[IL Livre] Encontros aleatórios

Maldito vilarejo e seus habitantes. Era obvio que não havia nada ali que me interessasse, uma vez que não queria mata-los, minha unica opção seria ir embora. Mas eu estava tão próxima, Galtus estava certo em me dado aquela informação, talvez uma das poucas fontes em quem podia confiar. Mas permanecer em meio àquelas pessoas já estava me deixando transtornada, aos poucos minha natureza assassina ia aflorando cada vez mais, eu já estava num ponto onde estava prestes a cometer uma besteira... "Besteira? Esse é o ciclo da vida, onde há um coração pulsante, sempre haverá algo ou alguém para faze-lo parar, a morte é algo inevitável..." Maldição! Porque estes pensamentos não paravam de vir a minha mente? Será que eu estava enfim me tornando aquilo que eu mais odiei durante metade da minha vida? Uma assassina fria e sem sentimentos? Não, era apenas a fome me deixando louca e colocando coisas na minha mente, tinha certeza. Fazia quase 4 dias que não me alimentava decentemente, e isto estava começando a se refletir de forma extremamente negativa em minha personalidade e até na aparência. Ja era praticamente impossível esconder os caninos, e a expressão fria e macabra da minha vampira interior já se mostrava presente. Sem outra saída, resolvi que era hora de ir embora, peguei a primeira saída que vi, em direção às montanhas e segui a estrada. Não era algo muito sensato, mas ao menos me impediria de fazer algo do qual eu certamente me arrependeria depois. Algos minutos se passaram até que eu notasse uma presença, alguém estava me seguindo? Será que descobriram? Seria um dos soldados de Hilydrus? Continuei andando, mas dessa vez saí da estrada e fui em direção a floresta de pinheiros, que ficava no pé dos montes gelados do norte. Ali, tentei uma manobra mais evasiva, andando em zig-zag pelas arvores até ter certeza que estava fora do alcance da visão do meu perseguidor, em seguida fui para trás de uma arvore e olhei para trás afim de ver de quem se tratava. Minha surpresa fora bem grande quando percebi de quem se tratava. "Aquela maga? Mas porque ela esta me seguindo? Maldição... Não quero ter que ataca-la, mas se ela sabe de algo sobre mim... Não terei escolha." Era noite, e a maga andava com uma tocha nas mãos, sua capa marrom era a unica coisa visível, mas graças a minha visão mais aguçada, enxerga-la em meio à tundra escura não era um grande problema. Era visível que ela estava me procurando, então marquei seus passos e tentei dar a volta nela sem que ela notasse, para mim não seria muito difícil, uma vez que sua visão era bem mais limitada que a minha naquele ambiente. Assim que estivesse em sua retaguarda, pegaria-a de surpresa, prendendo seus braços e envolvendo seu pescoço num mata-leão. Após isso era hora de fazer umas perguntinhas.

- Porque está me seguindo? O que quer de mim? Diga rápido, não estou para conversas hoje. - Minha voz estava levemente mais grotesca, como a de um animal, mas este era só mais um dos reflexos da natureza vampírica ascendendo em minha mente.

“A diferença entre os humanos e os animais, é que possuímos a capacidade de refletir e tomar as decisões corretas, nos momentos certos. Mas esta é uma dadiva que ao mesmo tempo pode ser uma benção, e uma maldição. Nem sempre as escolhas que fazemos nos levam para os melhores caminhos.”

Ali. Tão próxima de seu corpo quente, era como se seu pescoço gritasse para que minhas presas o perfurassem. A sensação de ter seu próprio corpo saindo de seu controle, era ao mesmo tempo desesperadora e excitante. Certamente meu coração estaria disparado agora, se este ainda batesse com avida em mim. Mas eu não era mais eu, eu não era mais uma pessoa. Mas o que eu sou? Um monstro sem coração e sem alma? Que mata por prazer e se alimenta de suas vitimas? Não... Eu não lutei durante anos para isto, eu sou muito mais que isso. Eu sou Saphira, a elfa negra de Takaras, este corpo é só uma casca, e minha verdadeira essência ainda é a da elfa que vivia nas florestas escuras da tortura, caçando e vivendo apenas da natureza, com a natureza. Eu não sou uma assassina! – Vá embora! – E com um grito quase gutural, joguei Lyza para longe e me afastei com um salto. Estávamos agora a uma distancia considerável. – Eu... Eu não preciso... Da sua ajuda. Va embora!

Eu estava pouco me importando com o clima naquele momento, minha mente agora estava dividida entre a sanidade e a loucura. De alguma forma muito estranha, aquela mulher tinha o poder de atiçar meus sentidos, de uma forma que nem eu imaginava que era possível. Era como se ela possuísse algum tipo de poder oculto, e que era muito efetivo contra mim. “Por que será que ela faz isso? Ela é só uma humana qualquer...” Aos poucos fui me afastando dela, andando de costas até tocar numa arvore, levando um breve susto. – Vá embora, isso não é da sua conta. Volte pra Calm, é perigoso demais ficar aqui... – E com isto eu saí andando, deixei-a la caída na neve e fui para qualquer lugar. Pouco me importava o rumo agora, só precisava me afastar, o máximo que pudesse daquela vila, daquelas pessoas... Dela.

Continuei correndo em direção à lugar nenhum, até encontrar os primeiros rochedos pertencentes às montanhas da neve eterna. O lugar não recebia aquele nome atoa, os ventos ali eram impiedosos e a camada de neve que cobria as extremidades das montanhas tão grossa, que se por um acaso viessem a sucumbir a força dos ventos, poderiam soterrar toda aquela tundra em instantes. A tempestade, como dito por Lyza, estava piorando cada vez mais, a fome e o frio só me faziam raciocinar menos, mas a situação só piorou quando percebi algo chocante. “Ela ainda está me seguindo?!” Sim, aquela sensação, minha habilidade já havia sido usada nela há pouco tempo atrás durante a batalha de Calm, ela já estava marcada, mas por que? Por que ela estava me seguindo? “Droga, que mulher teimosa, parece aquele mago maldito...” Assim que pensei nas palavras mago e maldito, a imagem de Kalahan veio à minha cabeça. Mas não uma imagem qualquer, uma lembrança em especifico ainda atormentava minha mente, mas era uma lembrança que eu fazia questão de manter comigo. “Eu não sou um monstro... Foi isso que ele me ensinou em Calm, é assim que farei...” Não demoraria até que a tempestade nos soterrasse, mas aquele certamente era um problema muito maior para Lyza do que para mim. Eu poderia aguentar o frio, mas e ela? Estava arriscando sua vida por alguém que ela nem ao menos sabia quem era. Quando me dei conta de tamanha dedicação daquela maga, resolvi que era hora de voltar, talvez realmente fosse possível receber a ajuda de um humano afinal...

Correndo na neve, sentia a presença da maga cada vez mais perto, já havia estado com ela tempo o suficiente para poder usar a habilidade sem a necessidade de vê-la pessoalmente. - Está perto... Está se aproximando e bem rápido. - Lyza estava em movimento, e parecia estar correndo, o que podia não ser um bom sinal. Ao longe, ouvi o rugido de uma fera selvagem, mas assim que encontrei Lyza percebi do que se tratava. A maga estava sendo perseguida por lobos cinzentos, estes que estavam se aproximando rápido. A maga tentava usar sua magia para afasta-los, mas as feras sedentas não desistiam. "Hora do lanche..." Calculando bem a distancia da maga para Saphira, e a direção para onde ela seguia, me preparei subindo numa arvore, e assim que eles passaram por mim, saltei sobre dois deles, cravando as adagas em suas costas e matando-os instantaneamente. O terceiro porem não parou, e meu ataque acabou por distrair Lyza, que parou assustada e foi pega pelo animal. - Lyza!

Eu havia chegado a tempo para salvar a vida de Lyza, mas por uma ironia, fora justamente minha presença que a fez se descuidar e perder o foco do inimigo. O ferimento em seu braço poderia ser um problema, mas o maior de todos era eu. “Eu preciso me controlar, já passei por isso antes, vamos Saphira, você não quer mata-la...” O cheiro do sangue daquela mulher era embriagante, mas eu fiz o máximo que pude para não voar em seu pescoço e sugar toda sua vida. Me aproximei devagar e tentei ajuda-la como pude para estancar o sangramento, mas ainda que conseguisse ajuda-la, tínhamos um ultimo problema a ser resolvido, e bem rápido, a tempestade. – Temos que sair daqui depressa, venha. – Eu a ajudei a se levantar e ofereci ajuda para leva-la a vila, mas quando me dei conta de onde estávamos, percebi que a trilha havia sumido completamente com a neve, e devido a fuga dos lobos e toda aquela correria, eu já não fazia mais ideia de onde nos encontrávamos.

- Não... - Não fazia a menor ideia de para onde ir. Havíamos nos embrenhado demais naquela mata e a trilha estava muito longe. Mas para minha sorte, minha visão era boa o suficiente para identificar alguns pontos de referencia. - Vamos andando. As montanhas ficam para aquele lado, então temos que ir para o lado oposto, talvez encontremos Calm assim. - Era uma hipótese um tanto vaga, mas que ainda assim fazia algum sentido, e poderia dar certo. E ainda havia um ultimo problema. Naquele meio tempo, eu havia perdido minha presa, e agora estava com fome e sem ter o que comer, e isso logo se tornaria um problema.

Lyza não conseguia ver as montanhas, mas imaginou que Saphira com sua visão mais aguçada fosse capaz de vê-las, e confiou na direção que a mulher estava lhe dando. Seguindo ao lado dela de volta para Calm, a maga não pode deixar de notar que Saphira estava diferente, parecia estar sofrendo, suas feições eram de alguém que sentia uma angustia muito forte, mas estava lutando para esconder. Após cerca de 10 minutos de corrida finalmente avistamos a cidade, e bem a tempo de fugirmos da tempestade. - Ótimo, chegamos, muito obrigada. Tem um lugar para ficar? - Perguntou Lyza se preocupando um pouco com o bem estar da companheira.

Enquanto caminhávamos eu evitava ao máximo olha-la diretamente nos olhos, pois ela certamente perceberia que eu estava diferente e isso poderia comprometer meu disfarce. Mas era difícil esconder a ansiedade quando um vitima tão promissora andava ao meu lado. Quando chegamos a Calm, eu apertei mais o passo, mas para não ser rude demais com Lyza, apenas respondi que não precisava se preocupar comigo. - Não se preocupe, conseguirei um lugar... antes preciso... Resolver uns assuntos. - E saí dali a passos rápidos e ansiosos.

A atitude de Saphira fora ainda mais suspeita após a chegada a Calm. Quem em sã consciência sairia para resolver qualquer coisa naquela tempestade? Fora aquele ar de angustia que pairava sobre a drow. “Eu sei que isso não é da minha conta, mas não posso simplesmente ignorar a dor dela e fingir que não vi nada...” E quando ela saiu, esperei mais algum tempo e segui seu rastro, mesmo estando bem difícil, ainda assim consegui acompanha-la pelas ruas de Calm. “Só espero que ela não me veja...”

Saí andando pelas ruas bem rápida afim de despistar a garota, em seguida eu correria atrás de uma vitima, mas aquele cheiro de sangue era inconfundível, e após algum tempo eu percebi que havia algo errado. “Mas o que...?” Era ela de novo, mas porque ela insistia tanto em me seguir? O que havia de errado com ela? Será que ela havia percebido algo? Virei num beco rapidamente, e depois subi no telhado, queria dar a volta e chegar por trás, e assim que ela entrasse eu atacaria. – O que você quer comigo, mulher? Já não lhe disse para não me seguir? – Falei entredentes, era hora de passar alguns papeis a limpo.

Saber o que estava havendo? Ou ela realmente era muito inocente, ou uma péssima mentirosa. Então me lembrei que Kalahan havia apagado totalmente das memorias dela o incidente daquela noite. “Desde aquela noite, eu fiz de tudo para esconder minha identidade, inclusive andar no sol sob os efeitos da magia de Kalahan... Talvez ela esteja mesmo falando a verdade...” Mas se ela realmente não sabia de nada, o que fazer? Eu já estava tomada pela fome, não aguentaria nem mais um minuto, mas eu não queria ter que mata-la... “Você não precisara matar mais ninguém em nome de sua sede, isso irá ajudar você de agora em diante.” Sim, Kalahan havia me dado um presente, e agora eu era capaz de morder alguém sem ter que mata-lo ou passar minha maldição adiante... – Você quer mesmo saber o que está havendo? Espero que se arrependa de suas palavras... – E sem mais cerimonias, eu cedi à enorme vontade, agarrei-a por trás segurando seus braços rente ao corpo e cravei os caninos no pescoço dela, só esperava que eu tivesse forças para solta-la antes que ela morresse.

E depois de dias sem beber uma gota de sangue, aquela mulher parecia um verdadeiro banquete, o sangue daquela maga era tão delicioso que era quase impossível parar. “Não posso mata-la! Não posso mata-la! Não posso mata-la!” Minha mente resistia, mas meu corpo pedia por mais, e aos poucos Lyza ia perdendo as forças, ela já não conseguia mais resistir à mordida e seu corpo estava mole, era questão de segundos até que desmaiasse, e talvez um pouco mais para que morresse... “Chega Saphira, chega!” Agora chegava a parte mais difícil daquela prova, parar de sugar seu sangue antes que ela morresse. No estado atual em que Lyza estava já era perigoso para sua vida, mas por algum motivo, eu não conseguia solta-la, estava numa espécie de frenesi e mesmo que minha mente lutasse contra aquilo, parecia que meu corpo não respondia mais aos meus comandos. “Não deixe que a maldição te domine de novo, Saphira. Você é mais forte que isso, você é quem domina, não o vampiro...” Eu é quem domino, não o vampiro, e com um esforço colossal consegui solta-la enfim. A primeira coisa que fiz foi puxa-la um pouco mais para dentro do beco, mesmo as ruas estando vazias devido a nevasca, eu preferia me assegurar que não seriamos vistas de forma alguma. Em seguida chequei se ela ainda estava viva, seu coração ainda batia, mesmo que num ritmo mais desacelerado que o comum, e seu corpo estava um pouco gelado. – Tenho que tira-la daqui rápido. – Coloquei o corpo dela em minhas costas, passando seus braços pelo pescoço e a carreguei até a hospedagem onde ela havia ficado da ultima vez. Para sorte dela, Lyza havia convidado algumas vezes Saphira para ir até a estalagem, depois que soube que a vampira dormia na rua e improvisava durante a noite.

- Bem vindas, senhoritas, algo errado com ela? – Disse o senhor que atendia na recepção com uma expressão um tanto curiosa e preocupada.

- Minha amiga bebeu um pouco demais, preciso leva-la até seu quarto, ela já está hospedada aqui.

- Qual o nome da jovem?

- Ela é Lyza Simons, eu me chamo Saphira. – E velho pegou um enorme livro debaixo de sua mesa, folheou-o por alguns segundos e depois apontou para a pagina em que lia.

- Aqui está, ela está hospedada no 2 andar, a ultima porta a direita, aqui está a chave. Precisa de mais alguma coisa?

- Leve uma refeição e vinho para o quarto, se possível... – Antes dele perguntar eu já estava subindo as escadas com ela, tinha muito pouco tempo para conversas, ela precisava se esquentar imediatamente. Quando chegamos ao quarto coloquei-a sobre a cama e a cobri com alguns cobertores que achei nas gavetas. Ela estava tremendo de frio, sinal de que a febre estava só aumentando, e isso não era um bom sinal. Acendi algumas velas para iluminar o quarto e fechei as janelas, em seguida peguei um pano e uma jarra de agua fria, umedeci um pouco o pano e coloquei sobre a testa dela. – Arhhh... Não tem mais nada que eu possa fazer agora, a não ser esperar e ver o que vai acontecer... – E eu esperava que desse tudo certo, para meu bem e o bem dela. Algumas horas depois o homem trouxe a refeição que pedimos, dei a ele algumas moedas e deixei a comida sobre a mesa da cabeceira, a espera que ela acordasse. Enquanto esperava acabei por pegar no sono numa cadeira ao lado da cama, um sono profundo mergulhado no silencio da noite.

Eu estava cansada, mesmo depois de ter conseguido me alimentar, toda aquela historia de caminhar pela floresta na nevasca e lutar contra lobos havia drenado mais energias do que eu queria. No fim, acabei adormecendo na cadeira por algumas horas, mas um som me despertou, a madeira à minha frente estalou algumas vezes e eu escutava agora a respiração rápida de Lyza. Ela havia acordado, estava bem afinal e isso era um alivio, mas o que será que ela faria agora? Resolvi que esperaria por minha resposta daquela forma, fingindo ainda estar dormindo para então saber qual seria a verdadeira intenção da maga. A jovem se aproximava na surdina, mas naquele silencio, com portas e janelas fechadas, minha audição podia captar até mesmo o crepitar da leve chama da vela com nitidez, perceber sua aproximação não era muito difícil. Deixei que acontecesse, e quando ela estava a minha frente, abri de leve os olhos para perceber. Ela portava uma “arma”, ela realmente queria me matar, mas eu não a culpava, não depois do que fizera com ela. Quando ela levantou o braço, agi de imediato segurando-o no meio do caminho antes que me atingisse. Abri os olhos e a olhei com uma expressão séria, mas não muito assustadora. – Você queria mesmo me matar com um espelho? – Disse ainda segurando seu braço. Apesar de já estar de pé, ela ainda estava bem fraca, e não seria difícil para-la se precisasse.

- De você? Eu não quero nada, você quem resolveu me seguir lembra? E o porque de eu ter lhe enganado? Isso já é mais complicado... Teria confiado em mim se eu tivesse lhe dito desde o inicio o que eu era? – Olhei fixamente em seus olhos, procurando algum traço de hesitação em seu desejo por minha morte, mas não sabia dizer se era legitimo ou não. – Eu a mordi, porque você pediu... Não queria a verdade? Esta é a verdade.

Ela estava furiosa com minha atitude, mas estava titubeando, isso era bom, talvez ainda houvesse esperança de convence-la. Fora que ela estava começando a fraquejar fisicamente, ela estava tremendo e eu não sabia dizer se era frio, fome ou o efeito de ter perdido tanto sangue. Talvez fosse tudo de uma única vez, era impressionante a força que essa maga tinha para ainda manter-se firme em sua pose de durona. Precisava acabar com essa discussão logo, ou ela não descansaria. – É melhor se deitar, não deveria nem ter se levantado... Sobre a mordida, bem. Você não me deixou escolha, eu tentei varias vezes afasta-la, faze-la desistir de me seguir, mas você insistiu. Parte da culpa também é sua por isso.

- Se sua única preocupação for com a maldição, pode esquecer... A maldição só será passada caso EU queira que isto aconteça, caso contrario, você está livre para viver sua vida livremente... – Bom, esta era minha ultima carta na manga. Soltei seu braço e baixei a cabeça fechando os olhos. Era triste ter que fazer aquilo, mas se ela quisesse realmente me matar, não teria outra escolha a não ser derruba-la e coloca-la de volta na cama. Mas a tristeza maior, era ver a força com o qual ela repudiava minha raça, e isso me deixou ainda pior.

- Você até pode estar certa quanto a você, mas e quanto aos outros? Acha que eles aceitariam lutar ao lado de uma vampira? Certamente teriam me matado na primeira oportunidade, ou no mínimo me abandonado na neve para congelar ou ser morta pelos orcs. – Levantei os olhos de novo, e olhei para a mesa de cabeceira. O prato que havia pedido ainda estava lá. Frio. – Pedi comida para você, sabia que estaria fraca e faminta quando acordasse. – Deixei que ela pegasse o prato para então continuar. – Você precisa entender que não é questão de enganar você ou os outros, é uma questão de sobrevivência... Nem todos os vampiros são assassinos frios e sem coração, Lyza. – Disse olhando em seus olhos. – Alguns de nós simplesmente não tiveram escolha... Como eu. Fui transformada contra minha vontade, mas a diferença entre eu e os outros de minha espécie, é que escolhi não me tornar igual a eles, pois infelizmente não há mais como eu voltar atrás... – Havia, mas este era um assunto que não queria abordar agora para não criar ainda mais confusão naquela noite.

Suspirei quando ela me fez aquela pergunta, e depois relaxei todo o corpo. Como dizer a ela que eu estava em busca de um sonho que talvez nem existisse? Talvez fosse melhor não dizer nada, a noite já havia sido atribulada demais para ambas. – Melhor descansar, esse não é o tipo de assunto que deve ser tratado neste momento... – Eu não gostava de mentir, portanto apenas omiti a verdade, assim como havia feito todo esse tempo, e quando ela adormecesse de novo, pela manhã eu partiria sem deixar vestígios, pelo próprio bem meu e dela.