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A Trilha da Rosa

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Mensagem por Juliet Baskerville Ter Jan 26, 2016 8:29 pm


A família Voldracul é parte da alta nobreza de Lodoss já há um longo tempo, os membros dela estavam entre alguns dos primeiros a se estabelecerem nestas terras, e cuidaram bem dos negócios para criar uma das viniculturas mais famosas do reino de Hylidrus. Uma grande fortuna e renome sempre acompanharam este sobrenome, porém isso também tornou os seus membros em pessoas que ligavam mais para manter suas posições privilegiadas do que com as pessoas ao seu redor, acreditando em sua superioridade apenas por terem nascido dentro desta família. Meu pai costumava portar o sobrenome da família Voldracul com orgulho quando era jovem, e algumas vezes até tirava proveito do renome fornecido por sua família para conseguir alguma vantagem, porém depois de tudo que passou por conta do egoísmo e prepotência que corriam nas veias dos Voldracul ele começou a pronunciar este como se fosse um tipo de peso ou maldição que havia caído sobre os seus ombros, uma lembrança do sofrimento em seu passado que ele desejava ver desaparecer da face deste mundo. E foi com este mesmo tipo de sentimento e esta motivação que ele sempre me criou, com o único propósito de queimar os portadores deste nome, humilhar aqueles que o usam para se sentirem superiores, e fazer com que ele só seja dito como sinal de má sorte e ruína.

Para entender melhor porque meu pai vê a família desta forma, eu devo começar esta história de seu princípio, e falar mais sobre o primeiro amor dele. Bem, no começo meu pai, Pietro, era uma pessoa bem diferente, despreocupado e bondoso, ele sempre ajudava as pessoas ao seu redor como podia, e era o favorito do meu avô, mesmo que as vezes ele conseguisse problemas com o resto da família por conta das suas ações. Foi durante a época em que as uvas estavam sendo colhidas que ele conheceu Elisa, que na época era apenas uma funcionária temporária dentro dos vinhedos, eles sempre contaram que não foi amor à primeira vista, de fato os dois brigavam por praticamente qualquer coisa quando eles se conheceram, e seu primeiro encontro foi literalmente com Pietro pregando uma peça nela e algumas outras funcionárias da fazenda, e ela foi a única que deve a coragem de desafiar ele e falar algumas verdades para ele mesmo correndo o risco de ser demitida, depois disso ele sempre voltava para discutir com ela como a única pessoa ali que não tratava ele como se fosse alguém superior, e com o passar do tempo eles acabaram se tornando amigos que falavam sobre todo o tipo de assunto, e finalmente eles se apaixonaram. Mas esta união enfrentou grandes dificuldades por parte da família Voldracul, que não achava que a jovem plebeia que falava demais não poderia fazer jus ao nobre nome da família com sua origem humilde, e eles já tinham começado a organizar um casamento com uma esposa que consideravam mais digna para o meu pai, alguém de alta estirpe e que poderia ajudar a expandir os negócios destes e sua fama. Diante desta situação ele tomou uma atitude rebelde e impensada, decidindo fugir na calada da noite com a mulher que era sua amada mesmo que contra a vontade da sua família e tendo que deixar para trás tudo que possuía até então, e deve que enfrentar uma vida muito diferente da qual estava acostumado, uma na qual ele teria que trabalhar duro todos os dias para conseguir o suficiente para ele e sua amada sobreviverem, e em que teria que controlar bem as suas contas e viver com parcimônia para poder ter aquilo que realmente era necessário, mas pelo menos ele tinha amor.

Os dois passaram vários anos vivendo desta maneira, tendo que viver com apenas aquilo que podiam conquistar com aquilo obtido a partir de seu próprio esforço e com trabalho duro todos os dias, cercados por outras pessoas que viviam desta mesma forma de maneira sofrida, mas mesmo assim eles eram bem felizes com o que tinham, sendo um o mundo para o outro, e tudo teria permanecido assim se o destino fosse mais misericordioso, e assim Elisa deu uma notícia para Pietro que o fez chorar de felicidade, ela teria um filho dele, um fruto surgido a partir do amor que floresceu entre os dois e uma prova da felicidade deles. Após saber disso, ele começou a trabalhar com muito mais afinco para conseguir dar a Elisa tudo que ela precisava e garantir que ela tivesse o descanso necessário para que a gravidez prosseguisse sem qualquer dificuldade, mas ele sabia que aquilo poderia ser difícil demais para ele, e que poderia tentar buscar ajuda de sua família, talvez eles houvessem mudado de ideia após todo este tempo ou a notícia da gravidez de sua esposa poderia ser o suficiente para que eles entendessem a sua escolha, mesmo que não considerassem a escolha correta.  Ele então decidiu prosseguir para uma visita a sua família, deixando para trás uma esposa preocupada com o resultado que aquela decisão traria para suas vidas, mas acreditando que esta era a melhor decisão dada a situação atual, porém o que ele encontrou foi muito diferente do que o esperado, descobrindo que não somente o seu pai havia morrido de uma doença no coração como agora o chefe da família era o tio dele, Lucio, um homem muito mais rígido e cruel, e que não alimentava qualquer tipo de amor por Pietro. Lucio deixou bem claro o que ele achava da atual situação em que Pietro havia se colocado ao enganar este e prendê-lo em um dos cômodos da mansão da família, e então contratando um grupo de mercenários sem escrúpulos para atacar a casa dele e eliminar a sua esposa e filho que haviam sujado o nobre nome Voldracul, contando tudo isso para o meu apenas para ver a expressão de desespero estampada no rosto dele.

Pietro havia vivido ao lado de muitas pessoas com os mais variados tipos de vida durante o tempo que passou com Elisa, e aprendeu muitas coisas com estes, com um velho em particular ele aprendeu como poderia passar por uma fechadura simples como a do quarto em que o haviam prendido, e assim ele conseguiu escapar com cuidado, se jogando pela janela do corredor no segundo andar mesmo com a altura e roubando um cavalo para levar ele até a sua esposa, orando para conseguir fazer a jornada antes do mercenário e ter uma chance de pelo menos lutar para salvar aquela que representava tudo para ele. Mas tudo que ele encontrou foi um monte de fumaça e cinzas no lugar onde costumava estar o seu lar, e ao remexer entre os escombros os restos carbonizados da sua amada que havia sido tirada dele graças a uma única escolha estúpida, se ele a houvesse ouvido nada daquilo teria acontecido. Ele então percebeu que tudo que lhe restava era acabar com aqueles que haviam trazido aquele sofrimento para eles, o grupo de pessoas que ele já considerou sua família mais que agora era o alvo de um ódio completo, ele então atacou um dos mercenários que havia ficado para trás e ousava ficar de pé com um sorriso cínico para o homem em dor, e derrubou este ao chão tomando sua arma e o matando, ganhando forças com a ira que consumia seu espírito. Ele então tomou de volta as rédeas do cavalo e avançou contra as propriedades da família Voldracul armado apenas com uma espada e uma tocha, incendiando os belos vinhedos que haviam fornecido a fortuna de sua família enquanto corria por estes, atacando os poucos guardas que serviam aos Voldracul durante aqueles tempos de paz, até mesmo matando os membros da família que ousavam se colocar em seu caminho, sangue do seu sangue, e finalmente alcançou o lugar onde seu tio o aguardava, preparado para lutar até  seu último suspiro desde que levasse aquele homem amaldiçoado com ele, mas ele não tinha como vencer mesmo com a força que sua ira havia lhe fornecido, ele já  se sentia enfraquecido após tudo que havia passado durante apenas aquele dia e Lucio havia passado anos aprimorando suas habilidades de combate até se tornar um duelista de elite e estava no auge de sua capacidade física, o resultado evidentemente foi a derrota de Pietro nas mãos do tio, com a perda de um de seus braços. Porém a queda de uma das vigas da mansão que agora também era consumida pelas chamas implantadas por Pietro fazia a espada ser lançada das mãos de Lucio quando seu braço era esmagado na queda dela, dando a ele a oportunidade de roubar a arma de seu tio e fugir dali entre a fumaça e as chamas para sobreviver, sabendo que não havia chance de ele conseguir completar sua vingança, e mesmo após todas aquelas perdas a casa dos Voldracul iria se reerguer, talvez ainda mais forte.

Mesmo tendo sobrevivido, ele não era mais capaz de conseguir alcançar a vingança que tanto desejava e fazer os Voldracul realmente perderem tudo que tinham neste mundo como o haviam feito perder aquilo que mais amava, e cada dia que ele vivia se tornou um martírio cada vez maior, todas as lembranças felizes sobre a sua querida Elisa e sobre a sua família agora estavam se tornando uma fonte de sofrimento e raiva, e ele era incapaz de lidar com tudo isto tentando afogar todos testes sentimentos com a bebida barata. Mas ainda havia alguém que ainda acreditava que havia uma maneira dele superar tudo isso, alguém que via ele de maneira diferente do bêbado desfigurado e perdedor que era tudo que muitas pessoas percebiam quando encaravam a forma como ele agia, e esta pessoa estava preparada para ajudar ele a se recuperar em corpo e espírito independentemente do custo que isso teria pra ela. Esta mulher era minha mãe, Violet, uma amiga de infância de Elisa que agora tomava para si a missão de tomar conta de Pietro com a partida da mulher para a qual o coração dele realmente pertencia, e que no fundo sentia um forte amor por ele há um longo tempo, o qual havia enterrado bem fundo em seu interior por respeito ao amor dos dois. Ela cuidou das feridas do corpo dele com todo o carinho e cuidado que podia fornecer, e também tentou tratar das feridas em seu coração, mesmo este nunca permitisse a ela se aproximar o suficiente para fazer isso e nem ao menos se preocupasse com os sentimentos que ela nutria por ele. Com o passar do tempo, ele pareceu se tornar um pouco menos ressentido por conta das suas lembranças, ou simplesmente parou de se preocupar em manter a minha mãe afastada dele por não conseguir dar o seu coração para ela completamente, ele não sentia amor por ela e jamais poderia realmente sentir este tipo de emoção de novo, afinal a única pessoa para a qual seu coração pertencia estava morta, mas ele se sentia solitário e triste e era incapaz de cumprir a única coisa que o mantinha com vontade de viver, o seu desejo de obter vingança contra sua família, ele apenas precisava de alguém perto dele para tentar aplacar toda essa fúria.

Minha mãe nunca foi capaz de conquistar o amor que tanto desejava do coração do meu pai, e eu até mesmo possuo minhas dúvidas se ele realmente me amou, ou se foi capaz de amar qualquer coisa após a morte de Elisa, enterrando o seu coração junto com ela. Mas ele acabou ficando ao lado de Violet mesmo assim, permitindo que ela o ajudasse a manter o pouco de sanidade e vontade de viver que ainda restava e sobrevivesse mesmo com aquele espaço vazio e frio dentro do coração dele, e algumas vezes a noite também permitia que ela o lembrasse do calor de ter alguém que o amava deitada em seus braços. Foi de uma destas noites em que ele deixou que Violet demonstrasse o seu amor por ele que eu fui concebida, e minha mãe sempre disse que o momento em que ele descobriu que ela lhe daria uma criança os olhos do meu pai brilharam como não faziam já há um longo tempo, desde os acontecimentos daquele dia fatídico. Claro que eu as vezes imagino se este brilho em seus olhos era realmente porque ele desejava ter a criança que perdeu antes, ou se apenas por imaginar que essa seria uma oportunidade de ter alguém para herdar o seu desejo de vingança e finalmente levar justiça contra os Voldracul, porém eu ainda fico grata que eu tenha dado uma razão para o meu pai viver, independentemente de ser uma razão que possa ser considerada correta ou errada. Foi uma gravidez difícil, minha mãe já não podia trabalhar e tinha que permanecer em casa para descansar, com uma amiga a ajudando com os deveres de casa, então meu pai deve que encontrar um emprego novamente e se esforçar todos os dias para conseguir o dinheiro necessário para dar a ela tudo que precisava, e finalmente em uma tarde chuvosa e fria eu vim ao mundo sendo recepcionada por minha mãe e meu pai após um longo e doloroso parto com a ajuda de uma parteira.

Meu pai cuidou muito bem de mim e talvez até foi um pouco excessivamente protetor comigo, sempre mantendo um olho em mim, garantindo que nada de errado acontecesse, para que eu não acabasse sofrendo qualquer tipo de ferimento ou acabasse criando laços com alguém que poderiam me levar a sofrer como ele havia, e me concedeu um nome muito especial, o mesmo da única outra pessoa que realmente havia tido importância para o seu coração e pela qual ele vivia até então, Elisa. Eu nunca realmente tive a oportunidade de formar amizades ou até mesmo algum tipo de romance de infância com alguém enquanto meu pai permanecia junto de mim, ele queria apenas garantir que eu me mantivesse segura de acabar perdendo alguém importante para mim e isso eu sei agora, mas na época apenas parecia que ele não queria me compartilhar com o mundo ou permitir que alguém atrapalhasse o projeto de vida que ele estava formando para mim, até mesmo da minha mãe as vezes ele tentava me manter afastada, mesmo ela tendo que me alimentar e cuidar de mim, e sendo ela aquela que trazia o dinheiro para que todos tivéssemos o que comer naquela casa, o que fez com que eu mesmo querendo bem a ela nunca formasse um laço muito forte com minha própria mãe. Minha mãe não ficara realmente ressentida pela forma como meu pai a tratava ou tentava me manter afastada do mundo, protegida dentro do que parecia uma barreira invisível erguida por ele, e sempre estava falando o quando meu pai se preocupava comigo e como ela estava feliz que eu tivesse o ajudado a encontrar novamente uma razão para continuar vivendo após tudo que ele perdeu, e como agora eu era tudo que ele realmente tinha e ele não poderia arriscar-se a me perder também. Por outro lado, meu pai sempre me contava sobre a sua história, sobre como haviam tirado tudo dele e ele havia perdido a oportunidade de pagar eles de volta, e como eu devia fazer isso por ele, de como eu deveria garantir que todos aqueles que haviam causado o sofrimento dele receberem a devida punição, era meu dever herdar o desejo de vingança dele, eu não tinha escolha. Acho que não é completamente errado considerar que eu sofri algum tipo de constante lavagem cerebral pela maior parte da minha infância, sempre sendo colocada como uma posse preciosa do meu pai que deveria estar disposta a retribuir a atenção dele com obediência e como aquela que deveria buscar cumprir o desejo de justiça que o havia consumido por todo este tempo desde o dia fatídico em que perdeu sua primeira Elisa, e de fato passei mais tempo treinando com uma espada sob os cuidados do meu pai sempre vigilante do que brincando com uma boneca como uma criança normal.

Eu não acredito que meu pai quisesse me fazer qualquer tipo de mal, eu realmente acredito que ele simplesmente perdeu a sua capacidade de realmente amar alguém após sua perda, e me via apenas como alguém que deveria seguir o caminho que ele havia definido para sua vida mas que agora era uma trilha impossível para este, no fundo eu sentia que talvez se eu conseguisse dar para ele a vingança que tanto desejava, então eu finalmente poderia ser uma pessoa livre e então ele finalmente seria capaz de dar o seu amor para mim e também para a minha mãe, e viveríamos o resto de nossas vidas como uma família unida e feliz. Foi dessa maneira que eu cresci, e a cada dia meu pai garantia que o meu ódio pelos Voldracul crescesse comigo, mas então chegou uma época em que minha mãe começou a ter dificuldades para conseguir o dinheiro de que precisávamos para continuar vivendo, era uma tarefa muito difícil para uma mulher sozinha conseguir manter uma família de três totalmente sozinha, e meu pai não trabalhava por conta de seu desejo de sempre permanecer perto de mim para garantir que eu crescesse com os pensamentos corretos e não deixar que ninguém atrapalhasse todo o seu trabalho duro em me preparar adequadamente para o destino que me aguardava, mas mesmo se sentindo dessa maneira ele decidiu que precisava conseguir um trabalho novo e ficar algum tempo afastado de casa para conseguir o dinheiro de que estávamos precisando, pedindo a minha mãe que tomasse cuidado para que nada interferisse com a educação que ele havia fornecido para mim até este momento e garantir que eu permanecesse segura acima de tudo. Ele partiu durante a primavera, quando estava na melhor época para  que ele começasse seu trabalho em uma vinicultura, aproveitando os anos de prática e aprendizado que havia recebido de seu pai, uma das poucas heranças que ainda mantinha da sua família, e ficaria por quase um ano afastado de casa para conseguir cumprir o trabalho e conseguir uma boa recompensa que permitiria a nós levar uma vida mais calma por algum tempo, e foi durante este curto espaço de tempo que ele permaneceu com seus olhos vigilantes longe de mim que eu tive a oportunidade de conhecer alguém que mudaria minha vida.

Minha mãe era bem menos protetora do que meu pai, ela não realmente se importava tanto com a obsessão do meu pai em obter sua vingança e precisava se manter trabalhando para conseguir manter a mim e ela vivendo de maneira ao menos adequada, e provavelmente em parte por não ter esta mesma fixação em me criar para vingança que ele tinha me permitiu pela primeira vez ter o gosto de como era ser livre. Algumas vezes, enquanto minha mãe ainda estava fora trabalhando, eu simplesmente andava pela região, observando como as outras pessoas viviam os seus cotidianos tendo que se esforçar para simplesmente continuar sobrevivendo mas como estas também pareciam felizes com a vida simples que levavam, conversando sobre coisas normais como eu não via minha mãe conversando com o meu e se divertindo com coisas pequenas para as quais eu nunca havia dado importância e crianças com brincadeiras bobas que nada se assemelhavam com os exercícios que meu pai me fazia executar todos os dias, todo o tipo de coisa que eu realmente não havia visto antes enquanto estava sendo mantida protegida sob as asas do meu pai. Foi durante um destes passeios que eu conheci Ricardo, batendo de cara com ele enquanto ele corria de um bando de moleques nos quais ele havia pregado uma peça, um garoto alto que era apenas dois anos mais velhos e  vivia uma bem mais animada  e livre, mesmo sendo um órfão abandonado pelos pais e precisando fazer de tudo e trabalhar duro para conseguir comida e talvez um abrigo apenas um dia ou outro, mesmo com tudo isso ele era bem diferente de mim, ele possuía liberdade e um ar de felicidade que eu nunca havia visto antes. Éramos completamente diferentes em cada aspecto das nossas personalidades, e eu havia sido treinada desde cedo para não me aproximar de ninguém, para manter pessoas que pudessem me atrapalhar a cumprir o desejo do meu pai longe do meu caminho, mas surpreendentemente acabamos nos tornando amigos, e com o tempo até um pouco mais. Ele me fazia sentir como se nada mais tivesse importância, como se eu pudesse ser livre para fazer o que quisesse, para ser eu mesma, e com o tempo este sentimento cresceu e mudou. Ele foi meu primeiro e único amor, a pessoa que preencheu completamente o meu coração e a minha vida e que sempre me pedia para permanecer com um sorriso em meu rosto mesmo se eu não estivesse feliz, porque o meu sorriso realmente era muito bonito e sem dúvida deixaria o meu dia mais claro e cheio de vida.

Era uma emoção tão maravilhosa e nova para mim, eu finalmente compreendia como meu pai havia se sentido com a sua Elisa, e cada dia parecia ser melhor do que o anterior enquanto em ficava com Ricardo do meu lado. Mas antes mesmo de meu pai regressar, o conflito estourou entre Takaras e Hylidrus e tudo pareceu mudar com isso, Ricardo não queria apenas ser um menino de rua trabalhando como escravo todos os dias e noites apenas para sobreviver e sem ter qualquer coisa para oferecer para mim além do seu amor, ainda mais agora que começávamos a sonhar com o dia que iriamos nós casar e ter nossa família, mesmo que isso significasse ter que sair dali e me afastar da minha família, exatamente como meu pai havia feito no passado, ele queria dar para mim o mundo e garantir que se um dia tivéssemos filhos eles pudessem usufruir de tudo aquilo que não havia tido. Ele buscou então um meio de entrar para o exército, ele era forte e rápido, e eu mesma havia ensinado a ele como usar uma espada, até o ponto em que ele superou a sua professora, realmente acreditava que poderia ter uma chance de se destacar durante a guerra e talvez conseguir um cargo militar para ter mais dinheiro e então poder encarar o meu pai quando fosse pedir a minha mão. Ele tinha tanta certeza de que tudo iria ocorrer exatamente como ele imaginava, que eu simplesmente não podia me dar ao luxo de duvidar dele por um minuto que fosse, eu queria que ele ficasse ali do meu lado e aonde era seguro mas também sabia que tudo estaria certo com ele e que desta forma teríamos a oportunidade de viver juntos para sempre. Apenas alguns dias depois dele ter partido com um beijo de boa sorte meu, o meu pai retornou do trabalho que ele havia conseguido, aparentemente havia deixado este antes de terminar por conta da repentina explosão da guerra, se preocupando de que eu acabasse sendo levada pela guerra de alguma forma. Ele não percebeu o quanto eu havia mudado durante este tempo afastada dele no princípio, creio que eu consegui esconder como agora estava cheia de amor e esperança em lugar de apenas ódio e desejo de vingança como ele havia me deixado antes, ou se ele notou fingiu muito bem que estava tudo normal e não se preocupou em tomar qualquer medida contra estes sentimentos que afloraram em mim, talvez sabendo que estes iriam desaparecer no momento certo.

Tudo voltou a ser como era antes dele ter partido, comigo sendo tratada como uma prisioneira em uma redoma de cristal criada pelo meu pai, e tendo que ouvir de novo e de novo o quão era importante conseguir a vingança dele e lembrar sobre o fato desta ser única preocupação que eu deveria ter durante a minha vida, mas agora eu sentia que meu coração estava protegido das palavras do meu pai pelas lembranças de Ricardo e os sonhos que nós dois compartilhávamos. Pietro começou a trabalhar como ferreiro junto com alguns outros aldeões na forja local, ele não era um grande ferreiro mas com a guerra o exército precisava de armas rapidamente, e a demanda pela quantidade superava de longe a pela qualidade, meu pai era um aprendiz rápido e logo estava fazendo armas que pelo menos poderiam ser usadas sem problemas pelos soldados durante uma luta, mesmo que nem se equiparassem com aquelas feitas por um mestre ferreiro. Às vezes eu me pegava imaginando a reação dele quando Ricardo voltasse, talvez portando uma arma que ele mesmo havia forjado e que havia sido usada para conseguir tudo aquilo que ele havia partido para conquistar, e então nós dois finalmente poderíamos contar tudo para ele e para a minha mãe e partir com ou sem seu consentimento para viver nosso amor, mas na verdade nada disso aconteceu, porque quando a guerra terminou ele não regressou, ele nunca iria regressar. Um dia outra pessoa da região regressou, alguém que como meu amado foi para guerra buscando glória e fortuna, desejando proteger aquilo que era valioso para ele, mas que só encontrou sofrimento e morte na guerra, e eu fui procurar por este escondida do meu pai desejando saber porque aquele que eu esperava ainda não havia regressado. Ele me contou sobre o campo de batalha e os horrores que havia visto, sobre como a guerra era um lugar onde não havia lugar para misericórdia e onde as criaturas de Takaras atacavam os soldados de maneira violenta, de tudo que ele sentiu enquanto tentava sobreviver entre os corpos dos outros soldados caídos, deixando para trás entes queridos e sonhos que não haviam concretizado, mas também contou como Ricardo havia morrido, tendo vindo da mesma região os dois haviam se aproximado antes mesmo da batalha realmente começar, mas ele havia sido morto com uma flecha envenenada que foi disparada contra o seu coração sem nem ao menos ter a oportunidade de brandir a espada contra algum dos inimigos, a última palavra a sair dos seus lábios sendo inaudível diante dos barulhos que preenchiam o campo de batalha. Uma morte que havia sido rápida e limpa mesmo que não menos dolorosa graças aos efeitos do veneno, e antes mesmo dele ter tido a chance de provar o seu valor e ao menos conquistar um pouco do que ele pretendia quando partiu dali, apenas uma dentre muitas pessoas que caíram no campo de batalha sem ter ninguém para velar por eles ou sem receber qualquer tipo de honraria por terem se preparado para dar suas vidas pelo reino, um sacrifício vazio. Pela primeira vez em minha vida eu havia tido esperança e sonhos, eu tinha alguém que eu amava com todo o meu coração, e tudo isto havia desaparecido em um instante, com uma escolha ruim pelas mãos de pessoas que não compreendiam realmente como o mundo era um lugar cruel e pronto a devorar as esperanças e sonhos das pessoas inocentes que acreditavam que poderiam conseguir tudo que desejavam e ser plenamente felizes. Pela primeira vez eu realmente entendi o meu pai, eu senti o ódio dele, o desejo de queimar todos aqueles que haviam provocado aquele sofrimento para mim, fazer com que eles sentissem aquela dor milhões de vezes ampliada, de ver eles implorando por suas vidas patéticas, tendo cada coisa que amavam e para as quais davam valor sendo retiradas delas, até não restar nada. As pessoas de Takaras, aqueles seres imundos e sem valor, e também os Voldracul, pessoas egoístas e prepotentes, todos estes mereciam morrer.

Cada um deles merece morrer. Cada... um... deles. CADA UM DELES MERECE MORRER!

O desejo do meu pai finalmente era a mesma coisa que eu desejava, eu agora tinha um novo sonho, um sonho onde Takaras queimava sob os meus pés, onde os Voldracul urravam em dor enquanto eram torturados, e em que cada outra criatura desumana que havia feito alguém sofrer como nós havíamos sofrido deveria ser morta da maneira mais horrível possível. Mas para cumprir este sonho eu precisava de poder, eu não cometeria o mesmo erro novamente, desta vez eu não permitiria que uma flecha lançada por alguém sem nome acabasse com minhas chances de finalmente ser feliz, ser completa. Meu pai havia me dado um propósito desde que nasci, e Ricardo havia garantido que eu entendesse porque esse propósito era tão importante, e agora finalmente era hora de eu seguir pela rota que ambos haviam me mostrado. Eu parti de casa, mas não por conta de algum desejo vão de liberdade, ou querendo viver um amor, tudo que eu queria agora era me afogar naquele ódio que fazia tudo fazer sentido e preenchia o vazio dentro de mim.

Eu precisava também encontrar um modo de aumentar meu poder, mas eu não fazia ideia de como, eu apenas comecei a andar pelo continente, procurando por algo que eu desconhecia. A cada dia eu imaginava como estariam as coisas em minha casa, e isto me lembrava do que eu teria que fazer, sobre o que eu havia experimentado, e então eu voltava a minha jornada revigorada. Eu busquei por Hylidrus por pessoas que pudessem me ensinar como lutar, mas tudo que eu encontrava eram aquelas que pareciam não entender a razão porque eu fazia aquilo, eles me questionavam sobre honra e lealdade, mas lhes faltava sofrimento, e por isso também faltava poder. Eu não tinha interesse em alguém que não podia entender o mundo como eu, alguém que não deve uma perda como eu, não apenas alguém amado mas o mundo em si. Minha busca me levou para muitos lugares, lugares onde a maioria das pessoas não caminha, mas por sorte, ou talvez por conta de eu já estar meio morta, eu não realmente enfrentei qualquer coisa que pudesse acabar com meu caminho. Frio, fome, sono e dor, estas coisas não eram realmente um problema para mim, eu já havia me sentido pior do que qualquer uma destas coisas poderia me fazer sentir.

Após caminhar por toda Hylidrus, eu finalmente encontrei o que eu procurava, mesmo que não da forma que eu procurava. Ele tinha os mesmos olhos que eu, os olhos de alguém que via as pessoas ao redor mas realmente não se importava, de alguém que havia sofrido mais do que as pessoas normais poderiam esperar e saiu disto com uma visão mais clara do mundo. Eu me aproximei dele, tentei conseguir que ele conversasse comigo e descobrir que tipo de pessoa ele era, com um sorriso amistoso e tentando realmente ser legal com ele, mas acho que ele via através de minha representação com facilidade. Mesmo assim eu continuei o acompanhando, eu sentia que havia alguma coisa nele que era diferente das pessoas que havia encontrado até então, a verdade é que o físico dele era fraco e ele não portava nenhuma arma, provavelmente ele nem saberia como usar uma lâmina apropriadamente, mas ele liberava algum tipo de aura, uma presença. Eu apenas não poderia descrever isso, eu tinha a nítida sensação de que era ele que poderia me fornecer o poder que eu desejava, e continuei seguindo ele todos os dias.

Mas cada tentativa de conquistar a confiança dele, de convencer ele que eu realmente precisava do seu poder, todas as tentativas de o manipular ou tentar me aproximar dele, cada uma delas foi rechaçada, como se ele pudesse realmente ver diretamente através de mim e perceber cada movimento meu pelo que realmente era. Finalmente, eu fiz algo que nunca pensei fazer, e lhe contei toda a verdade, toda a minha história, a mesma descrita nestas páginas, e o novo propósito que eu tinha, o meu desejo e o meu ódio. E ele sorriu, um sorriso que não era amistoso, mas um pouco sinistro, como se eu finalmente tivesse dado a ele aquilo que ele queria, o que ele havia esperado todo este tempo. Ele me levou para longe da taverna onde o encontrei, para um lugar remoto, eu estava nervosa porque imaginava se poderia ser uma armadilha, talvez de alguma forma ele agisse pelos Voldracul ou alguma outra criatura que me desejava morta. O que ele me mostrou foi uma coisa que eu não havia pensado até então, uma fonte de poder que eu havia deixado passar despercebida: Magia. Não era como a magia aprendida em uma escola de magia ou algo do gênero, como as velhas histórias de fadas com varinhas e magos com tomos antigos, era um tipo de magia primal que provinha de um juramento, um contrato, com uma entidade a muito esquecida. Uma entidade que se alimentava do sofrimento e do ódio, uma criatura ligada a energia da vingança, algo que muitas pessoas simplesmente temiam e da qual fugiam, que havia sido escondida com o passar do tempo.

Ele me contou sua história, de como sua família havia morrido já há muitos anos durante um conflito entre duas famílias de nobres que não tinha nenhuma relação com eles, uma morte vazia de sentido que o havia marcado. Como eu ele buscou por poder, ele treinou e treinou, e um dia encontrou alguém com transmitiu a ele a mesma presença que eu havia sentido, a presença de algo que poderia dar o poder para ter sua vingança, a um preço alto. O preço para ele havia sido destruir uma das famílias que havia sobrevivido ao incidente, um grupo de inocentes que o ajudou a continuar vivo, lhe fornecendo afeto, comida e abrigo mesmo enquanto seu coração estava frio e sem vida. Ele não hesitou em fazer o que precisava ser feito, nem a dor de concluir o contrato pode consumir o ódio dentro dele, ele conseguiu sua vingança, e procurou a de muitas mais pessoas, ele aplacou o sofrimento com mais sofrimento e fez a roda continuar girando. E agora ele estava pronto para passar aquilo adiante, estava pronto para finalmente procurar o descanso e se encontrar ou não com aqueles que havia perdido. Mas ele me avisou do preço, me avisou que eu teria que dar algo que valeria pela minha vida, algo que havia me permitido entender o meu propósito como aquela família feliz que não podia entender ele o fez entender o próprio e se tornou o único laço que ele ainda possuía com o mundo, assim eu também deveria sacrificar o meu laço com o mundo que me havia fornecido o entendimento do que fazer com minha dor, e as pessoas cujo sangue eu teria que derramar eram os meus pais, ele podia ouvir isso através do pacto.

Sacrificar o meu pai pelo poder necessário para obtermos a nossa vingança, uma vingança que havia consumido ele por tantos anos e que ele havia passado para mim em seu desespero, e também dar um descanso a alma do meu pai permitindo a ele se unir com aqueles que havia perdido, em um lugar de onde poderia ver finalmente seu ódio ser consumado pelas minhas mãos graças ao sangue dele. Minha mãe era um pouco diferente, a verdade é que meu pai jamais me permitiu realmente me aproximar dela ou de qualquer pessoa, mas ela havia cuidado de mim também, sem ela eu não estaria viva, talvez eu não a amasse como normalmente uma filha devia amar a mãe, mas eu sentia carinho por ela ainda, e talvez por isso sentisse que aquele era um sacrifício que eu deveria fazer para poder prosseguir no caminho que eu havia escolhido, além de saber que provavelmente seria um ato de misericórdia matar ela ao invés de deixar está viver sabendo que a própria filha havia matado o marido, nós éramos o mundo para ela e sendo minha mãe não queria que se tornasse como eu ou meu pai no final das contas. Por que eu rejeitaria um acordo que só tinha benefícios para todos os envolvidos? Talvez uma pessoa que ainda não entendesse o meu propósito, a força com a qual eu desejava cumprir aquilo e a forma como eu via o mundo, talvez alguém assim pudesse negar este acordo. Mas eu era eu, e para mim parecia um acordo feito especificamente para pessoas como eu, um pacto para aqueles que entendiam o que se ganharia por meio dele, o prêmio que viria daquilo no final das contas, e eu também compreendi porque ele não me mostrou aquilo desde o começo, porque ele temia que eu fosse diferente dele, que eu recusasse o acordo e contasse a outros sobre ele e estes acabassem com a fonte daquele poder. Porém eu havia sido sincera em minha história, eu havia deixado claro que era como ele, e assim como ele eu só poderia dar uma resposta para aquela proposta: sim!

Ele então começou a me conceder o poder daquela entidade, um processo que levaria horas e horas, mesmo que do meu ponto de vista seriam dias, como se eu tivesse passado dias sem dormir ou comer, com minhas roupas removidas para o processo e incapaz de me defender caso fosse traída. O processo era recheado de dor, enquanto centenas de vinhas cobertas de espinhos se enroscavam em minha carne e pareciam me dilacerar do lado de fora e de dentro, enquanto eu era coberta de pétalas de rosas negras que me faziam lembrar de todo o sofrimento na minha vida, de cada lembrança que pudesse me fazer sentir ainda mais dor. No final do processo, era difícil me reconhecer, eu havia sido destruída, meu corpo estava em frangalhos e o chão estava coberto com o meu sangue, eu mal conseguia me mover ou falar, e minha mente parecia estar em branco. Mas eu sobrevive, e então ele finalmente terminou, deixando este mundo tendo seu corpo transformado em uma ilusão, um fantasma pálido que começou a se desintegrar em pétalas de rosa brancas que eram levadas pelo vento. Meu corpo começou a se restaurar, como se por mágica, e provavelmente por mágica, até que eu estava completamente renovada, como se tivesse renascido pela segunda vez, sendo a primeira o momento em que entendi o sentimento de perda.

Tudo que me marcava como sendo a nova portadora daquela benção que muitos poderiam confundir com uma maldição era uma imagem de uma rosa negra nas costas de minhas mãos, com seus talos vermelhos recobertos de espinhos se estendendo até meus cotovelos. Era uma imagem bela, mas que eu podia sentir liberar uma certa aura sombria, uma beleza que escondia uma escuridão profunda, vazia e fria, como eu sentia que era o meu coração agora. Eu recuperei minhas roupas e demais poses e então parti daquele lugar, sentindo uma certa inveja, como se também desejasse poder partir atrás da pessoa para a qual meu coração pertencia naquele momento. Foi uma longa jornada de volta para a casa, eu fui recebida com um grande abraço de minha mãe, e um olhar frio do meu pai, mas tudo que eu disse foi que precisava falar com ele a sós, pois precisava lhe contar toda a história e o que aconteceria agora. Nós nos encontramos a noite, em uma clareira que ficava afastada da cidade e dos olhos curiosos de seus moradores, ele veio portando um machado de lenhador que parecia um pouco velho e cego, preparado para me enfrentar mesmo que somente com um braço restando e com a idade avançada, talvez pensando que eu o culpava por alguma coisa e estava ali para buscar minha própria vingança contra ele, mas tudo que fiz diante desta imagem foi permanecer sentada em uma pedra, e deixar o sorriso que enfeitava o meu rosto como uma máscara se desfazer.

Desta vez fui eu que contei minha história ao meu pai, desde quando ele partiu de casa para conseguir um trabalho até o dia em que eu parti de lá em procura do meu próprio propósito, e de como eu agora o entendia claramente e o por que ele havia feito tudo que havia feito comigo, porque ele tinha esse buraco no coração preenchido com ódio, e que agora eu finalmente estava pronta para fazer o que precisava. Eu contei então sobre minha jornada, tudo que eu havia visto e as pessoas que havia encontrado, sobre a minha busca por algum poder que pudesse me ajudar a cumprir o meu objetivo, trazer sofrimento aqueles que o mereciam, e como finalmente havia encontrado a pessoa que pode me conceder o poder que eu precisava, um poder que existia com o propósito de servir a pessoas como ele e  eu e meu pai, e finalmente lhe contei sobre o que havia passado para obter este poder e qual era o custo que ainda teria que pagar para ter a capacidade de usar este plenamente, sendo este preço a vida de ambos, a dele a da minha mãe. Ele ficou calado e se sentou no chão com as pernas cruzadas, deixando o machado cair ao seu lado como se não precisasse mais dele, e pela primeira vez mostrando uma expressão que sempre achei que ele era incapaz de mostrar: um sorriso.

-- Eu espero por esse momento desde o dia que nasceu. Um dia você iria acabar com essa minha vida, isso é mais um presente do que qualquer coisa, mas algumas vezes imaginei se não faria isso por me odiar, por imaginar que eu tirei de você a chance de ser quem você realmente deveria ser ou colocar um peso como o do meu desejo de vingança sobre seus ombros. Mas você finalmente me entendeu, eu realmente estou triste por você ter passado por todo este sofrimento para isso, eu tentei de proteger de ter alguém que poderia perder e se tornar um lixo como eu, porém em parte eu fico grato por isto ter acontecido e me entender, e então encontrar um propósito maior, maior do que apenas uma vingança ou passar cada dia tentando sobreviver porque acha que a pessoa que perdeu iria querer isso, mesmo não podendo sentir qualquer felicidade por apenas sobreviver. E estou grato por ser o meu sangue que vai dar origem a arma que vai finalmente acabar com aqueles que eu tanto odeio, eu apenas te peço que não mostre a eles misericórdia, faça eles pagarem com muitas vezes o sofrimento que me causaram. E não derrame uma lágrima por mim, pois eu realmente estou feliz!

Ele moveu suas mãos por sobre sua capa removendo alguma coisa dela, e então me mostrando uma espada com uma bainha de madeira, uma espada leve que parecia ser feita sob medida para mim. Ele se levantou com leveza, como se tivesse perdido um peso de sobre seus ombros, e veio caminhando lentamente até o lugar onde eu estava enquanto carregava a arma, deixando-a então cair cuidadosamente sobre o meu colo, agora eu podia ver mais claramente que era um trabalho como ele nunca havia feito antes, e como jamais pensei que ele poderia fazer, uma lâmina bem equilibrada e resistente, mas que mesmo assim demonstrava precisão e também uma forma bela que parecia confortável em minhas mãos, se encaixando perfeitamente em minha postura. Eu me coloquei de pé com ela em minhas mãos e comecei a brandir a nova espada como se enfrentasse um inimigo imaginário, agora com um sorriso infantil enfeitando o meu rosto como se fosse uma criança que havia recebido um brinquedo novo do pai, o que não era muito longe da realidade eu imagino. Ele declarou que aquela era uma espada muito especial, a espada que ele havia conseguido roubar de entre os dedos de Lucio no dia em que eles haviam duelado, e a lâmina com a qual desejava que este perdesse sua vida, se eu pudesse lhe garantir este gosto. Eu apenas sacudi minha cabeça afirmativamente para ele, ainda sorrindo de verdade, algo que não havia feito por tanto tempo, e então comecei a andar até ele com a lâmina erguida, deixando está bem sobre sua cabeça e me preparando para o decapitar com apenas um golpe, tentando lhe dar uma morte rápida e indolor, a última coisa que poderia fazer, e quando eu executei o golpe com o qual encerrei a vida do meu pai ainda pude ouvir claramente de seus lábios: Obrigado!

Eu estava coberta com o sangue de meu pai, mas caminhei lentamente até minha casa, tentando evitar o olho de pessoas que poderiam ter curiosidade sobre a origem daquelas manchas, e finalmente cheguei a minha casa, encontrando a porta aberta e as luzes acessas, me preparando para o que seria a parte mais difícil para completar o pacto que eu havia iniciado. Minha mãe esperava por mim e por meu pai lá dentro, sentada em uma cadeira de madeira velha, a casa parecia mais vazia e suja agora do que antes de eu partir, talvez ela houvesse se tornado mais descuidada após se sentir abandonada por mim, ela estava tricotando alguma coisa de lã, algo que parecia pequeno demais para mim. Ela não me perguntou nada na hora que entrei, acho que ela não esperava realmente que eu fosse fazer qualquer coisa contra o meu pai, que aquilo era apenas um pensamento tolo de um velho que havia se tornado paranoico, isso me fez rir de leve, a ironia na situação de uma mulher como aquela terminar com um homem como meu pai, sem dúvida o amor era um sentimento curioso e estranho. Eu me aproximei dela em silêncio, ela começou a falar comigo, me dizendo que estava feliz por eu ter retornado para a casa e que ela tinha uma surpresa para contar para mim e meu pai, assim que ele voltasse, me questionando de onde ele havia ido após nossa conversa, e se demoraria demais para retornar e comer a refeição que ela havia preparado com todo o carinho para nós, todos sentados ao redor da mesa como uma família feliz.

Começou a me ocorrer a ideia de que o ato que estava prestes a cometer era um pecado ainda mais grave do que ter matado o meu pai, ela estava esperando uma outra criança, um pequeno irmão meu, uma pequena criatura que ainda nem havia começado a respirar e que já compartilhava do mesmo sangue que eu, uma alma inocente que não tinha nenhuma relação com o mundo, nenhum laço com qualquer pessoa além da sua família. Eu agora segurava a espada que me havia sido presenteada por meu pai firmemente, mas parei por um momento considerando todos estes pensamentos, imaginando qual o destino que me esperaria após a morte se ousasse cometer um crime daqueles, mas outra parte de minha mente começou a pensar em como eu já havia sacrificado tanto para estar ali, naquele momento, tão próxima de conseguir o que eu tanto almejava. Aquela criança ainda não tinha nada a perder, ela mal poderia ser considerada como viva se considerando que ainda estava crescendo dentro de minha mãe, e mesmo assim ele carregaria o mesmo nome que eu, o mesmo sangue que eu, e eu não duvidava que acabaria vivendo o mesmo destino cruel que eu havia encontrado, o mesmo sofrimento que eu havia encarado. Não, ali naquele momento ele era um inocente, uma alma que não havia sido maculada com a vida cheia de sofrimento e ódio que aguardava a todas as pessoas caminhando por este mundo, acabar com sua jornada antes mesmo de a começar não era um ato cruel, era um ato de misericórdia, assim como a morte da minha mãe pela mesma arma que havia encerrado a cruel existência de seu amado.

Em um golpe rápido, atravessando a barriga de minha mãe, eu esperava encerrar a sua vida, porém ela não morreu no mesmo instante, ela colocou a mão sobre a ponta da espada que a havia varado o seu corpo. Ela virou seu rosto para mim, sem entender completamente o ato que eu havia acabado de cometer, e então eu pude notar como lágrimas corriam de seus olhos enquanto uma expressão de incredulidade preenchia sua face, ela escorregava de leve pelo lado da cadeira, como se simplesmente estivesse caindo de sono, mas seus olhos ainda estavam vivos e me encaravam, enquanto eu retirava a espada dela, e sua mão se levantava e começava a acariciar o meu rosto de leve. Eu olhei em seus olhos e entendi o que ela estava questionando, qual era a pergunta que agora a consumia por dentro: Por que? E eu respondi a esta questão lhe explicando que aquele era o único modo de concretizar o desejo que havia sido dado a mim por meu pai, de eu conseguir completar a escura e violenta rota que se estendia diante de mim, e eu imaginei se ela realmente podia compreender isso quando ela sorriu, não um sorriso de alegria, mas um de alguém que parecia um pouco triste ou decepcionado, talvez por finalmente perceber que não poderia mudar a nós dois nem ter a família com que sempre sonhou. Meu pai me pediu para não chorar por ele, mas não disse nada sobre a minha mãe, e mesmo que minha alma não realmente sentisse mais tristeza ou sofrimento diante da cena, uma lágrima solitária escorreu do lado esquerdo do meu rosto, para a minha surpresa, diante de mais uma dentre tantas perdas que eu havia passado.

Eu deixei o corpo dela ali quando ela finalmente fechou os seus olhos, a vida finalmente a abandonando para permitir que prosseguisse para o que a esperava adiante, enquanto eu havia sido deixada definitivamente sozinha ali. Mas agora eu podia ouvir claramente o chamado, alguma coisa falava comigo, não em minhas orelhas mas através dos meus ossos, da minha carne, e principalmente do meu sangue, ressoando através destes e me fazendo me prostrar de joelhos. Foi então que a imagem da casa desapareceu da minha frente, e tudo ao meu redor pareceu se desfazer em pura escuridão, como se nada disso tivesse existido antes, e eu estava de joelhos sobre um campo composto de vinhas cobertas de espinhos, portando centenas de rosas das mais variadas cores e formas, mas o que realmente se destacava em todo este cenário era a grande rosa negra diante de mim, que se abriu para revelar uma criatura como eu nunca havia visto antes. Era uma mulher cujo corpo era cristalino e rubro, como se tivesse sido constituído puramente de sangue, e nem ao menos parecia ter pernas pela forma como flutuava sobre as pétalas de rosa no interior da qual havia permanecido até alguns instantes, ela parecia portar um longo vestido de cor escarlate enfeitado por rosas brancas de grande beleza, ao mesmo tempo que portava uma coroa que parecia ser feita de talos de rosas cheia de espinhos e enfeitada por uma única rosa de cor preta, seu rosto era longo e pontiagudo, recoberto pelo que pareciam pequenos espinhos que não estragavam a sua beleza, e olhos que eram completamente negros, e finalmente seus cabelos eram compostos pelas mesmas vinhas sobre as quais eu estava de joelhos, caindo até o chão e então  recobrindo todo aquele lugar,  sendo cobertos por todas aquelas rosas, mas o mais impressionante era a presença que ela liberava, uma forte noção de poder e paixão, e ao mesmo tempo carregada de frieza e raiva fria.

Permaneci ali em silêncio, mesmo com meus joelhos sendo castigados pelo contato com aqueles espinhos, só agora notando que minhas roupas haviam desaparecido, mas isso era apenas um pequeno pensamento no fundo da minha mente diante da cena que se desenrolava ali. Ela permaneceu também imóvel sobre o seu trono, que agora eu notava que deveria ter se formado dos restos deixados pela rosa escura da qual ela havia brotado, e manteve-se em total silêncio por mais um longo tempo, um tempo que para mim pareceram eras de espera até o momento em que ela decidiria o meu destino. E então ela sorriu para mim, um sorriso como o que eu estava habituada para dar todos os dias para as pessoas que eu encontrava e recheado do mesmo tipo de ódio frio e tristeza sem sentido, e eu percebi que de alguma forma ela me entendia, era para ela que eu havia pago com a vida da minha família em troca do poder que ela estava me oferecendo. Eu apenas abaixei a cabeça em referência, não sabendo o que deveria fazer ou dizer, ou se deveria falar alguma coisa específica, e ela se aproximou e começou a afagar minha cabeça com a mão recoberta por espinhos que provocavam dor em mim, mas de alguma forma também passavam uma sensação reconfortante. Ela não me disse o seu nome, ou o seu propósito, nada sobre ela ou sobre a natureza dos poderes que eu iria receber, mas me disse algo bem mais importante em um tom de voz áspero e refinado que eu nunca poderia esquecer.

-- Aceito sua oferta, e te concedo a honra de ser minha nova sacerdotisa! Vá e espalhe a beleza que existe na dor para as pessoas deste mundo! Ensine a elas aquilo que eu vou te contar agora, e viva por estas palavras.

Ela então me disse apenas algumas sentenças simples e diretas, mas que eu notei estarem carregadas de propósito, cheias de significados ocultos e evidentes, apenas três frases que incluíam tudo aquilo pelo que eu deveria viver e o que eu deveria deixar que outras pessoas compreendessem também. Eu agora não era apenas uma vingadora egoísta, alguém que era levada por desejos egoístas de causar dor a pessoas que eram culpadas pelos sofrimentos do meu passado, mas uma verdadeira sacerdotisa portando a palavra de uma divindade, ou pelo menos de alguém que eu considerava como se fosse uma pela dádiva que estava me concedendo. Eu apenas me mantive em silêncio e em um momento estava de volta para o lugar mundano aonde estava antes de ser chamada pela minha deusa, um lugar que agora parecia tão vazio e feio, como se em um instante tivessem tirado toda a beleza neste mundo dos mortais, mas era aqui que eu deveria cumprir a minha missão. Eu então me coloquei de pé novamente, agora novamente portando minhas roupas e equipamentos, mas agora limpos do sangue de minha mãe e do meu pai, mas o corpo dela ainda estava ali no chão, e aquela casa permanecia ali como uma âncora do passado da qual eu precisava me libertar. Comecei a preparar minhas coisas preparando mochilas contendo provisões necessárias para a jornada ainda desconhecida que eu iria enfrentar logo, e então terminei a última refeição que minha mãe iria me oferecer antes de eu virar as minhas costas para aquele lugar, mas não para o que ele realmente representava para mim. Eu então comecei a espalhar óleo pela casa e os móveis, e finalmente cobri o corpo da minha mãe com este, eu pensei se deveria dar o mesmo tratamento para o meu pai, mas talvez eu devesse permitir que a natureza desse um jeito em seu corpo, ou dar um túmulo para ele, estes eram meus pensamentos enquanto pegava minhas coisas e saia da casa, deixando uma tocha cair no chão enquanto saia e dar fim aquela casa que já não tinha nenhum morador que a chamasse de lar. Dali eu acabei seguindo para o bosque, no local onde eu havia tirado a vida do meu pai, seu corpo ainda estirado ensanguentado no chão, eu havia pego uma pá perto de casa antes de chegar ali e comecei a cavar um buraco, esperando que a benção da Rosa, como eu iria chamar a minha protetora dali em diante, me permitisse encerrar o que eu deveria fazer logo para também poder ter meu descanso, e então depositei o cadáver sem vida ali e o cobri com terra, fazendo dali o leito final de meu pai, sem qualquer coisa que servisse para marcar aonde ele jazia além da terra remexida, mas sabendo que estava feliz descansando naquele lugar, aonde havia me dito que costumavam ficar as cinzas do seu antigo lar com Elisa.

Desta forma eu finalmente parti, sem deixar para trás nada que pudesse me atrapalhar durante a concretização do serviço que me aguardava durante aquela jornada em nome da Rosa, um caminho solitário no qual eu apenas poderia contar com as minhas memórias e a dor que elas traziam para mim. Aonde eu deveria buscar mais poder a seguida? Por onde eu deveria começar a espalhar a palavra da Rosa? Esta era a minha principal questão... talvez eu devesse procurar alguma forma de aprimorar as minhas artes com a espada, me tornando uma guerreira que brandia meu Espinho, como eu chamaria aquela espada, contra inimigos que merecessem a retribuição devida pelo sofrimento que causaram, ou procurar compreender mais do poder que agora eu portava dentro do meu sangue e a ligação existente entre mim e a deusa Rosa, um poder cujas origens e capacidades completas ainda eram um misterioso inescrutável para mim, e com o qual também poderia completar o propósito da minha nova vida. Ou talvez eu devesse buscar por ambas estas rodas, e assim me preparar para enfrentar qualquer tipo de desafio que encontrasse a frente, sendo capaz de trazer a dor justa aos inimigos tanto pela espada como por meio dos espinhos da Rosa. Independente da rota que eu seguiria dali, eu já havia dado o primeiro passo desta árdua jornada e estabelecido o propósito que me guiaria durante esta, e este havia sido um longo e sofrido passo, mas apenas um passo.

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A Trilha da Rosa IXiBCqC

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Juliet Baskerville
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