidade igual a Hilydrus, uma rua principal com vários quarteirões e casas, com uma igreja de centro. Haviam criaturas atacando em grupos e sangue sendo derramado, mas não havia sinal algum do lobo.

Foi então que aconteceu:

Os sinos da igreja tocou e todas as criaturas saem correndo desesperadas se enfiam em buracos, casas e até em galpões. Uma das criaturas que corria urrou e parou de andar na hora. Sua feição mudou e ele, que corria na direção dos três virou e foi direto para a igreja, foi quando que, ao parar próximo, veio um vulto gigantesco do céu e pegou a criatura com os pés e subiu aos céus e os três viram de longe ele erguer a criatura com as mãos e puxar a vítima pelos dois lados ao mesmo tempo que tomou todo seu sangue. Pedaços as entranhas caíram na rua e algumas criaturas mais fracas saíram de seus esconderijos para comer os restos.

Foi quando o cheiro do lobo surgiu e Hayate olhou para seu lado esquerdo e pôde ver uma mulher de trajes sujos, claro uma escrava, observando-os. Ela fedia ao lobo. Ao perceber seu olhar, ela corre e se esconde dentro de uma casa e deixa a porta aberta.

As palavras de Silméria soaram duras para Aldarion e o acertaram de surpresa. Ele nunca havia pensado naquele ponto de vista. Em um segundo ele foi capaz de compreender as motivações da companheira o que o fez ver que ele estava completamente errado em sua forma de agir. Aldarion viu a si mesmo como alguém que se preocupava somente consigo mesmo por puro egoísmo ou comodismo. Afinal, era muito mais fácil viver assim do que ter que se arriscar para proteger alguém. Silméria era muito mais corajosa que ele naquele sentido, ela arriscava-se a enfrentar a fúria de Hayate para tentar protegê-lo de si mesmo e no processo, ela arriscava a própria vida.

Com esse pensamento, Aldarion ficou estático, seus olhos se arregalaram e suas pupilas diminuíram de tamanho. Seu olhar se fixou no rosto da meio-elfa e sua boca se abriu em uma expressão clara de espanto.

– O-o que você disse? – Foi a única coisa que ele conseguiu falar, era como se tivesse levado um soco no estômago. Seus olhos arregalados estavam fixos no rosto de Silméria e ele pode ver a expressão sádica surgir no rosto da moça enquanto ela se divertia com a reação dele.

Mas isso não o incomodava, ele não se importava se ela estava se divertindo ou não. O que realmente o incomodava foi perceber que derrepente era ele o covarde da história. Apenas quando Hayate se aproximou foi que Aldarion voltou a si, seu rosto mudou novamente e seus olhos se moveram para os lados revelando que ele estava pensativo. Silméria não se demorou e subiu logo nas costas de Hayate, parecia que ela já estava acostumada a cavalgar lobisomens. Aldarion relutou um pouco, mas no final das contas acabou tomando um lugar para si no dorso do enorme lobisomem.

A viagem desajeitada e desconfortável para ele tomou toda a sua atenção e o fez esquecer por um momento o diálogo que tivera com Silméria. Finalmente depois de um tempo o trio alcançou o que parecia ser uma caverna no alto de uma montanha. Ali eles desmontaram das costas de Hayate e seguiram a pé. A princípio o caminho parecia ser comum, mas depois de um tempo a caverna se abriu em uma espécie de campo florido o que fez Aldarion ficar surpreso. Será que aquilo tudo era verdade ou era uma ilusão?

Seja o que for, ele continuou em frente alerta para qualquer coisa que viesse aparecer. Até que em um momento a paisagem se abriu em um vale com um céu claro, no caminho uma placa amaldiçoava aqueles que ousassem passar daquele ponto. A resposta de Aldarion ao que estava escrito foi direta e clara.

– Maldito seja o filho da puta que me fez vir até aqui, porque quando eu encontrá-lo vou descer minha espada bem forte na cabeça dele. Amém. – Disse Aldarion escarrando na placa. – Amaldiçoa meu pau. – Finalizou.

Aldarion seguiu caminho com seus companheiros até finalmente adentrarem na cidade. Era uma cidade estranha habitada por criaturas estranhas. Então sem aviso nenhum o sino de uma igreja começou a tocar e todos os monstros que estavam nas ruas correram em busca de abrigo. Um deles não conseguiu encontrar refúgio a tempo e foi pego por uma mão gigante que o suspendeu, em seguida ele foi despedaçado e algumas sobras dele caíram no chão para serem devoradas pelos demais.

– PELAS BARBAS DO PROFETA! – Disse Aldarion em um misto de surpresa e medo. – Vocês viram o tamanho daquela coisa? – Disse ele de olhos arregalados.

Em seguida a expressão em seu rosto mudou para algo como choro.

– Por queeeeeeeeeee todos os monstros que eu encontro são MUITO maiores do que eu? Por queeeeeeê?! – Disse Aldarion com voz de choro. – Preciso de uma espada maior... – Finalizou.

Finalmente se recuperando de seus resmungos e de sua surpresa, ele se virou para seus companheiros e apontou para a igreja.

– Vamos para lá, quem quer que tenha sido o responsável por tocar o sino pode ser o responsável por toda essa lambança ou pelo menos pode ter informações importantes. Vamos e fiquem atentos. – Disse ele e logo que terminou sua frase começou a andar em direção à igreja tomando o cuidado para não chamar muita atenção.

Se durante o caminho algum monstro aparecesse para atacá-lo, Aldarion sacaria sua espada usando sua habilidade Quick Draw e desceria a lâmina na cabeça do infeliz com toda a força de seus poderosos músculos.

Tudo aconteceu muito rápido, Aldarion e Silmeria se preparavam para seguir pra igreja quando Hayate se separou do grupo. O lobisomem corria desvairadamente como uma besta em fúria vinda do inferno para estraçalhar o mundo com suas garras e presas sedentas de sangue.

Praguejando em nome dos nove infernos, Aldarion mudou seu curso de ação e começou a seguir atrás do companheiro sendo seguido de perto por Silmeria. Adiante Hayate seguia furioso como um vagalhão derrubando todos os obstáculos que apareciam a sua frente. As portas que se fechavam a sua frente caiam ante a fúria vingativa.

Finalmente no final desta insana perseguição, as sombras ganharam vida nas costas de Aldarion e Silméria e ambos foram empurrados para a frente sem chance de reação, agora estavam em um lugar que parecia uma espécie de coliseu.

Depois de uma breve apresentação os aventureiros viram-se forçados a terem que lutar por suas vidas. Nos céus sobre suas cabeças, quatro criaturas bestiais desciam em investida, monstros ferozes que mais pareciam o cruzamento de uma velha feia e horrenda com um abutre super desenvolvido . Aldarion percebeu que as garras e prezas das criaturas eram feitas de aço, por isso deduziu que elas eram capazes de cortar armadura de aço e carne com facilidade, também levou em consideração que elas poderiam erguê-lo no ar portanto não poderia se dar ao luxo de deixar aqueles asquerosos monstros acertarem-no. Naquele momento preocupou-se com Silmeria, mas primeiro precisava cuidar de sua própria situação para depois poder ajudar seus companheiros.

Com todos esses pensamentos em mente, Aldarion se manteve em guarda, seu plano era usar o tamanho descomunal de sua arma para atacar a criatura com um golpe vertical no momento que esta se aproximasse, era a única manobra que ele poderia fazer e se desse certo cortaria o monstro em dois. Com o plano criado, Aldarion manteve sua espada presa às costas o tempo inteiro e puxou a arma apenas quando a criatura estava ao alcance, pretendia usar sua manobra de saque rápido para surpreender o monstro.

– Venham abutres, farei um travesseiro fedorento com suas penas para que o demônio possa dormir confortável. – Rosnou o guerreiro.

Informações:

Spoiler:

Silmeria praguejou inúmeras vezes quando se viu dentro daquele lugar. Lançou um olhar furioso para Aldarion e em seguida para Hayate, que considerava o culpado por estarem naquela situação ridícula. “Isso já está ficando ridículo!”

- Por favor, - murmurou para Aldarion – Aprenda a controlar seu cachorro, sim? – disse, em um tom irritadiço.

A voz da mulher a alarmou e as palavras ditas, para depois indicar os três intrusos daquele lugar: Silmeria, Aldarion e Hayate... Aquilo provavelmente significaria problemas. E o pior é que eles haviam se jogado naquela armadilha e estavam em uma posição desvantajosa. E o pior, haviam inúmeras pessoas assistindo como se aquilo fosse um show.

Sem dar muito tempo para os aventureiros, Silmeria se viu sendo o alvo de uma das criaturas. Os olhos dela adquiriram um brilho divertido ao ver o oponente que enfrentaria, não porque estava confiante que venceria um combate bruto com ele, mas porque seria divertido ver aquelas penas se incendiarem e aquela criatura gritar de agonia no chão.

Sem hesitar, a mestiça pegou seu arco e incendiou a ponta de sua flecha. Disparou em direção a asa da criatura que vinha em sua direção... Não importava que suas asas fossem fortes e resistentes, nem se sua flecha o atravessaria de fato. Tudo o que precisava era que suas chamas entrassem em contato com a penugem daquela asa e ela se incendiasse.