[Encerrado] UAOM - In The Lower Realms

Parte da Campanha Uma Ameaça de Outro Mundo que narra as aventuras de Tenkai nos Reinos Inferiores onde ele tentará ao mesmo tempo salvar sua alma e impedir a destruição de Lodoss.

Tenkai
EN Máxima: 500%
EN Atual: 335%
XP: -
100 pontos por escapar do campo de batalha abissal.
50 pontos pelo plano desenvolvido contra o verme púrpura.
50 pontos ganhos por aprender mais sobre a Blood War e Hades.
Status:
Alma Errante - Só pode recuperar EN por meio da passagem do tempo sendo 50% a cada dia.

Novas Regras:
Tenkai, você agora virou uma Alma Errante nos mundos inferiores, você não tem PVs e é invulnerável a muitas injúrias. Não precisa mais comer, respirar e não tem mais necessidades biológicas comuns dos seres vivos. No entanto seu corpo ainda se comporta como se você estivesse vivo portanto se você for ferido sangrará.

Lembre-se que mesmo que você não sofra dano tomar um banho de lava por exemplo, você ainda sentirá toda a dor disso e seu corpo ficará desfigurado precisando de um tempo para se regenerar totalmente. Por exemplo, se você mergulhar em um lago de lava você virará um esqueleto mas ainda assim estará vivo, porém sentindo toda a dor de ter mergulhado na lava. Dentro de poucos dias seu corpo se regenerará e você estará com a aparência refeita.

Criaturas sobrenaturais e alguns detalhes da paisagem podem te ferir de verdade, armas mágicas e magias também. Então cuidado. Mais um detalhe, quanto mais EN você tiver, mais você será desejado por criaturas devoradoras de almas.

Dor...

Desespero...

Ódio...

Frio...

Escuridão...

Morte...

Você sente a vida abandonar seu corpo juntamente com a dor que a trouxera a medida que a escuridão se apodera de sua mente. O que aconteceu? Você não sabe, você não entende nada. Você foi assassinado, executado covardemente por pessoas que tinham a sua confiança. Seus pensamentos estão turvos, você não entende mais nada. O que será que aconteceu? Uma traição? Uma ilusão? Inimigos disfarçados? Você não sabe, tudo o que resta é apenas o ódio. Em meio a escuridão você vê um facho de luz e no centro dele uma clareira. Você olha e vê um garoto élfico de cabelos prateados correndo aflito no centro do ponto luminoso no meio daquele mundo de trevas geladas. Ao se aproximar você sente uma enorme familiaridade com o garoto e derrepente se dá conta de que ele é você.

O garoto corre aflito como se estivesse tentando alcançar algo ou alguém muito importante. Lágrimas cristalinas vertem de seus olhos e esvoaçam pelo ar deixando um rastro brilhante. A luz reluz mais forte e então cada lágrima cresce e reluz mais ainda e dentro de cada uma delas você vê um fragmento de sua vida. As gotas de lágrimas tornam-se incontáveis e passam a girar ao seu redor, cada uma exibindo um momento de sua vida, momentos há muito esquecidos. Então você se lembra de quem você é, você se lembra do seu nome, você se lembra de tudo e percebe que perdeu muito tempo. Pior que isso, você percebe que tudo o que viveu até agora foi uma mentira.

As lágrimas então se unem em uma única e dentro desta você vê o rosto de Sabrina, ela olha para você e sorri sadicamente, um segundo depois o rosto dela se modifica e vira o rosto de Silméria com um sorriso idêntico. A imagem muda mais uma vez e você vê a si mesmo caindo morto ao chão e então você escuta as gargalhadas femininas de Sabrina e Silméria. As gargalhadas ecoam pela escuridão infinita e vão se multiplicando até que você cai de joelhos com as mãos nos ouvidos tentando desesperadamente tampar o som cada vez mais crescente. Mas você não consegue, o som penetra sua mente e ecoa por todo o seu ser em uma cacofonia infernal, da sua garganta irrompe um grito de ódio e fúria pela vida tomada injustamente. Você se vê dentro da última gota de lágrima e esta cai perdendo-se na escuridão provocando ondulações como uma pedra atirada na superfície de um lago.

Você cai em um abismo infindável e escuro, sem começo ou fim. O frio se apodera de tudo e junto dele a desesperança, você derrepente percebe que morreu e o choque se abate sobre sua alma. Você abre os olhos e se vê andando em uma enorme fila no meio do nada, o céu é completamente branco e coberto por nuvens e você tem a impressão de que elas sempre estiveram ali. Ao seu redor uma planície infinita onde o chão reflete tudo como a superfície cristalina de um lago sereno. Tamanha é a reflexidade da paisagem que por um momento você se questiona se não estaria andando nos céus e observando o chão. A única coisa que lhe faz ter certeza de que está de fato no chão são as pequenas ondulações que seus passos e os dos demais na infinita fila produzem como se vocês estivessem caminhando sobre a água.

Seus punhos, seus pés, algemados. Correntes etéreas o aprisionam na fila junto dos outros. A sua frente você vê incontáveis pessoas de raças diversas, muitas das espécies desconhecidas a você, atrás a mesma visão. Uma fila sem começo mas com um fim onde você sabe muito bem onde vai dar. Em vários pontos ao longo da fila você vê figuras misteriosas mais parecidas com espectros, todos usando mantos negros e portando foices, a aparência clássica do anjo da morte. Eles andam de um lado a outro na fila certificando-se de que ninguém tentará se libertar dos grilhões, quando caminham, diferentemente de você e dos demais, seus passos não produzem ondulações. Você não precisa questionar ninguém para saber seu destino, você sabe para onde está sendo puxado e sabe qual será seu veredicto e isso apenas o abate ainda mais.

As vezes, durante o trajeto surgem criaturas infernais, elas se aproximam da fila dirigindo-se a almas específicas com ofertas tentadoras oferecendo renascimento em meio a danação e perdição absolutas. Aqueles que aceitam são libertados das correntes pelos Espectros da Morte e arrastados pelos negociadores para dentro de portais flamejantes que você sabe muito bem para onde levarão. Uma das criaturas se aproxima e você escuta seus sussurros doces, a tentação domina seu coração mas por alguma razão você recusa a oferta.

– Então tolo que sua alma desapareça para sempre da existência. – Amaldiçoa o diabo enfurecido com sua rejeição enquanto se afasta para levar sua oferta a outros menos sábios.

Você estremece e sabe que ele fala a verdade, ele diz seu futuro e você chora. Uma eternidade se passa, você tem a sensação de que passou um segundo naquela fila ao mesmo tempo em que se sente como se tivesse ficado ali desde sempre. A sua frente uma cidadela cercada por uma muralha alta surge em meio à planície cristalina e infinita. Você se aproxima pouco a pouco e a medida que o faz uma tristeza esmagadora se apodera de seu ser. Já perto dos portões você vê vários outros seres, alguns celestiais, outros tão assustadores quando os infernais que você viu mais atrás. Eles vêm e retiram da fila algumas almas, os afortunados são levados pelos celestiais e partem felizes para mundos de alegria e paz absolutos, os paraísos de seus deuses. Alguns infelizes são levados pelos demais para mundos que por um momento você tem a impressão de serem piores que o próprio Inferno, mundos estes que são os paraísos de deuses sinistros e obscuros.

É a justiça da morte, ela é perfeita e você sabe disso. Os bons são levados pelos deuses que eles serviram em vida, os maus a mesma coisa, alguns se corrompem e caem no inferno antes mesmo de alcançarem o julgamento. Mas o pior destino de todos está reservado para aqueles que são como você, que viveram a vida de forma egoísta sem servir a um ideal ou propósito.

Tom!

Tom!

Tom!

Três batidas pesadas, você as escuta e as sente como se ressonassem em seu ser. Este é o som do martelo do Juiz da Morte definindo sua sentença. O cavaleiro altivo de armadura negra e feição humana olha para você com um olhar inquisidor e você sente como se ele o conhecesse melhor do que a si mesmo. Khelenvor, O Senhor da Morte.

– Para você que viveu por si próprio. A condenação merecida. Apodrecei em lamentação até que de tua essência nada reste. – Suas palavras, a verdade.

Os anjos negros da morte o arrastam para fora da cidadela em direção a muralha que agora você percebe ser feita de almas. Almas como a tua, todas em eterno choro e lamentação, algumas desaparecendo lentamente diante de seus olhos a medida que um estranho bolor esverdeado que cobre toda a estrutura as consome. Você tenta se afastar mas inúmeras mãos desesperadas o agarram e o puxam em meio a gemidos e súplicas. Você luta por alguns segundos mas logo é vencido e se torna mais um, mais um par de mãos desesperadas a puxar as próximas almas infelizes destinadas a compartilhar tua sentença maldita.

Você sente sua essência se desfazer, sente-se apodrecer a medida que o bolor espectral o consome, uma eternidade se passa, você vê muitos ao teu redor junto a ti desaparecendo em lágrimas apenas para serem substituídos por novas almas. A muralha nunca fica com seus buracos. Logo você sumirá e outra alma assumirá seu lugar, você lamenta, você chora, você suplica. Suas mãos se agarram a outros e esses outros se assomam ao teu lado e para o seu desespero eles se tornam como tu. E tu tem a certeza de que este é o teu fim de certo.

Esperança...

Até mesmo a justiça correta da morte pode sofrer seus contratempos. Você vê um portal se abrir do lado de fora da Cidadela do Julgamento e de dentro dele saltarem dezenas de demônios. Os monstros correm em direção a muralha para perto da onde você está e com suas garras e presas abrem buracos na estrutura. Durante o ataque muitas almas têm seu processo de decomposição acelerado e estas se desfazem por completo assim como um livro velho e mofado se desfaz ao ser folheado com descuido, mas alguns mais sortudos como você são simplesmente libertados intactos do Muro das Lamentações.

Os guardas chegam para defender a cidadela, uma batalha terrível entre anjos da morte e demônios se inicia e enquanto toda a confusão está armada, muitas almas são arrastadas para o portal por alguns demônios enquanto outros distraem os guardiões da cidadela. Você é um destes que são arrastados para o portal negro que de certo leva para um destino ainda pior que a própria Muralha das Lamentações. Quando você está a poucos passos do portal, você vê alguém se aproximar, um homem. Ele é alto, veste-se com um manto finamente decorado, seu rosto lhe é estranhamente familiar embora você não lembre ao certo quem ele seja. O homem abre sua boca e dela saem palavras ininteligíveis de poder enquanto ele aponta suas mãos para os demônios que o arrastam e as demais almas.

Relâmpagos saltam de seus dedos e dançam por entre os demônios que gemem e gritam tomados pela dor e fúria. As criaturas soltam as almas capturadas incluindo você e correm para atacar o estranho. Em resposta o homem levanta seus braços para o céu e então parte dele se torna vermelho, segundos depois você vê o armagedom despencar na forma de uma chuva de meteoros devastadora que pulveriza todos os demônios mas só não o destrói por você já estar morto. Mas mesmo sem poder ser destruído você sente toda a dor de ser esmagado por uma rocha imensa e por um momento você passa a compartilhar o sentimento de ódio que os demônios sentem por aquele estranho. Uma fração de segundo se passa e você está no chão cristalino, caído e tomado pela dor de ter sentido seu corpo ser pulverizado. Então você sente uma mão tocar-lhe e escuta outras palavras ininteligíveis. As trevas novamente dominam sua consciência.

A luz volta a brilhar em sua face e junto dela um sentimento de aconchego, você percebe onde está. Deitado em uma cama dentro de um quarto pequeno de paredes brancas, mas finamente mobiliado com móveis cuidadosamente arrumados de forma a aproveitar todo o espaço. Você se senta sobre seu leito e olha ao redor, as paredes do quarto são feitas de uma rocha que lembra cerâmica, mas ao contrário desta é áspera como uma parede comum lembrando marfim. O chão é forrado por um tapete azulado com o desenho de estrelas douradas. Em uma parede um armário e na outra uma mesa com uma cadeira. Você vê também que o quarto tem uma janela e uma porta, no teto um lustre de ouro com diamantes incrustados reluz sem precisar de fogo.

Você sabe o nome da cidadela onde estava, a Cidadela do Julgamento, você sabe o nome para onde as almas que aceitavam as ofertas dos diabos eram levadas, o Inferno. Você sabe para onde os demônios o levariam se o estranho homem não tivesse aparecido, o Abismo. Mas pela primeira vez após a sua morte você não sabe dizer onde está.

Informações:

Spoiler:

Tenkai, você desperta confuso de seu leito e se levanta tentando entender tudo o que aconteceu com você e tudo o que está acontecendo agora. Buscando conhecer onde está você naturalmente se dirige até a janela e percebe que ela não está trancada. Você a abre e o que vê ao fazê-lo...

"THE GRAY WASTES OF HADES
It is where evil springs eternal.
It is a plane of endless apathy and despair.
It is the great battlefield of the Blood War.
Hades sits at the nadir of the lower planes, halfway between two races of fiends each bent on the other’s annihilation. Thus, it often sees its gray plains darkened by vast armies of demons battling equally vast armies of devils who neither ask nor give quarter. If any plane defines the nature of true evil, it is the Gray Waste.
In the Gray Wastes of Hades, pure undiluted evil act as a powerful spiritual force that drags all creatures down. Here, even the consuming rage of the Abyss and the devious plotting of the Nine Hells are subjugated to hopelessness. Apathy and despair seep into everything at pole of evil. Hades slowly kills a visitor’s dreams and desires, leaving the withered husk of what used to be a fiery spirit. Spend enough time in Hades, and visitors give up on things that used to matter, eventually giving in to total apathy.
Hades has three layers called “glooms”. Uncaring malevolence that slowly crushes the spirit permeates each gloom."

Cinza, é tudo o que você vê, não importando para o lado que olhe tudo o que você consegue distinguir são tons de preto, branco e cinza. Você percebe estar no alto de uma torre de muitos andares e diante dela uma planície infindável dominada por um deserto de areias cinzas até onde a vista alcança. Aqui não há sol, lua ou estrelas acima, apenas uma luz cinzenta emanando do céu. Em alguns pontos da paisagem você consegue ver o que parecem ser exércitos de abissais batalhando entre si formando conflitos de escalas épicas. Mesmo distante deles você consegue ouvir os sons de gritos, de armas se cruzando, garras cortando carnes e explosões ecoando por toda parte. As únicas cores que momentaneamente quebram o padrão cinza deste mundo são os tons de vermelho, amarelo, laranja ou azul que momentaneamente surgem quando algum demônio dispara uma bola de fogo ou relâmpago em meio ao furor da guerra.

Você se vê surpreso diante do que seus olhos enxergam, a visão o estarrece por alguns momentos enquanto você tenta entender o que está acontecendo. Você também sente como se a radiação cinza que reluz por toda a paisagem penetrasse em seu ser, você começa a se sentir desanimado, cansado, pensa em simplesmente se deitar e desistir de tudo. Sem aviso nenhum uma mão pousa sobre seu ombro e gentilmente o puxa para trás afastando-o da janela, você se deixa levar por alguns segundos por estar em transe. Quando se recupera você vê um homem fechando a janela onde você estava.

O homem tem a pele clara, olhos castanho-escuros, cabelos pretos e curtos, ele é alto e tem ombros largos. O homem veste-se com um manto em tons de azul e dourado finamente decorado com incontáveis joias de todos os tipos costuradas por toda a parte. Você estipula que apenas as vestimentas desse homem seriam o suficiente para comprar todo um reino. Finalmente você consegue se recuperar da surpresa e percebe quem está a sua frente, Aldarion.

– Al-aldarion? – Você pronuncia confuso.

– Quase isso. Me chamo Kalahan Ironshield e Aldarion é meu irmão gêmeo. – Diz o homem. – Seja bem vindo ao meu humilde lar.

– Onde estou? Que lugar é esse? O que estou fazendo aqui? – Você questiona confuso.

– Como lhe falei, você está em meu lar a Torre de Marfim. O mundo onde estamos agora se chama Hades e você está aqui porque foi assassinado e sua alma foi condenada a definhar no Muro das Lamentações. – O homem explica enquanto se dirige até a cadeira sentando-se nela. Você permanece de pé.

– Você me trouxe até aqui? – Você pergunta. – Por quê? Por que me livrou de minha sentença?

– Sim eu o trouxe aqui, Enkinomiruni, seu mundo precisa de você. Você viu os demônios e diabos batalhando lá fora? Eles estão lutando uma guerra que chamam de Blood War.

– Blood War?

– Sim, uma guerra que começou desde que o mal é mal, uma guerra do mal contra o mal pelo controle absoluto do multiverso. Seu mundo, Enkinomiruni, nesse momento está caminhando para se tornar mais um dos campos de batalha desta guerra sangrenta.

Kalahan termina de falar e fica observando você, seu rosto sério tomado por uma expressão indecifrável enquanto seus olhos pareciam observá-lo com uma estranha curiosidade.


Informações:

Spoiler:

Kalahan ouviu todas as perguntas de Tenkai com atenção, depois de um tempo se cansou e levantou a mão fazendo sinal para o elfo parar.

– Pelos deuses! Não é porque você não respira mais que precisa falar ininterruptamente! Tenha calma eu responderei a todas as suas dúvidas até porque não quero que você morra, correção, não quero que você deixe de existir. – Kalahan falava de uma forma divertida, mesmo a situação sendo muito séria.

– Enkinomiruni não é seu nome de batismo mortal, é seu nome verdadeira que os deuses lhe deram. É assim que o universo conhece você e te chama e é graças ao fato de eu conhecer seu nome que consegui te salvar.

– O true name, como nós chamamos nos Outer Realms, possui grande poder e você não pode revelá-lo a ninguém. Se alguém souber seu True Name poderá controlar sua alma. Seu verdadeiro nome de batismo mortal não é Tenkai e você logo deve se lembrar dele.

– O que está havendo Enkinomiruni, é bem simples. Os "demônios" na verdade se dividem em duas raças, os demônios propriamente ditos e os diabos. Os demônios vêm das infinitas camadas do Abismo enquanto os diabos vêm dos Nove Infernos. Para facilitar sua compreenção, os demônios são na verdade chamados tanar'ri e os diabos baatezu.

– Essas duas raças de monstros estão em guerra desde o princípio da existência, uma guerra conhecida como Blood War, uma guerra pelo controle do mal absoluto e do multiverso. E Lodoss está prestes a ser engolida por esta guerra.

Agora Kalahan ficava de pé se dirigindo até a janela e abrindo-a. Tenkai podia ver os incontáveis exércitos de demônios e diabos batalhando ao longo do deserto de areias cinzas.

– Para cada monstro morto, outros logo surgem para tomar o seu lugar o que dá a esta guerra um certo equilíbrio. Um equilíbrio que pode ser quebrado. É ai que Lodoss entra na história. Se os demônios conseguirem dominar Lodoss vão devorar todas as almas que vivem ali e arrastar o mundo inteiro para o Abismo, no final das contas a ilha inteira será transformada em uma das camadas incontáveis. Ou... Se os diabos vencerem, Lodoss virará a décima camada do inferno e estará para sempre aprisionada no Baator.

– Você e seus companheiros, até mesmo suas assassinas, são as ultimas esperança de Lodoss. Nesse momento todos aqueles mais poderosos que vocês estão sendo atacados e sendo distraídos. O fato de vocês serem fracos é o que faz com que possam agir sem chamar a atenção. Entendeu?

– E sobre Takaras... Essa porra toda começou lá, mas isso não vem ao caso agora. O que eu quero é que você saia de Hades. Pra isso você vai precisar alcançar o Rio Styx e navegar por ele através dos nove níveis do Baator.

Kalahan fechou a janela e olhou para Tenkai.

– E sobre seu braço... Bom... Você morreu, seu corpo agora é na verdade seu espírito. Não importa quantas vezes você se machuque sempre irá se curar. Existem casos raros que quebram essa regra, mas não se preocupe muito com isso, preocupe-se apenas em conservar sua energia porque sem ela você não é nada.

– Mais alguma dúvida?

– Me escute com atenção. Os deuses estão te olhando, você terá uma segunda chance em sua existência de refazer sua vida. Encare sua morte positivamente, graças a ela você pode se lembrar quem realmente é. Eu te guiarei para que você tenha a oportunidade de renascer. O caminho que você irá seguir é longo e extremamente perigoso, mas os prêmios que o aguardam no fim compensarão o esforço.

– Os deuses têm uma mensagem para você, eles me disseram que irão lhe dar o direito de viver novamente, mas para isso você deve se mostrar merecedor. Você deverá passar uma série de desafios para poder ter o direito de renascer e recuperar sua identidade, Enkinomiruni. O primeiro desafio está aqui, em Hades, você deve viajar por todos as três melancolias deste mundo e sobreviver ao mal que irradia daqui.

– Você deve partir e cruzar as planícies cinzentas de Hades, tome muito cuidado quando viajar por essas terras. Hades é um mundo de natureza maligna e pouco a pouco irá destruir sua força de vontade e suas motivações transformando sua alma em uma casca vazia e apática. Se isso acontecer sua alma virará uma larva e servirá de comida para seres mais poderosos.

– Para impedir que Hades te domine, você deve viajar o mais rápido possível para sair daqui e enquanto o fizer não pode deixar de negar seus sentimentos. Eles é que te salvarão da perdição infinita, do desespero e da apatia profunda. Você deverá cruzar os três andares de Hades, chamados de melancolias. A primeira melancolia é onde estamos e se chama Oinos, aqui é o principal campo de batalha da Blood War. Seu principal desafio nesta melancolia é conseguir sair ileso, portanto haja o que houver não pare por nada, não se envolva nos combates. Se você ajudar um tanar’ri todos os baatezu virarão seus inimigos e se você ajudar um baatezu todos os tanar’ri virarão seus inimigos. Custe o que custar não participe da Blood War.

– Assim que você sair de minha torre viaje a toda velocidade em direção ao leste. Você está morto então não precisa dormir, comer ou fazer coisas do gênero. Mas tome cuidado, se você se esforçar demais poderá perder parte de sua energia, então fique atento quando começar a se sentir cansaço tenha em mente que não é um cansaço físico, mas sim espiritual. Dentro de uma semana você deverá alcançar o rio Styx, ele é inconfundível, um rio que em lugar de água é feito de sangue puro. De forma alguma você deve beber do sangue desse rio ou mergulhar nele, se o fizer será o seu fim.

– Ao longo do rio você encontrará inúmeros barqueiros, dê a um deles uma moeda de cobre e ele te levará para a segunda melancolia, Niflheim. Uma vez que você esteja lá eu aparecerei novamente e te darei novas instruções.

Kalahan parou de falar e estalou os dedos, a porta do quarto se abriu e através dela passou um ser humanóide que adentrou o recinto. A criatura era na verdade um constructo, uma espécie de homem mecânico, um golem de ferro. Ele trazia em suas mãos uma mochila e uma espada. Sem dizer uma palavra ele entregou os objetos para Kalahan e saiu sem dizer uma palavra fechando a porta atrás de si.

– Dentro desta mochila você vai encontrar algum dinheiro, um mapa, mudas de roupas e alguns equipamentos. E essa espada... Ela seguiu sua alma, existe algo de especial nela que me faz ter um desejo irracional de entregá-la a você. Tome.

Kalahan entregou a mochila e a espada para você e no momento que você tocou na espada sentiu uma sensação de carinho e conforto. Curioso você retirou a arma da bainha e percebeu, para a sua surpresa ser a espada que Iolavos havia te dado, a espada com o espírito de uma elfa apaixonada.

– Essa é uma arma interessante que possui muitos poderes escondidos. Infelizmente eu não tive tempo de analisar melhor a arma para descobrir tudo o que ela tem, mas consegui desvendar seu verdadeiro nome. Chama-se Yllefania.

O mago parou de falar e ficou alguns segundos o observando, seu olhar acompanhava seus movimentos e seu rosto emoldurava-se com uma expressão misteriosa e indecifrável.

– Já é hora de você partir, e lembre-se, não deixe Hades te dominar. – Disse Kalahan sem lhe dar chance para mais perguntas. Ele estalou os dedos e então uma luz cegou seus olhos, quando você recuperou a visão segundos depois estava do lado de fora da torre do mago.

A sua frente você podia ver melhor a Torre de Marfim, ela era alta e larga chegando a ter dez andares. Muitas janelas apareciam por toda a torre, mas você não conseguia ver nenhuma porta. Em uma dessas janelas, no quinto andar, estava Kalahan observando-o. Você olhou para ele que em resposta o olhou de volta.

– Aproveite o passeio turístico! HAHAHAHAHA! – Em seguida o misterioso mago simplesmente entrou fechando a janela no processo. Agora que você estava do lado de fora da torre podia ver melhor alguns detalhes que antes você não havia notado.

Ao redor da torre haviam centenas de corpos de criaturas de muitos tipos, você logo deduziu que eles haviam atacado a Torre de Marfim e foram mortos. Entre os corpos estavam criaturas de aparência horripilante que você jamais havia visto, ou melhor, que você agradecia por estarem mortas. Eram de fato muitos corpos, uma marca nefasta do poder de Kalahan. Você se virou para trás e viu a paisagem que se estendia a sua frente, você conseguia ver espalhadas por toda a planície existiam árvores esparsas, todas negras, retorcidas e desprovidas de folhagens.

Em diversos pontos você também conseguia ver exércitos de monstros lutando entre si em batalhas horríveis com escalas épicas. Sons de dor, gritos de guerra, explosões e armas se cruzando ecoavam por toda parte. Mas pior do que isso era o desânimo que você sentia, uma tristeza, uma angústia. Você sente fraco perante tudo aquilo, incapaz de vencer os desafios que estão diante de você. Você não tem a mínima vontade de continuar com isso e pensa que talvez seja melhor voltar a torre de Kalahan e tentar encontrar uma entrada, talvez o mago aceite ter você como um servo ou guarda pessoal.

Informações:

Spoiler:

Por um momento você deixou os sentimentos de desespero e desesperança dominarem seu coração. Mas assim que começou a andar em direção a torre de Kalahan, você teve a impressão de que a espada lhe falou algo. Mas logo você se deu conta de que foi apenas a sua própria consciência lhe pregando um truque. Você passou por um grande sofrimento e com certeza sua mente ainda está lhe enganando. Quer isso seja verdade ou não, foi o puxão necessário para te colocar novamente no caminho certo.

De volta a viagem, você decidiu aproveitar que seu corpo não se cansa para iniciar uma corrida em direção ao seu destino. Já que você está morto mesmo e não precisa comer, beber ou descansar, por que perder tempo viajando ao passo de caminhada normal? Infelizmente sua atitude embora tivesse certa lógica, não era a correta a se tomar em Hades.

Quando se viaja devagar você presta mais atenção ao que está ao seu redor e chama menos atenção. Quando você corre, a sua percepção das redondezas diminui, além disso, você passa a chamar mais atenção. E foi justamente o que aconteceu, em sua pressa para sair de Hades você correu e correu, quando se deu conta percebeu que um grupo de criaturas começaram a correr atrás de você, eram ao todo 5 monstros horrendos que mais pareciam terem saído de um pesadelo.

Eles gritavam, rosnavam e apontavam pra você vociferando palavras em um idioma desconhecido. A linguagem das criaturas era tão asquerosa que mesmo você não entendendo o que elas diziam, você considerava os sons das palavras delas repugnantes. Não era como ouvir o nobre idioma élfico onde as palavras parecem que são cantadas ao serem pronunciadas e até mesmo um insulto pode soar agradável aos ouvidos de um estranho que não conhece o idioma. Mas aquilo não importava, o que quer que aqueles monstros estivessem falando não parecia ser coisa boa.

A princípio você decidiu continuar correndo acreditando ser capaz de deixar os monstros para trás. No começo pareceu que seu plano estava dando certo e os monstros estavam ficando para trás, mas para a sua infelicidade isso não passava de um engano. Na verdade os monstros estavam brincando com você o tempo inteiro e quando se cansaram simplesmente se começaram a correr mais rápido até alcançá-lo.

Certo de que você não conseguiria mais escapar das criaturas, você sacou Yllefania e se preparou para o pior. Agora que as criaturas estavam mais próximas você conseguia distingui-las melhor. Todos eles não mediam mais do que um humano normal mediria e eram todos humanóides, mas as similaridades com a raça humana acabavam ai. As criaturas exalavam podridão, um cheiro fétido que mais parece ser uma mistura de fezes com carne podre. Seus corpos de estatura esquálida eram recobertos por uma pele negra e coriácea que parecia gotejar uma espécie de óleo negro e asqueroso. Atrás de suas orelhas pontiagudas, um grande chifre curvado se projetava para frente saindo da parte posterior do crânio. As mãos das criaturas são terminadas em garras afiadíssimas do tamanho de adagas, uma boca repleta de dentes pontiagudos ocupava metade da cabeça dos monstros.


Eram ao todo seis monstros, todos ávidos para trazer a sua destruição. Você assume sua posição de guarda e os monstros aproveitam sua vantagem numérica para começar a cercá-lo antes de atacá-lo. Você olha para eles e eles o olham de volta e tudo o que você vê é a mais pura crueldade refletida nos olhos negros dos monstros. Mas mais assustador que isso é a forma como eles se comportam, parecendo a todo momento estarem brincando com você emitindo silvos asquerosos que se assemelham a risadas.

Você rapidamente analisa suas opções, você pode tentar enfrentar todos os seis monstros sozinho, ou pode tentar correr para perto de um campo de batalha onde dois exércitos de monstros se matam em uma batalha de proporções épicas. Você sabe que as duas opções são extremamente perigosas, mas você não tem muita escolha uma vez que correr não é uma opção. A medida que raciocina você começa a se sentir desesperado, não parece que você terá qualquer chance de vencer esses monstros, talvez haja uma terceira opção. Talvez se você se render e tentar conversa com eles e explicar que você não tem nada haver com toda aquela guerra você tenha alguma chance.

Enfrentar seis criaturas sozinho ou se entregar a um campo de batalha sangrento na esperança de despistar seus perseguidores parecem opções suicidas. Você começa a pensar que a rendição e a conversa são suas melhores opções, esses monstros são visivelmente inteligentes e certamente poderão entender seu lado e deixar que você continue sua jornada. Isso se você conseguir falar com eles.

O que você vai fazer? Correr para o campo de batalha, enfrentar todos os seis monstros sozinhos ou tentar conversar com eles por meio da rendição?


Instruções:

Spoiler:

Motivado pelo seu desespero momentâneo, você tentou intimidar as criaturas usando o nome de Kalahan. A reação dos monstros foi no mínimo curiosa, primeiro eles pararam seu avanço, depois se entreolharam e seus rostos disformes parecem expressar algo próximo a dúvida. Segundos depois todos eles olharam para você com um brilho cruel nos olhos.

– Você é amigo do Planeswalker? – Disse um dos monstros com sua voz aguda e estridente. – Isso só nos deixa com mais vontade ainda de estuprá-lo. Ou seria estripá-lo? Que tal os dois? Hihihihihihihi. – Ria a criatura asquerosamente. – Dizem que elfos não tem pinto, já que você não tem nada entre as pernas não vai se importar se fizermos um buraquinho né? HIHIHIHIHIHIHI – Dizia o monstro apontando para a sua virilha e gargalhando junto aos demais.

Mal a criatura terminou de falar e todos avançaram em sua direção ávidos pela sua carne. Você sentiu o medo, o desespero e o pavor esmagarem sua força de vontade como um rolo compressor. Era o fim, certamente você morreria ali, mas se fosse para morrer você o faria lutando.

Armado com a poderosa Yllefania, você avançou em direção ao primeiro monstro aplicando um golpe de ponta, a criatura tentou saltar para frente, mas sua espada o acertou em cheio atravessando-o na altura do estômago. Você tentou fazer força para girar o monstro e jogá-lo em cima dos outros, mas não conseguiu. Em lugar disso você puxou sua espada para a lateral abrindo um corte em forma de L. Sangue e tripas se espalharam pelo chão de areias cinzas como um banquete ao vermes. A criatura caiu morta imediatamente. Parte deste sangue e da gosma avermelhada que cobria o corpo da criatura respingou em seu corpo e logo você percebeu o que era aquilo – ácido. Por sorte a quantidade de ácido que respingou em você não era suficiente para lhe causar nada mais do que um grande incômodo.

Mas não havia tempo para se dar ao luxo de se deixar atordoar pela dor, cinco outras criaturas vinham em sua direção. O primeiro se aproximou pela sua lateral esquerda tentando acertá-lo com as garras, mas você saltou para frente escapando do ataque por pouco. O segundo monstro veio pela direta e você habilmente conseguiu usar sua espada para aparar as garras da criatura. Você era rápido, mas eles eram cinco e o terceiro monstro aproveitou para atacá-lo pelas costas enquanto você ainda estava ocupado defendendo-se da segunda criatura.

Um grito de dor escapou de sua garganta a medida que garras afiadas cheias de ácido abriam cortes em suas costas. Os cortes começavam na altura do pescoço e iam até seu quadril, a dor era imensa. Você cambaleou para frente e se colocou em guarda novamente lutando contra a dor de sentir o ácido comer sua carne, os monstros riam de você parecendo estarem se divertindo, se eles quisessem poderiam tê-lo matado naquele momento. Por sorte o ácido apesar de potente era de ação rápida e em poucos segundos deixou de dissolver sua carne deixando suas costas sem armadura e em carne viva. Seu sangue fluía farto pelos cortes sujando todo seu corpo da cintura para baixo.

Você precisava pensar em uma forma de escapar, aqueles monstros certamente o destruiriam e esta era sua última chance de reviver para salvar Lodoss. Você amaldiçoou Sabrina e Silméria ao se lembrar de que elas eram as responsáveis por você estar ali. Foi quando você escutou uma trombeta soando em algum lugar e em seguida sentiu o solo começar a estremecer. Você e os monstros pararam o que estavam fazendo e olharam ao redor procurando a causa do ruído. Quando você e eles se deram conta, perceberam que uma horda de minotauros avançava a toda velocidade em um ataque de carga. Todos os minotauros eram enormes medindo facilmente 3 metros de altura, seus chifres eram enormes, sua pelagem vermelha, seus cascos negros e seus olhos brilhavam com um vermelho vivo. Cada um dos minotauros trazia em suas mãos enormes machados, armas tão grandes que um único golpe te dividiria ao meio.

E lá vinham eles a toda velocidade, milhares deles, em direção a onde você e os monstros estavam. Você esqueceu completamente os monstros que estava enfrentando, e eles esqueceram você. Em um piscar de olhos eles desapareceram em pequenas nuvens de fumaça negra teleportando-se para longe em segurança fora do alcance do perigo e da sua visão. Desesperado você se virou para tentar fugir e quando o fez percebeu que do outro lado vinha outro exército igualmente enorme. Este, no entanto não era composto por minotauros, mas sim centauros. Estes centauros eram muito diferentes dos centauros de Lodoss, estes tinham os cacos negros, a pele esverdeada e os olhos amarelos. O pelo de sua parte de cavalo também era negro, eles usavam ao longo do corpo peças de armaduras preparadas para a anatomia deles. Além da aparência diferente eles eram maiores também medindo cerca de dois metros, todos eles usavam enormes lanças de ponta serrilhada, todas apontadas para frente. Ao contrário dos minotauros, os centauros pareciam mais organizados e mesmo em seu avanço ganhavam terreno em formação.

Os dois exércitos avançavam em disparada um contra o outro e você estava no exato ponto onde eles se encontrariam. Certamente você seria reduzido a pasta de elfo se ficasse ali, então você fez a única coisa sensata a se fazer – correu. Você correu para a frente tentando sair do meio das duas massas que estavam prestes a se chocar, correu como se sua existência dependesse disso, porque na verdade ela dependia mesmo. O problema era que os exércitos eram enormes e a distância que eles cobriam era muito larga. Você não conseguiria escapar a tempo, mas pra sua sorte você encontrou três grandes pedregulhos enormes. Os pedregulhos estavam encostados um no outro de forma que o meio deles ficasse com uma fresta estreita o suficiente para permitir a passagem de um humanóide. Você não pensou duas vezes e se enfiou ali no meio bem a tempo de escapar do choque dos exércitos de centauros e minotauros.

Você viu com espanto e pavor o exato momento do choque dos dois exércitos, centenas de monstros morreram naquele momento. Centauros voavam pelo ar como bonecos jogados por uma criança malcriada enquanto minotauros caiam empalados pelas terríveis lanças. A batalha continuou e você percebeu que atrás das massas de centauros e minotauros vinham exércitos de monstros. De um lado, da onde vieram os centauros, você viu falanges de diabos marchando sendo lideradas por criaturas enormes que pareciam serem os generais daqueles exércitos brutais. Do outro lado você viu hordas de demônios avançando desgovernadas enquanto criaturas igualmente enormes aos generais inimigos chicoteavam as tropas com seus chicotes flamejantes de forma a acelerar o avanço.

Uma guerra havia acabado de explodir naquela planície e você estava bem no meio dela. Você precisava sair dali custe o que custar, não podia se dar ao luxo de permanecer muito tempo em Hades. Lutando contra a tentação de permanecer escondido você saiu da fresta entre as rochas e tentou atravessar o campo de batalha torcendo para não ser notado, era o único jeito. Você olhou e viu que aquilo parecia um pedaço do inferno. Monstros horríveis lutavam entre si, corpos desmembrados e destroçados se espalhavam por toda parte. Magos infernais trocavam magias lançando relâmpagos e bolas de fogo para todos e por todos os lados. Explosões de chamas infernais detonavam por toda a parte e as vezes você se via forçado a se esquivar de projéteis disparados por balistas e catapultas infernais.

Você começou a correr no campo de batalha tomando o cuidado para não chamar a atenção, às vezes um ou outro combatente se virava para atacá-lo e você logo se defendia e continuava sua corrida para sair daquela matança. Parecia que no meio daquele caos ninguém estava prestando atenção em você. Em uma parte do trajeto um ser que parecia um humano completamente envolto em mantos negros escolheu você como alvo e partiu para cima. Ele vinha correndo a sua frente com uma foice serrilhada em punhos.


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Você sabia que não podia se dar ao luxo de se envolver na querela que explodia ao seu redor, você sabia que não poderia perder tempo ali e por isso decidiu agir de forma evasiva quando a figura humanoide completamente coberta por um manto negro se aproximou para atacá-lo com uma foice. A princípio você pensou em realizar uma manobra, mas quando a figura se aproximou e começou a atacá-lo, você percebeu que seria impossível seguir com seus planos porque a velocidade de ataque dele era absurdamente alta. Mal você se esquivava de um ataque da foice sedenta pelo seu sangue e ele já vinha com outro golpe.

Um, dois, três, quatro, cinco golpes e a sequência ia aumentando sem que você não pudesse fazer nada além de simplesmente se esquivar. Cedo ou tarde ele te acertaria com a arma dele naquele vendaval de golpes e graças ao alcance superior da arma do adversário você não conseguia se aproximar dele para atacá-lo com sua espada. Inteligentemente você decidiu que quebraria a sequência de golpes do adversário usando seu próprio ataque, foi o que você pensou e foi o que você fez. Quando a sequência de golpes chegou ao oitavo ataque você atacou ao mesmo tempo que o oponente, sua espada colidiu com a lâmina da foice e isso fez com que o golpe do seu adversário perdesse força e estabilidade. A manobra criou uma brecha na sequência de ataques e você agiu com velocidade saltando para frente e acertando-o com um poderoso chute na altura do estômago antes que seu inimigo pudesse se recuperar.

A figura negra foi pega completamente desprevenida pela sua manobra, a força do seu chute o fez cambalear para trás e se desequilibrar caindo ao tropeçar em um dos corpos que estavam espalhados no chão. Você aproveitou o resultado e tratou de continuar com sua corrida desesperada para fora daquele combate, mas seu oponente não estava disposto a desisti de você tão facilmente. Felizmente para a sua sorte no momento que ele se levantou e começou a correr atrás de você um monstro o atacou o que fez com que ele o esquecesse para se defender do novo oponente que era muito maior, mais forte e ameaçador que você.

Você continuou sua corrida evitando combates e tentando não chamar a atenção, infelizmente nem todos ali estavam dispostos a ignorá-lo. Desta vez quem decidiu atacá-lo foi uma dupla de guerreiros infernais, um deles armado com um enorme mangual estrela e o outro com uma espada de duas lâminas, ambos usavam armaduras negras completas e seus elmos lembravam o rosto de um demônio. Os guerreiros se aproximavam pela sua lateral e se você decidisse simplesmente correr e ignorá-los eles te acertariam cedo ou tarde. Caberia a você decidir o que fazer para lidar com aquela situação. Seja como for, você já conseguia ver o fim do campo de batalha e se conseguisse vencê-los ou escapar deles, você estaria livre daquele inferno.


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Tenkai viu os dois inimigos se aproximando e rapidamente criou um plano inteligente e perigoso para se desvencilhar de seus inimigos. Mas existia um problema, ambos os inimigos eram ligeiramente mais rápidos que o elfo, mesmo que estivessem usando armaduras de batalha completas o que apenas servia para atestar a enorme força que tinham. Por mais que se acelerasse em sua corrida, não conseguia se afastar de seus inimigos ou controlar suas posições. Ambos os guerreiros infernais se aproximavam pelos flancos ameaçadoramente.

O guerreiro que usava o mangual, começou a girá-lo de um lado a outro formando um redemoinho de bolas de ferro e correntes, o guerreiro que usava a espada de duas lâminas fez algo parecido girando a arma em frente ao seu corpo criando uma mortífera hélice infernal. Em poucos segundos eles chegariam em Tenkai e transformariam o elfo em purê de carne. Percebendo que não conseguiria realizar seu plano, Tenkai se colocou a pensar para encontrar uma nova solução, foi quando olhou para baixo e a encontrou.

Caída a seus pés estava a alabarda de um soldado derrotado, Tenkai não pensou duas vezes, guardou Yllefania e pegou a alabarda. Com a arma em mãos a utilizou para atacar o guerreiro de mangual desferindo um poderoso golpe horizontal com a lâmina da arma. O guerreiro prontamente defendeu com sua própria arma bloqueando completamente o ataque do elfo, com a ação seu mangual parou de girar e se enroscou na lâmina da alabarda travando a arma. O guerreiro então usou sua tremenda força para puxar a alabarda das mãos de Tenkai que já estava pronto para isso.

Quando o guerreiro de mangual fez seu movimento para desarmar Tenkai, o elfo dobrou os joelhos e saltou de forma a usar a força do puxão a seu favor. A manobra foi perfeita, o elfo foi puxado junto com a arma e conseguiu se aproximar do guerreiro de mangual bem a tempo de esquivar-se da lâmina do segundo agressor que já havia se aproximado dele. Tenkai apenas sentiu a hélice mortal girar atrás de si. Próximo ao guerreiro, Tenkai sacou Yllefania e desferiu um poderoso golpe mirando a cabeça enquanto o inimigo ainda desenroscava o mangual da lâmina da alabarda.

O golpe atingiu em cheio o guerreiro e apesar de seu elmo tê-lo protegido, a força do golpe contra a sua cabeça deixou-o atordoado fazendo-o cambalear para trás. Tenkai aproveitou que não estava mais cercado e aproveitou para fugir. O guerreiro que usava a espada de duas lâminas tentou perseguir sua vítima, mas mais uma vez para a sorte de Tenkai outro monstro apareceu atrapalhando os planos do agressor e deixando o elfo livre para fugir. Tenkai correu pelo restante do campo de batalha até finalmente se ver livre daquela chacina.

Ele estava novamente diante da vastidão cinzenta de Hades, ao longe ele conseguia ver um brilho que se destacava na paisagem cinzenta, um brilho laranja que chamava a atenção em um mundo que parecia ser completamente cinza. Tenkai deveria decidir se iria até esse brilho ou se continuaria sua viagem para a direção que Kalahan havia indicado.

Apesar de sentir sua curiosidade se aguçar com o avistamento da luminosidade laranja, Tenkai decidiu continuar sua viagem para o leste. Graças ao ataque dos babaus Tenkai havia aprendido que precisava ser mais furtivo, e assim ele continuou viajando agora ao passo de caminhada. As vezes quando avistava algum monstro ou exército passando pelas planícies cinzentas de Hades, Tenkai se abaixava e escondia-se.

Mesmo não estando em nenhuma batalha ele podia ouvir os sons de incontáveis combates eclodindo por toda parte. As vezes se prestasse atenção conseguiria ver exércitos lutando entre si em escalas épicas, Tenkai logo percebeu que para os padrões daquele lugar, a batalha do qual ele havia escapado era considerada de proporções pequenas se comparada a algumas que ele conseguia ver de longe.

Seja como for, Tenkai continuou seu caminho da forma mais furtiva que conseguia. Três horas se passaram e Tenkai começou a ouvir gritos, a princípio ignorou acreditando serem os gritos advindos de mais uma batalha que acontecia ali perto, mas depois de um minuto ele percebeu que os gritos eram todos femininos. Os gritos pareciam vir de um ponto próximo atrás de uma grande duna, Tenkai decidiu que iria lá apenas para olhar e ver o que estava acontecendo.

A visão o surpreendeu, ele viu uma linda mulher amarrada em uma das árvores negras e retorcidas de Hades, ao redor dela haviam 3 sujeitos humanoides, os três pareciam se divertir com a mulher que estava completamente indefesa. Tenkai ficou curioso com aquela cena e resolveu se aproximar mais mantendo uma distância segura para não ser visto, ele pretendia ouvir o que eles falavam.

Ao se aproximar notou que os 3 homens tinham um par de pequenos chifres que surgiam em suas testas, de resto eles pareciam completamente humanos. Todos os três vestiam armaduras de couro negro e carregavam espadas bastardas nas costas. A mulher por outro lado parecia ser completamente humana, ela tinha longos cabelos negros e lisos que caiam até suas costas e sobre seus seios, sua pele era clara e da onde Tenkai estava ele conseguia ver os olhos dela, eram olhos verde-esmeralda belíssimos. A mulher tinha um corpo perfeito, escultural, vestia-se com um manto todo ornamentado com desenhos de estrelas e luas, seu manto, no entanto estava aberto na altura dos seios e estes saltavam para fora ficando completamente a mostra. Os três homens riam enquanto se revezavam para chupar os seios da mulher que gritava desesperada.

– Grite mais meu amor, pode gritar. Quanto mais você resistir mais vai doer, nós ainda nem começamos nossa diversão. – Disse um dos homens antes de dar uma mordida que arrancou sangue do seio da mulher fazendo-a gritar de dor e chorar.

– Você é uma feiticeira bem fraquinha, vamos abusar do seu corpo e devorar sua alma. – Disse o segundo homem que se aproximou da mulher e começou a deslizar suas mãos para baixo do manto de sua vítima.

Caberia a Tenkai decidir se faria algo a respeito da quilo, para bem ou para mal, ou se simplesmente iria embora e continuaria seu caminho.

A investida de Tenkai fora perfeita e eficiente. Antes que se dessem conta dois dos homens-demônio já estavam no chão, um sem a cabeça e outro com um corte enorme na barriga por onde saiam suas tripas. Tenkai ficou coberto de sangue, mas não cessou seu avanço.

O ultimo inimigo tentou levar sua mão até a espada mas não teve tempo, Tenkai fora mais rápido e cortou-lhe o braço fora. Mas o inimigo não teve tempo de se lamentar, o elfo já emendou um segundo ataque e o espetou na altura da barriga.

Com os três demônios destruídos, Tenkai estava livre para libertar a bela e jovem feiticeira. Assim que ele o fez ela cobriu suas partes íntimas que estavam a mostra e se recolheu inteira como uma criança assustada no pé da árvore. Visivelmente ela estava apavorada e assustada com Tenkai.

- Na-na-não se aproxime de mim. Por-por-por favor! - Murmurou ela aos soluços.

A mulher estava muito ferida, mas era incrivelmente bela, parecia que ela havia vindo de um mundo de beleza e inocência o que fazia Tenkai pensar. Se esistêm demônios, por que não anjos?

OFF: Desculpa a demora pra postar. Bom, estamos postando mais rápido que o normal. E sobre o post ser pequeno, desculpa também é que dessa vez não posso controlar as ações do seu personagem porque você mesmo terá que decidi se seguirá seu caminho sem a garota ou vai tentar salvá-la.

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Tenkai mostrava-se complacente com a mulher, mas esta estava apavorada e mesmo o elfo tendo a ajudado, ela se recusava a se aproximar dele. Quando Tenkai deu um único passo a frente para jogar a roupa para ela, a mulher deu um grito de susto e começou a correr na direção oposta. Corria de forma cambaleante demonstrando estar ferida, Tenkai viu a garota correr cerca de uns 10 metros até finalmente cair no chão inerte, parecia morta.

Um sentimento de tristeza se abateu sobre o elfo o que o fez pensar que a mulher já estava condenada, provavelmente ela estava muito ferida e incapaz de sobreviver, se já não estivesse morta morreria em poucas horas. Pior que isso, mesmo que a ajudasse e a salvasse de alguma forma ela representaria um atraso em sua jornada porque provavelmente teria que andar com ela. Talvez fosse melhor largá-la lá no final das contas.

OFF: Todas as falas e ações de Tenkai descritas neste post foram premeditadas com a ajuda do próprio jogador via skype.

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Mesmo Tenkai tendo salvado a mulher e lhe oferecido ajuda, ela estava muito abalada psicologicamente e não conseguia ver no elfo um amigo. Assustada a pobre coitada correu para fugir para longe de Tenkai, mas seu estado grave a levou ao chão em poucos momentos. Tenkai se aproximou da mulher e viu que o estado dela era preocupante. Várias feridas apareciam em seu corpo, ela estava pálida o que denunciava que havia perdido muito sangue. Tenkai se abaixou ao lado dela para analisar melhor a jovem e viu que ela ainda estava consciente. Os olhos da mulher estavam entreabertos e seus lábios se moviam emitindo um sussurro.

– Me... Me ajude. Não... Quero morrer. – Disse ela com sua voz quase desaparecendo.

– O que eu posso fazer para te salvar? – Questionou Tenkai pegando a mulher nos braços.

– Sua... Energia... Me dê um pouco... Por favor. – Implorou ela.

– Minha energia? Você quer um pouco de minha energia? – Perguntou Tenkai confuso.

– Si-sim. Só um... Po-pouco.

– Como faço para te dar um pouco de minha energia? – Questionou Tenkai.

– A-aproxime-se. – Pediu a jovem abrindo a boca para um beijo.

Hesitante Tenkai aproximou seu rosto e a beijou. A sensação que ele sentiu foi uma das melhores que ele jamais havia experimentado em sua existência. Ele sentiu sua energia vital fluir através de seu corpo saindo pelo sua boca para ser absorvida pela jovem feiticeira. Tenkai imaginava que essa ação deveria ser desconfortável, mas em vez disso ele sentiu uma onda de prazer percorrer seu corpo a medida que ele doava parte de sua energia para a mulher.

Conforme a jovem ia bebendo da energia de Tenkai, suas feridas desapareciam, a coloração de sua pele ia mudando para um tom rosado e saudável. Sem se desvencilhar de Tenkai, a feiticeira se colocou de pé saindo dos braços do elfo e então o abraçou intensificando ainda mais o seu beijo o que causou arrepios por todo o corpo do elfo. Tenkai sentiu as mãos da mulher cheias de desejo percorrerem seu corpo em um abraço gostoso. O prazer daquele momento era tamanho que Tenkai por pouco não se esqueceu de cessar a transferência de energia, com muita força de vontade ele evitou que sua energia continuasse saindo pela sua boca. Mas mesmo com a transferência de energia terminada a jovem continuou beijando Tenkai por alguns segundos até que finalmente parou e se afastou dele.

A jovem parecia um pouco envergonhada, seu rosto estava corado e ela por um momento desviou seu olhar para o chão tentando esconder um sorriso tímido que surgiu em seu rosto. Finalmente ela ergueu a cabeça, estalou os dedos e suas roupas se refizeram por completo como se fossem parte de um ser vivo em crescimento acelerado. Completamente vestida ela fez uma reverência para Tenkai.

– Muito obrigada. Você salvou minha vida, agora estou em dívida com você. – Disse ela, sua voz soando de forma encantadora e suave. – Me chamo Alexandra. Posso saber o nome de meu salvador?

Os olhos da jovem brilhavam levemente revelando parte de seu poder mágico que havia sido completamente restaurado graças a boa vontade de Tenkai.

Tenkai refletiu um pouco a respeito do que responder, até que finalmente disse seu nome um pouco hesitante.

– Nossa... Você é um espírito. Você não é uma larva então... Você veio pra cá por própria vontade? – Questionou a mulher analisando Tenkai dos pés a cabeça.

– Na verdade não. Estou seguindo rumo a leste para sair daqui e tentar voltar para meu mundo. Ele está em perigo e preciso voltar. – Respondeu Tenkai olhando momentaneamente para o leste.

A reação da mulher é curiosa, primeiro ela deixa escapar uma risadinha sarcástica e então tenta disfarçar colocando a mão na boca.

– Me desculpe querido. Sem querer ser indelicada com você... Mas você está morto e não poderá retornar ao mundo dos vivos. – Explicou Alexandra. – Sair de Hades por si só é uma tarefa monumental para alguém desacostumado a viagens planares. Para um morto então é quase impossível. – Completou. – O que te faz pensar que conseguirá sair daqui?

– Morto ou não, eu irei conseguir. De uma maneira ou de outra. Eu só não posso desistir e ceder ao desespero deste lugar maldito. – Respondeu o elfo cheio de convicção.

– Eu poderia ir embora agora mesmo e voltar para meu lar. Mas seria injusta com você se fizesse isso, garças a ti eu estou viva e não apenas isso, estou com meus poderes mágicos completamente restabelecidos. Muito obrigada! – Disse a jovem com um sorriso esplendoroso. – Por ter confiado em mim e me dado parte de sua energia, eu te ofereço minha ajuda para chegar ao leste. O que me diz? – Questiona ela erguendo uma sobrancelha.

– Sua companhia é bem vinda, mas preciso que consiga me acompanhar. Não posso perder tempo. – Disse Tenkai já se colocando a andar.

– Fique tranquilo queridinho. Sou perfeitamente capaz de acompanhá-lo e de me proteger. – Respondeu a mulher se colocando a andar ao lado de Tenkai. O caminhar da jovem era gracioso, era como se ela desfilasse.

– Sou uma estudiosa dos Planos Inferiores, eu e meus colegas viemos aqui para estudar a Blood War... Mas... Fomos pegos de surpresa por batedores demoníacos e todos eles... – Ela não continuou a frase. Tenkai olhou para o rosto dela e viu uma expressão triste e então uma lágrima escorrer de um dos olhos.

– Porque fizeram uma tolice dessas? O Blood War se não me engano é uma guerra para ver quem vai ter direito de destruir meu mundo. Não posso deixar que isso aconteça. Não tente mais ir visitar guerras, não é um passeio em uma floresta com uma cachoeira cristalina, e sim um mar de sangue em volta de terror e morte. – Repreendeu Tenkai.

– Seu tolinho. A Blood War não é uma guerra para conquistar o seu mundo, mas sim todo o multiverso incluindo o mundo de onde eu venho. – Respondeu a mulher. – Aqui é o ponto central onde a Blood War ocorre, daqui ela se espalha para outros mundos. Eu e meus companheiros fazemos parte de uma divisão de estudiosos que estuda a Blood War e procura impedir que os demônios invadam nosso mundo.

– E porque insiste tanto em procurar a própria morte?

– Não me venha com seus sermões estúpidos. Já não me basta ter perdido meus companheiros e quase ter sido violentada e morta? Não viemos aqui a procura da morte, viemos aqui para proteger nosso mundos. Só um idiota tenta enfrentar inimigos que não conhece.

As palavras da jovem faziam sentido para Tenkai que por tantas vezes se pegou enfrentando inimigos com habilidades perigosas e desconhecidas.

– Nós apenas sofremos um acidente... Demos azar, essas coisas acontecem. Assim como você que morreu.

– Entendo, desculpe minha arrogância. – Desculpou-se Tenkai arrependendo-se de ter sido tão duro com a jovem.

Alexandra apenas sorriu amigavelmente acenando a cabeça positivamente.

– Você é uma alma bem poderosa, docinho. Isso é perigo para você mesmo neste lugar. Demônios e diabos mais fortes podem sentir sua energia e vir atrás de sua alma. – Alertou Alexandra parecendo aflita. – Com a quantidade de energia que você tem, eles conseguem te sentir de longe.

– Alma poderosa? Não sei por que tenho algo assim, sou apenas um guerreiro errante que era para ser um mago antes de... – Tenkai não continuou a frase, não sabia o que dizer de fato. Refletiu um pouco sobre as memórias confusas de suas duas vidas que se misturavam em sua mente. – De qualquer forma, no final das contas sou apenas uma alma errante de alguém que busca a própria identidade.

– Escute com atenção, as larvas por aqui normalmente têm cerca da energia normal de uma pessoa. Você tem muito mais que isso, comparar sua energia com a de uma larva é como comparar a chama de uma fogueira com a de uma vela.

Tenkai olhou para Alexandra encarando-a por um momento admirando-a enquanto tentava entender aquilo que ela dizia. Ele era ainda um simples aprendiz sobre Hades e toda aquela história da Blood War, por isso sentiu-se feliz de ter alguém que entendesse tudo aquilo e pudesse ensiná-lo.

– Você é bem inteligente, fico feliz de ter te encontrado.

– Obrigada, querido. – Respondeu Alexandra corando timidamente diante do elogio de Tenkai. – Peço apenas que você tome cuidado para não deixar esse lugar vencer suas emoções e transformá-lo em uma larva. Se isso acontecer qualquer um poderá consumir sua energia sem que você queira podendo até mesmo absorver você inteiro. – Alertou a feiticeira.

– Mas fique tranquilo. Depois do que você fez por mim farei o possível para te proteger. Mesmo se você virar uma larva eu não deixarei ninguém te consumir. Existem formas de se reverter uma alma transformada em larva para seu estado natural.

Tenkai ficou admirado com a determinação da mulher e então a olhou mais uma vez com um sorriso simpático.

– Fico lisonjeado, obrigado por sua fé em mim.

– Disponha querido. Temos que nos ajudar assim, manter nossos sentimentos sempre... Quentes. Essa é a melhor forma de se proteger das influências malignas de Hades. – Disse ela lançando um olhar sensual para Tenkai enquanto estendia sua mão.

Tenkai sorri e responde ao gesto pegando na mão de sua companheira. Juntos os dois caminham de mãos dadas por alguns minutos. Ambos em silêncio e alertas até que finalmente Alexandra para de andar e segura Tenkai para que ele também pare.

– O que foi? Viu alguma coisa? – Questionou Tenkai confuso.

– Veja esse vale que se abre na nossa frente. – Disse Alexandra.

Tenkai olhou com atenção e viu nos horizontes de norte a sul enormes dunas de areia do tamanho de montanhas, separando as dunas havia um vale que se abria de leste a oeste. Tenkai percebeu que este vale estava completamente vazio, nenhum demônio ou diabo lutava em sua imensidão cinza. Também não havia corpos. A princípio Tenkai sentiu-se feliz de finalmente encontrar uma parte daquele mundo maldito onde não houvesse sangue sendo derramado.

– Não se deixe enganar pela calmaria. Esse vale é o território de caça dos vermes púrpura. – Alertou Alexandra. – Nós podemos seguir com cuidado através dele ou se quiser podemos ir pela pelo norte. O sul é impensável, ali fica um dos maiores campos de batalha da Blood War. O único problema de seguir pelo norte é que lá fica localizada uma fortaleza tanar’ri. Então docinho, por onde quer ir?

– Os vermes púrpura parecem serem inimigos perigosos porque não há ninguém guerreando neste vale.

– Sim, de fato eles são. Os vermes púrpura são conhecidos por surgirem do chão e devorarem qualquer um que encontrem, eu mesma já vi muitos grupos de abissais desaparecerem um após o outro nas mandíbulas do monstro enquanto eram engolidos vivos.

Tenkai ponderou um pouco, estava difícil tomar uma decisão. Teria que escolher entre seguir pelo vale direto pro leste ou tomar um desvio pelo norte. Depois de pensar por alguns segundos decidiu que atravessaria o vale.

– Como disse, eu preciso seguir o leste sem desvios. Acho que não temos outra escolha. Enfrentar mais uma guerra, creio não ser a melhor escolha. – Comentava como se já tivesse entrado em algum confronto em Hades, o que de fato era verdade.

Alexandra assentiu com a cabeça.

– Se os vermes aparecerem, utilizarei meus poderes para escaparmos deles. O segredo para não se pego por eles é evitar criar vibrações no solo. Tenho algumas magias de levitação que podem ser muito úteis. Graças a energia que você me deu, eu tenho poder suficiente para proteger nós dois.

– Isso é incrível. Nunca pensei que poderia voar. – Comentou Tenkai entusiasmado com a possibilidade de poder voar.

– Mas vamos a pé por enquanto, somente se eles aparecerem é que voaremos, não quero desperdiçar energia para não ter que pegar mais de você. E nunca se sabe quando vamos precisar de meus poderes para nos proteger de outros demônios.

Tenkai apenas concordou com a cabeça.

– Se eu sugar mais de sua energia manteremos ela baixa e isso pode nos ajudar a passar desapercebidos pelos territórios dos generais abissais. O problema é que se eu drenar muito de você, MINHA energia é que ficará muito alta e eu não quero isso. Como você já deve ter percebido eu não estou morta e minha alma pode ser tão interessante para os abissais quanto a sua.

– Compreendo. Vamos seguir como estamos, quando for necessário improvisaremos. Fiz isso a vida inteira, não será agora que deixarei de fazer. – Falou Tenkai cheio de coragem sorrindo de forma singela.

Alexandra sorriu de volta, então se aproxima de Tenkai e segura as duas mãos do elfo mantendo seu corpo bem próximo.

– Mais uma vez muito obrigada por ter salvado minha vida e minha alma. Vou levar você em segurança até o final deste Lamento de Hades custe o que custar. – Ela terminou de falar dando um selinho tímido nos lábios do elfo. Então ela se afasta e faz uma reverência como se Tenkai fosse um rei e ela sua serva.

Por alguma razão Tenkai ficou um pouco envergonhado e tímido com aquela situação. Seu rosto corou, sentia algo diferente, algo que nunca sentiu ou que havia esquecido como era. Mas que era agradável, um sentimento gostoso, será que estava se apaixonando? Ele não sabia dizer, apenas agarrou forte a mão de Alexandra como se quisesse protegê-la de todo o mal daquele mundo. O novo sentimento era tão forte que por um momento Tenkai esqueceu até mesmo a apatia de Hades.

Juntos o casal começou a andar atravessando o extenso vale, estavam alertas a tudo. Três horas se passaram e eles se encontravam quase no centro do vale. Mesmo o lugar estando vazio eles conseguiam ouvir os sons da Blood War ecoando, vindos do sul. As vezes era possível ver grupos de criaturas voadoras vindos do norte a caminho do sul, por sorte os monstros estavam muito ocupados com seus próprios interesses a ponto de não prestarem atenção no casal de aventureiros caminhando na imensidão cinza.

Parecia que tudo daria certo, mas apenas parecia. Os olhos aguçados de Tenkai logo perceberam oscilações no solo e viram uma pequena onda de poeira se erguer como se algo estivesse passando sob as areias.

– Alexandra, Veja! – Alertou Tenkai apontando para o que vira.

– São eles! Oh não! Por todos os deuses. – Disse a jovem apavorada.

Parecia que o verme havia sentido a presença do casal porque a nuvem de poeira cinza se locomovia em direção da onde estavam a uma alta velocidade. Tenkai tinha que decidir o que faria lembrando-se que tinha a opção de pedir para Alexandra usar seus poderes mágicos. De qualquer forma parecia que o verme ia demorar alguns segundos para chegar até eles o que dava tempo de decidir o que fazer.

Informações:

Spoiler:

A aproximação do verme púrpura deixou Tenkai assustado, rapidamente ele bolou uma estratégia para consegui escapar da criatura. O plano era simples, distrair o monstro usando sua espada como chamariz enquanto Alexandra usava seus poderes para voar, era um bom plano. O que Tenkai não esperava é a velocidade com que a mulher invocou sua magia, com um único gesto e o sussurrar de algumas palavras ininteligíveis, tanto ela quanto Tenkai começaram a levitar. Tenkai sentiu seu corpo se tornar leve como uma pluma, sentiu-se livre a medida que um sonho antigo do homem ia tornando-se realidade. Logo tanto ele quanto Alexandra estavam conseguindo voar com a velocidade de uma corrida.

– Docinho, não se afaste de mim ou você irá cair. Vamos manter nossa altura de voo baixa para não atrair atenção dos demônios voadores.

Tenkai apenas assentiu com a cabeça sorridente. Juntos os dois voaram mantendo a altura de 10 metros e a distancia de três metros um do outro. O prazer de voar era incrível e Tenkai aproveitou cada momento. Depois de uma hora finalmente conseguiram chegar ao final do vale bem no momento em que a magia de Alexandra se esgotava. Tanto Tenkai quanto a feiticeira começaram a aterrissar suavemente até finalmente estarem no solo. Quando tocaram o chão a primeira ação de Alexandra foi se apoiar em Tenkai, ela parecia cansada e Tenkai logo imaginou que era devido ao esforço mágico.

– Me dê alguns minutos querido, a magia de voo é maravilhosa mas consome muita energia. Disse a mulher enquanto ofegava um pouco.

Alexandra precisou apenas de alguns minutos, tempo que passou abraçada a Tenkai. Finalmente a mulher se recuperou do esgotamento e juntos continuaram a caminhada.

– Eu consumi metade da minha reserva de energia. Ainda tenho poder suficiente para usar mais uma ou duas magias poderosas ou quatro magias mais fracas.

A qualquer momento que quisesse, Tenkai poderia ter a opção de doar novamente sua energia para Alexandra caso quisesse, tudo o que era preciso fazer era beijá-la. O elfo lembrou-se dessa possibilidade e do prazer que aquela ação lhe dava. Algo que unia o útil ao agradável uma vez que Alexandra havia acabado de provar seu valor durante o encontro com o verme púrpura.

A dupla caminhava apressada pelo final do vale quando Tenkai começou a ouvir alguns gemidos que o deixaram alerta. Os gemidos vinham por detrás de uma duna. Tanto Alexandra quanto Tenkai foram até lá olhar e o que viram os surpreendeu. Haviam três criaturas que rastejavam pelo chão, elas tinham o tamanho e o formato dos corpos lembrando seres humanos, porém as criaturas eram desprovidas de braços e pernas tendo o corpo cilíndrico como o de um verme e mandíbulas no lugar das bocas, seus olhos eram grandes e bulbosos, completamente negros e desprovidos de emoção. O mais assustador no entanto eram os seus rostos que com a exceção das mandíbulas e dos olhos eram extremamente iguais aos rostos normais de pessoas. As três criaturas gemiam enquanto lutavam uma batalha patética entre si para decidir quem devoraria o corpo de um demônio morto em batalha contra outra criatura que já não estava mais ali.

– Veja só o que achamos! Três deliciosas larvas. – Disse Alexandra sorridente. – Veja querido, é isso que nos tornaremos se deixarmos Hades nos vencer.

Tenkai ficou alguns segundos admirando com um misto de surpresa e medo as criaturas que eram incrivelmente desprezíveis, seres que pareciam o cruzamento de um humano com um verme.

– Querido, podemos capturar essas larvas e absorvê-las, mas quem tem que decidir isso é você. Eu particularmente acho melhor consumir elas do que beber sua energia... Embora você seja muito mais gostosinho. – Sugeriu Alexandra deixando escapar um sorriso cheio de malícia ao final da frase o que revelava certo desejo pelo elfo.

Caberia a Tenkai tomar a decisão se iria utilizar as larvas ou fazer qualquer outra coisa com elas. Lembrou-se por um momento que um dia aquelas criaturas foram pessoas como ele, pessoas que pensavam, que amavam, que tinham sentimentos, sonhos e temores. Agora elas eram seres desprezíveis que brigavam por restos e levavam suas vidas eternas como vermes. Tenkai por um momento considerou a possibilidade de consumir as larvas, mas essa ideia veio acompanhada da sensação de estar cometendo um crime hediondo comparável ao canibalismo.

Pior que isso, contemplar a possibilidade medonha de um futuro que poderia ser o seu o apavorava. Tenkai sentiu a tristeza e a apatia de Hades cobrirem-no com o manto da desesperança absoluta. Sentiu seu corpo ficando pesado enquanto um turbilhão de pensamentos percorria sua mente. Apenas a vibração de Yllefania em sua bainha o despertou de seu transe. Tenkai levou sua mão até a arma e imediatamente percebeu uma terceira opção: destruir as criaturas e libertá-las de uma existência patética ou da possibilidade de serem consumidas.

Alexandra parecia não se importar com as criaturas e demonstrava estar muito mais interessada em recuperar suas próprias energias do que em qualquer outra coisa, independente se a fonte de sua recarga fosse uma larva ou o próprio Tenkai. Tenkai sabia que o apetite da feiticeira fazia sentido e que seus poderes poderiam ser úteis como ela já havia provado a poucos momentos atrás.

De um lado a moralidade o ordenava a ignorar ou sacrificar as larvas, por outro lado a necessidade de sobreviver e a desesperança o levavam a desejar ele próprio consumir aqueles seres para restaurar sua própria energia. Qual decisão ele tomaria?

A reação de Alexandra diante do encontro com as larvas fez Tenkai começar a desconfiar dela, o elfo cogitou a possibilidade de que ela simplesmente estivesse interessada somente em sua energia. Mas assim que começou a andar dando suas costas a Alexandra, ela começou a falar.

- Seu idiota! Você está demonstrando piedade demais. Nós precisamos sobreviver, aliás, nós não, VOCÊ! Eu posso ir embora de volta para a minha cidade a hora que eu quiser. Você sabia que Hades transforma qualquer um que fica aqui muito tempo em larvas? Isso inclui DEMÔNIOS, essas três larvas podem ser demônios que ficaram tempo demais aqui. – Disse ela visivelmente irritada.

Mas era tarde demais para Tenkai voltar atrás em sua decisão, querendo ou não era impossível porque assim que terminou de falar, Alexandra apontou seu dedo para as larvas e disparou uma esfera de energia rosada que as atingiu com uma explosão pequena, mas suficiente para aniquilar as três criaturas e pulverizar o corpo do demônio. Será que Alexandra era indigna de confiança? Ou será que Tenkai havia feito julgamentos errados? O que a mulher dizia fazia certo sentido, afinal, eles precisavam sobreviver, mas qual o preço daquilo? Será que valia a pena se arriscar a consumir aquilo que um dia poderia ser a alma de um inocente? De qualquer forma não havia mais o que fazer ali a não ser seguir em frente, e assim o fizeram só que dessa vez em silêncio. Alexandra não conversava mais com Tenkai e mantinha-se a pelo menos dois passos de distância do elfo.

Depois de algumas horas Tenkai e Alexandra começaram a ouvir um som estranho, um som que se distinguia dos sons normais de batalhas que ecoavam por todo o deserto. Os sons pareciam o tilintar de objetos acompanhados de uma música exótica dominada por acordes de violão e flauta. Rapidamente a dupla se escondeu atrás de uma árvore e aguardaram até ver o que causava o som. Se surpreenderam ao notar uma carruagem surgir por cima de uma duna sendo puxada por uma criatura estranha, parecia uma espécie de touro negro com chamas azuis crepitando por todo o seu corpo.

A carroça estava abarrotada de objetos, panelas, armas, instrumentos musicais e muitos outros itens balançavam de um lado a outro pendurados em todos os lugares. Dentro da carroça Tenkai podia ver o que parecia ser um humano, ele era bem alto medindo cerca de dois metros de altura, sua pele era branca, ele era careca e tinha os olhos brilhantes como chamas incandescentes. Ao longo do seu corpo ele usava várias pulseiras, anéis e braceletes todos feitos de metais nobres e incrustados com gemas caríssimas. O homem tinha uma constituição física avantajada, trazia na cintura uma grande cimitarra, mas o que mais chamou atenção de Tenkai foi o fato do homem não ter pernas, em lugar disso seu corpo terminava em uma coluna de fumaça que começava em sua cintura e descia formando um cone de cerca de um metro e meio. O homem balançava os braços alegremente de um lado a outro e dois instrumentos musicais flutuavam ao seu redor, uma flauta e um violão pequeno, ambos tocando sozinhos como se tivessem vida própria.



Por mais que a visão o surpreendesse, Tenkai poderia jurar que aquele homem era na verdade uma espécie de mercador. De qualquer forma o elfo deveria decidir se deixaria a estranha figura seguir seu caminho ou se tentaria uma abordagem hostil ou amigável. Caberia a ele decidir.

A passagem do estranho ser continuou sem interrupções, a criatura foi identificada como um gênio por Alexandra que informou o fato sussurrando no ouvido de Tenkai. A dupla de viajantes permaneceu escondida atrás de uma rocha enquanto o gênio passava com sua carroça, houve um momento que seu veículo passou bem próximo da rocha onde a dupla estava escondida e ambos puderam ouvir o som de risadas extremamente animadas acompanhadas da música alegre produzida pelos instrumentos musicais que flutuavam e dançavam ao redor do seu dono.

– HUHUHUHUHUHU! HAHAHAHAHAHA! HIHIHIHIHIHIHI! HUHUHUHUHUHU! Isso isso isso! Continuem tocando para mim! HAHAHAHAHA! – Falava o gênio alegremente.

Mas mesmo com tanta alegria e com seu comportamento aparentemente inofensivo, Tenkai não se deixou levar e se manteve escondido até o estranho mercador estar distante o suficiente para não mais notar a presença da dupla. Livres do gênio ambos continuaram viajando. Depois de uma hora de viagem Alexandra simplesmente parou de andar o que fez Tenkai parar também e olhá-la com um misto de curiosidade e irritação por estar perdendo tempo.

– O que foi, por que parou?– Perguntou Tenkai.

– Escute querido, não vai dar pra gente continuar viajando assim... Você salvou minha vida e restaurou minhas energias e sou muito grata a você por isso. Mas... – Alexandra parou de falar.

– Mas...? – Insistiu Tenkai.

– Mas você ainda não percebeu exatamente onde estamos. Estamos em Hades e bem... Eu consigo entender a bondade em seu coração em querer poupar aquelas larvas, mas... Como eu falei, até mesmo diabos, demônios e viajantes viram larvas e a maioria das que você encontrar aqui mereceram seu destino. Se você quiser sobreviver de fato vai precisar se adaptar a essa situação. – Alexandra agora olhava Tenkai nos olhos.

– Me desculpe, mas não quero arriscar minha vida sendo bondosa com quem não merece. Preciso voltar pra minha terra e falar as informações importantes que descobrimos sobre a Blood War. Eu gostaria de poder continuar lhe acompanhando mas parece que você não deseja mais a minha companhia. – Disse Alexandra, imediatamente seus olhos mudaram expressando tristeza.

– Então eu... Eu... Bom eu vou partir tudo bem? Você não vai ficar chateado? – Disse Alexandra agora abaixando seu rosto de forma a desviar seu olhar do de Tenkai, parecia envergonhada como se sentisse culpa de abandoná-lo. Era óbvio que Tenkai decidiria agora o que aconteceria.

Se ele não tomasse nenhuma atitude certamente Alexandra partiria e Tenkai seguiria sua viagem sozinho. Será que valeria a pena correr o risco de viajar sozinho uma vez que Alexandra havia se mostrado uma grande conhecedora de Hades? Ou será que a companhia da mulher e seu lado sombrio e impiedoso poderiam ser tolerados em troca da compania e proteção que ela oferecia?

Tenkai sentiu uma tristeza dominar seu coração, por um momento ele havia sentido a chama de sua paixão despertar pela mulher e depois se apagar tão rápido quanto havia surgido. Será que era um efeito maligno de Hades que assassinava até mesmo o amor e a paixão? Será que Alexandra era cruel como demonstrou porque ela própria já estava sucumbindo a maldade de Hades? Será que ela simplesmente estava desesperada para garantir sua própria sobrevivência? Será que na verdade ela apenas não estava esperando o próprio Tenkai virar uma larva para devorá-lo? Será que poderia confiar nela?

As perguntas surgiam na mente do elfo como um emaranhado confuso, parte de si não queria se afastar de Alexandra, mas outra parte não confiava nela. Tenkai não sabia dizer se estava sob os efeitos de Hades ou se sua desconfiança era algo natural. Seja como for, ele tinha que tomar uma atitude agora. O que faria?

Tenkai havia tomado sua decisão, se separaria de Alexandra mesmo que isso lhe causasse certa angústia. Então ele simplesmente se despediu da mulher. Alexandra fez uma expressão triste e então com um gesto de mãos um portal de forma elipsóide com dois metros de altura se abriu atrás dela. Tenkai conseguia ver o que havia do outro lado do portal, uma paisagem belíssima. A paisagem tinha um lindo castelo com torres altas e brilhantes, ao redor do castelo uma planície verdejante com um lago.

– Eu voltarei com ajuda, Tenkai. Você salvou minha vida e eu vou retribuir o favor. – Disse Alexandra se aproximando de Tenkai até estar bem próximo a ele.

– Antes de partir eu gostaria de um ultimo beijo do meu glorioso salvador, o Hell Walker. – Alexandra então se rendeu a Tenkai e aproximou seu rosto do rosto do elfo para que ele a possuísse uma ultima vez.

Independente se Tenkai beijaria Alexandra uma ultima vez ou não, o elfo seguiria caminho adiante como pretendia, precisava sair rapidamente daquele lugar antes que Hades esmagasse sua força de vontade.

Quando Alexandra abraçou Tenkai, o mesmo sentiu um desejo luxurioso tomar conta do seu ser, viu os lábios rosados da mulher se aproximando dos seus e por muito pouco não se entregou para a perdição do desejo pela carne. Firmemente ele resistiu e mudou a direção de seu beijo para a testa da mulher, um ato simbólico de respeito. Depois do ato Tenkai se desvencilhou dos braços da jovem, ou pelo menos ele o faria se não sentisse que Alexandra simplesmente não queria soltá-lo.

Tenkai fez um pouco de esforço mas para a sua surpresa a jovem se mostrava forte o suficiente para prendê-lo. Quando Tenkai olhou no rosto da garota viu que os olhos dela haviam se tornado completamente brancos e incandescentes como se estivessem em chamas ardendo com um desejo sinistro. A jovem tentava a todo custo beijá-lo e Tenkai resistia, sabia que havia algo de errado e a cada segundo ia se confirmando. Tenkai então viu duas protuberâncias crescerem na testa da mulher até se completarem como um par de chifres, viu os dentes da jovem mudando até virarem presas e sentiu as unhas da mulher virarem garras. Duas grandes asas coriáceas de morcego surgiram nas costas da mulher e então para o seu pavor Tenkai percebeu que estava nos braços de uma demônia.

A mulher tentava a todo custo beijar Tenkai e este resistia até finalmente conseguir desvencilhar-se dos braços da mulher e recuar. Viu que a mesma continuava bela mesmo com os traços demoníacos, mas a aparência não o enganaria mais, estava evidente que ela era sua inimiga. Tenkai viu o portal atrás da mulher mudar também, o castelo brilhante deu lugar a uma fortaleza de paredes negras e sombrias, a planície verdejante virou um deserto de ossos e o lago de águas cristalinas um lago de ácido borbulhante.


– Tolo ignóbil. Eu pretendia dar a você a honra de morrer em meus braços e me servir como alimento. Talvez eu até o mantivesse como meu escravo particular, mas você tinha que desconfiar não é? Você tinha que seguir com sua missão idiota. Agora você morrerá de uma maneira horrível. – Disse ela estalando os dedos no final.

Tenkai viu sair do portal uma criatura hedionda, um monstro que parecia o cruzamento entre um humanoide grande e um enorme abutre. A criatura possui membros fortes e vigorosos cobertos por pequenas penas acinzentadas, um pescoço comprido, a cabeça de um urubu e largas asas emplumadas. O monstro media por volta de dois metros e meio de altura e parecia extremamente ameaçador.


Apesar de Tenkai não saber o que a mulher é na verdade e também o homem-abutre, ele lembrou-se que já havia visto seres como ele lutando nas incontáveis batalhas que eclodiam por toda a planície e isso fez o elfo estremecer.

– Acabe com o elfo! – Ordenou a mulher apontando seu dedo para Tenkai.

O elfo viu o homem-abutre olhar para ele e então abrir o bico o que deu a impressão de que o monstro havia sorrido. Imediatamente a mulher e o homem-abutre alçaram voo dando a Tenkai tempo para sacar Yllefania e se preparar para o combate. Estava claro que ele não teria como fugir daqueles oponentes. O homem abutre então mergulhou em direção ao elfo apontando suas garras afiadas, Tenkai precisava pensar rápido ou seria arrebatado pelo monstro assim como um falcão capturando uma presa. Para o alívio do elfo, a mulher demônia apenas ficava observando-o do alto.

A estratégia de Tenkai falhara, sua espada passou reto pela criatura e a mesma nem precisou se dar o trabalho de esquivar-se. Espadas definitivamente não foram feitas para serem arremessadas. Tenkai invocou a fiel Yllefania novamente e esta já começava a se materializar quando o vrock se aproximou. O elfo pensando que a criatura iria passar em um rasante saltou para o lado, mas assim que o fez se surpreendeu quando o monstro ajustou seu mergulho e caiu com as garras sobre o corpo do elfo. Aquilo não era um rasante, nunca fora, era um mergulho.

Tenkai sentiu sua carne se rasgar e a dor o consumir quando as garras da fera lhe perfuraram o corpo. Em resposta ele resistiu a dor e contra atacou golpeando o monstro onde dava. Acabou por acertá-lo no tronco fazendo com que a criatura recuasse alguns passos para trás largando o elfo no processo. Tenkai percebeu para o seu desespero que o monstro era bem resistente e sua espada não fizera um grande estrago, talvez porque ele não havia golpeado com precisão dada a dor que o consumia.

O vrock então deu um guincho e balançou as asas, centenas de fagulhas voaram em direção ao elfo que tentou se esquivar em vão, eram muitas e era impossível escapar de todas. Tenkai sentiu incontáveis agulhas penetrarem em sua carne e mais que isso, sentiu como se essas agulhas estivessem vivas e comendo a sua carne. Então em meio a agonia Tenkai viu o vrock avançar contra ele com voracidade desferindo uma sequência de ataques, o monstro era rápido e forte. Tenkai conseguiu se defender o mínimo possível e até conseguiu devolver alguns golpes, mas a dor e os esporos envenenados destruíam seu corpo.

Alexandra que apenas observava tudo de uma distancia segura gargalhou quando viu Tenkai cair no chão e rolar abaixo por uma duna. Tenkai sentiu sua essência se desfazer, seu ser sendo consumido pela angústia e apatia daquele lugar maldito. Era o fim, ele morreria ali e teria sua alma consumida por demônios. O vrock se aproximou triunfante diante de sua presa que agonizava no chão, o monstro então agarrou Tenkai pela cabeça, suas garras cortando o rosto e a carne do elfo. O monstro ergueu Tenkai até a altura dos olhos e abriu o bico, o elfo imediatamente sentiu sua energia sendo escoada para dentro do monstro, sentiu-se consumir. Em meio a dor, a desesperança, a angústia ele ouviu uma voz, uma voz feminina e doce.

- A alma de um herói não pode terminar assim... Eu desejo que nada disso houvesse acontecido.

Um brilho, um clarão, um grande pilar de luz branca se formou indo do solo até o céu antes de desaparecer por completo, no final tudo o que restava era o vrock satisfeito com sua ultima refeição e uma súcubos triunfante. De fato um espírito havia sido consumido, uma alma nobre, Yllefania havia sacrificado sua própria essência para salvar o espírito de Tenkai. O preço que ela pagou foi caro, encarou sua morte final, a extinção de seu ciclo eterno de existência. Um preço pequeno a se pagar para salvar seu mais novo e verdadeiro amor, Tenkai.

Naquela realidade, naquele mundo, naquela existência Tenkai havia deixado de existir para todo o sempre. Seu nome se tornaria no futuro apenas uma nota de rodapé em um dos muitos tomos de conhecimento escritos por Kalahan O Sábio dos Mundos. Um conto que narraria a saga do grupo de heróis que salvaria Lodoss do domínio das forças do mal, um conto onde Tenkai seria resumido em apenas uma única frase como: “O tolo traído que deixou-se enganar pela sedução das trevas e no fim foi salvo por uma nobre alma.”

A história de Tenkai naquela realidade havia acabado ali, mas sua saga pessoal estava longe de terminar. Tenkai ainda viveria muitas aventuras, se tornaria o herói de muitas histórias e aprenderia muito com sua longevidade élfica. Mas todos estes acontecimentos ocorreriam em uma realidade, outro mundo idêntico ao original, um mundo paralelo onde a realidade pouco difere de seus pares.


Era um dia bonito, Tenkai caminhava em direção a Hilydrus esperando encontrar ali novas oportunidades. Ele havia acabado de sair de uma missão onde salvara uma pequena aldeia do ataque de um grupo de goblins liderados por um orc. O Sol brilhava firme no céu e Hilydrus se erguia triunfante a sua frente. Na mente de Tenkai nenhuma lembrança, nenhum vestígio, nenhum resquício do que vivera e do que passara, nem mesmo a menor das fagulhas de conhecimento ou vislumbre de lembrança. Era como se ele não houvesse vivido nada aquilo, como se não houvesse encontrado Raigor, Sabrina e os demais, como se não houvesse sido assassinado, conhecido Kalahan e viajado por um mundo onde o mal e a vilania batalham pela supremacia.

E de fato era verdade, nada daquilo havia acontecido, assim desejara Yllefania e assim aconteceu. Naquela realidade, naquela Lodoss, Yolavos O Profeta nunca apareceria, nem Raigor O Destemido ou Zaran O Grande, os devoradores de mente não passariam de pesadelos na mente de um louco viciado em alguma droga rara. Se Tenkai entrasse nos esgotos da cidade nunca encontraria assassinos vampiros ou uma caverna natural, nem tampouco conheceria Shadira A Perversa. Os demônios nunca tentariam abrir novamente portais para Lodoss, orcs não atacariam pelo norte e desgraças incomuns não aconteceriam. Pelo menos nada ligado aos eventos que se desenrolavam em outra realidade.

Para Tenkai, Lodoss estava como sempre esteve. Uma terra de perigos e aventuras, promessas e sonhos.

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