[Ficha] Land Grimmoire

Durante uma breve guerra no interior de Shane, Alam Grimmoire fez um acordo com um poderoso e influente demônio da região para que mantivesse sua amada Leilah a salvo das constantes invasões no vilarejo, geralmente acompanhadas por saques e incêndios, em troca de servidão e lealdade. Malyari, o demônio, aceitou o trato com a condição de que o rapaz não deveria mais encontrar a moça enquanto a guerra continuasse.

Poucos meses depois, no entanto, Alam foi obrigado por seus já idosos pais a se envolver num casamento arranjado com Chede, uma garota da vizinhança, “para que a linhagem da família continuasse e eles pudessem morrer em paz”, disseram. Assim, logo Land nasceu saudável na pequena cabana onde Alam vivia com sua esposa, num ambiente ameaçado constantemente pela guerra.

Quando Land completou seus 4 anos e a guerra terminou, Malyari convocou Alam para que cumprisse sua parte no trato, e o homem saiu de casa despedindo-se da família como se nunca mais fosse voltar. Chede parecia inquieta e olhava pela janela a todo momento quando teve o vislumbre de algo que a fez entrar em pânico, e então o tempo acelerou: em segundos ela tomou Land pela mão e correu em direção à saída de casa, e no próximo momento ela estava no chão atingida por um pilar que caíra em sua cabeça, enquanto toda a casa queimava num fogo ardente. O pequeno não havia entendido muito bem o que havia acontecido, e, quando estava prestes a cair em prantos, Alam apareceu e tirou-o dali o mais depressa que pode.

Na carroça onde o menino fora colocado havia uma mulher grávida de aparência deplorável que mutilava-se constantemente com um canivete, ignorando os protestos do homem; era Leilah.

Haviam acabado de alcançar a saída do vilarejo em direção à estrada quando os gritos e contrações da mulher anunciaram a vinda da criança, e, da mesma forma que um pequeno bebê meio demônio de chifres encaracolados veio ao mundo, sua mãe o deixou.

Alam parecia furioso, mas uma horda de demônios enfurecidos que vinham em sua direção, liderados por Malyari, não lhe deram tempo para luto. Entregando o bebê para Land, Alam assumiu a direção da carroça e galopou até a cidade mais próxima, deixando seus perseguidores para trás.

Em seu destino, eles misturaram-se à multidão, e o pai chamou a atenção do garoto para uma conversa séria: “Eles virão atrás de nós novamente”, disse, “Cuide desta criança com sua vida, Land, e fuja desta cidade”, ele entregou ao filho um medalhão de ouro cujo interior guardava duas fotos - uma de sua pequena família e outra de uma mulher bonita que vagamente lembrava a Leilah que o pequeno conhecia.

Alam, então, pegou o corpo da mulher nos braços, deu um último olhar para Land, e desapareceu no meio da multidão, deixando as duas crianças sozinhas.

Land esforçava-se para cuidar do bebê nos primeiros meses, geralmente conseguindo coisas por piedade dos comerciantes ou fazendo algum trabalho para as mulheres mais gentis, mas conforme o tempo passava ele percebia que ficava cada vez mais difícil conseguir qualquer coisa naquela cidade. Tinha já seus 5 anos quando um grupo de viajantes passou pela estalagem onde o pequeno ajudava na cozinha, ouvindo-os mencionar que passariam por Takaras - uma cidade grande, ele se lembrava das histórias que havia escutado, talvez grande o suficiente para que a sobrevivência dos dois fosse mais fácil.

No entanto, ao conversar com os viajantes, eles pareceram estranhamente desconfiados em relação ao meio demônio, e garantiram que se fosse apenas Land não teriam nenhum problema em levá-lo junto. O garoto procurou convencê-los de todas as formas - até mesmo cortou os chifres da pobre criança - mas nada que dissesse ou fizesse parecia mudar a opinião deles. No final, Land abandonou o meio demônio e partiu numa caravana para Takaras. “Talvez eu o veja novamente um dia”.

Durante os dois dias de viagem que se seguiram, o garoto foi quase ignorado pelo grupo, e nas paradas que faziam chegou até mesmo a ser ofertado como escravo para os nobres das cidades. Numa situação praticamente pior da que havia saído, Land chegou ao Reino Sombrio.

O garoto cresceu o tempo todo marginalizado, sobrevivendo de crimes pequenos e muitas vezes apanhando por motivos banais, dormindo sempre nas ruas e por muitas vezes comendo restos que apanhava nos lixos.

Sua vida prosseguiu assim até seus 18 anos, quando todo seu passado veio à tona num horroroso e desagradável pesadelo: Malyari.
Ele e Malyari estavam frente a frente; o demônio agitava suas gigantescas asas vermelhas como se tentasse intimitidar Land; os cabelos eram ruivos e compridos, farfalhando no mesmo ritmo do fogo que ardia ao redor dos dois; sua armadura negra cobria apenas o suficiente, e o restante de pele à mostra o seduzia; os chifres enormes contrastavam com os lábios avermelhados que pareciam querer beijá-lo; a figura de mulher. O rapaz, atônito, balbuciava sons silenciosos que não possuíam sentido algum, esticava sua mão na direção do demônio como se quisesse tocá-lo: aquele era Malyari, sim, exatamente como se lembrava desde seus quatro anos de idade. Porém, prestes a encostar os dedos em seu rosto, o demônio queimou e cresceu, sua forma de repente tornando-se monstruosa e assustadora; suas garras agora pareciam tão afiadas que o estraçalharia ao menor toque; os olhos, observadores, por todo o corpo, pareciam enxergar através de seus pensamentos; o exoesqueleto que quase gritava a impotência de qualquer um em machucar aquele ser. Land, então, acordou.

Por um momento, respirou aliviado ao se ver no mundo real, e continuou com sua rotina normal até que, quando dirigia-se a uma loja com intuito de arrombá-la, ele ouviu dois passantes conversando sobre um demônio novo na cidade. E, por mais que não quisesse acreditar, o garoto o reconheceu de seus sonhos. “Ele está aqui”, desesperou-se, “Ele veio terminar os assuntos, ele quer a criança”.

Desde aquele dia até os dois anos seguintes, o rapaz se escondeu de todos em Takaras, evitando os olhos de qualquer um até que todos conseguissem esquecer sua existência. Land não se deixaria ser encontrado tão facilmente.