[IL Intervalo] Subúrbio de Hilydrus

A orla norte da cidade de Hilydrus é onde se localizam os subúrbios, lar dos menos afortunados e daqueles que não se dão muito bem com a lei. As moradias são geralmente construídas em madeira e de forma irregular, resultando na formação de becos e vielas perigosos. É o lugar preferido para foras-da-lei se esconderem, e também para abrigar quem tem pouco dinheiro sobrando. Comprar ou montar um barraco é fácil, mas é difícil ter alguma segurança ou tranquilidade quando se mora por aqui. O lugar é extenso, tendo centenas de casas mal-acabadas e becos escuros. No centro, onde o acesso é mais difícil, é onde líderes de gangues se reúnem em barracos secretos e montam seus planos.

Soldados evitam patrulhar muito à fundo nas vielas, já que são lugares fáceis de criar emboscadas. Ao invés disso patrulham as ruas mais largas, mesmo sabendo que dificilmente poderão fazer algo caso um criminoso se esgueire pelos becos. Por conta disso o lugar acaba se igualando a Takaras no que diz respeito a fazer justiça com as próprias mãos: líderes de gangues chegam a enforcar quem não segue suas regras, e os corpos ficam pendurados durante dias até que os soldados resolvam retirá-los. Apesar da aparente dominação do crime, é cada vez mais constante uma frota de soldados se organizar e invadir o subúrbio atrás de foras-da-lei. E em geral conseguem fazer uma limpeza invejável. Quando não são mortos os criminosos encontrados vão diretamente para os calabouços do castelo cumprir suas penas.

É preciso ficar atento ao se aventurar por aqui, a não ser aqueles que façam parte do submundo do crime.

A refrescância do banho era algo revitalizador, quase mágico, até mesmo a febre e as dores no corpo haviam amenizado um pouco. Logo Sabrina havia se juntado a ele e naquele momento Aldarion se abriu para ela e contou suas angústias. Sabrina retribuiu seu abraço e então deu a ele uma proposta que se aceita, mudaria toda a vida do guerreiro.

– Esse seu discurso hipócrita não me engana meu amor. – Disse ainda abraçado e dando um beijo no pescoço da jovem. – Você quer na verdade que eu abandone todos os meus ideais e faça só o que você mandar. Mas isso não é certo... Não sei se posso fazer isso. – Disse dando mais um beijo, desta vez em um dos seios

Dentro da água quente, no relaxamento do banho e sentindo o corpo macio de Sabrina roçando no seu, Aldarion começava a ficar excitado. O guerreiro abraçava a jovem ternamente e enquanto esta falava ele beijava-lhe o pescoço e os seios. Tudo caminhava para um rumo bastante previsível e prazeroso para ambos até Sabrina dizer sua ultima frase.

Aldarion imediatamente parou de beijá-la, depois se desvencilhou dela e afastou-se o máximo que podia dentro daquela pequena banheira de água. O guerreiro a encarou por alguns segundos, sua expressão era séria e fria. Sabrina sentia os sentimentos de Aldarion oscilarem como uma gangorra, primeiro um pico de excitação e atração sexual, depois uma queda brusca e repentina para o abismo da frieza e em seguida uma explosão de fúria, explosão que veio acompanhada de um tapa bem dado na face de Sabrina.

A mão grande e calejada de Aldarion se ergueu de baixo da água com velocidade e violência indo atingir o rosto da jovem com tamanha força que ela teve sua face virada. Seu rosto no lado direito agora ardia com a força do tapa e os dedos de Aldarion visivelmente haviam deixado suas marcas.

- Vagabunda! Você toma minha alma e minha liberdade e agora vem vomitar essas porcarias em mim? Mesmo sabendo tudo o que eu sinto por você?! - Esbravejava quase gritando. - Se eu pudesse voltar no tempo teria me entregue pra você novamente, porque eu a AMO! E é assim que você me recompensa? Duvidando de nossa união? Que os diabos do Baator venham levar meu corpo para o mais profundo dos nove infernos!

Praguejando contra todos os deuses, o Abismo e os Nove Infernos, Aldarion levantou-se da banheira e saiu dela indo até a toalha mais próxima.

- Já que nossa união é inútil, vou recusar a missão de Lady Ophelia, sabe qual é a opção que eu tenho se eu recusar? Ficar um ano nos calabouços do castelo, apodrecendo. Era o que eu normalmente escolheria, mas escolhi a missão porque... Porque... Eu acho que não vou conseguir ficar longe de você. - O guerreiro agora estava de costas, cabeça ligeiramente abaixada, como que escondendo o rosto.

Sabrina sentiu os sentimentos de Aldarion despencarem novamente, do topo fumegante do vulcão da fúria até os abismos gélidos da tristeza.

- Você vai ter um ano pra refletir sobre isso... Pra ver o quanto realmente eu sou valioso para você... Se você decidir que eu de nada valho... Você pode findar minha existência, não terá sentido para mim ficar longe de você... Thau... meu amor... - O final da frase mal pode ser ouvido terminando em um sussurro.

O guerreiro não disse mais nada, apenas se retirou e Sabrina podia sentir exatamente o que ele ia fazer, ia se vestir e se entregar aos guardas para cumprir sua pena na escuridão do subsolo do castelo. Era surpreendente como Aldarion conseguia ser imprevisível mesmo com Sabrina podendo ler sua alma e sentir suas emoções.

Aldarion era bom em suportar as coisas, podia suportar a dor, a fome, o frio, o calor, humilhações, espancamentos, privações, doenças e ferimentos mortais. Podia suportar ser visto como um ser inferior, como alguém de baixo nível, como alguém sem valor. Mas jamais suportaria ter sua honra questionada, sempre se levantaria para defender aquilo que ele acredita, e naquele momento ele acreditava que Sabrina confiava nele, que ela o amava, que ela o entendia e sabia por que ele lutava.

Mas os questionamentos dela o fizeram esmorecer, acertaram-no bem onde dói, em um lugar onde a mais poderosa das armaduras jamais poderia protegê-lo. Acertaram-no no âmago de seu ser, de sua alma, de seu coração. A mágoa o atravessou como uma lança. Como ela poderia ter a ousadia de questionar sua devoção? Seus sentimentos? Suas motivações?

Desarmado, desamparado, o guerreiro decidiu que era melhor deixar Sabrina com suas indagações, para que ela em sua solidão só tivesse uma pessoa a quem questionar, ela mesma. Talvez percebesse que as coisas não eram tão simples como ela imaginava que eram, talvez ela percebesse o quanto ele gostava dela. Mas nem precisou ele se esforçar muito e realmente se entregar aos guardas, Sabrina se levantou da banheira e o agarrou.

Aldarion parou de andar para ouvir o que ela ia falar, mas em momento algum olhou para ela, deu a Sabrina apenas as suas costas. Ouviu ela falar, sentiu ela puxar seu braço, finalmente ele se virou para ela, a face triste cheia de lágrimas.

- Eu perdi tudo que tive na vida, meus país, meu irmão, meus amigos... Desde então eu só conheci dor e morte. Para não desistir de viver eu me firmei em um alicerce moral e segurei minha vida no cabo de minha espada. - Aldarion deu uma pausa se virando completamente para Sabrina. Levantou as duas mãos e a segurou nos ombros. - Eu achava que isso era tudo que eu teria, e que cedo ou tarde acabaria morto, eu pensava que a vida não tinha nada mais para me oferecer até que você apareceu...

O guerreiro não falou mais nada, apenas beijou Sabrina enquanto a agarrava, suas mãos deslizando por todo o corpo nu e molhado da jovem.

- Você quer que eu seja obediente é? Eu vou ser, mesmo que faça as coisas sem concordar com o que você quer. Eu vou fazer tudo que você quiser... Mas você me promete que vai sempre sorrir? - Perguntou entre os beijos, mas não esperou resposta, voltou a abusar da jovem a arrastando com um pouco de brutalidade para a cama.

- Eu sei o que você quer vagabunda, e essa noite você vai ter! Quer que eu seja seu cachorrinho é? Vou fazer o que os cachorros fazem de melhor. - Disse dando um tapa forte no rosto de Sabrina, jogando-a na cama e depois se jogando sobre ela.

Agora mais uma vez os sentimentos de Aldarion explodiam em uma nova vertente, queimando e ardendo como o coração de uma estrela, a estrela do amor.