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> Se quer dinheiro rápido, precisa ser rápido também! O Corcel Expresso está contratando aventureiros corajosos para fazer entregas perigosas. Por conta da demanda, os pagamentos aumentaram!

> Honra e glória! Abre-se a nova temporada da Arena de Calm! Guerreiros e bravos de toda a ilha reúnem-se para este evento acirrado. Façam suas apostas ou tente sua sorte em um dos eventos mais intensos de toda ilha!




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Mensagem por NR Sérpico Qua Nov 25, 2015 11:42 pm

Relembrando a primeira mensagem :


BALLTIER
PV: 100%
PE: 100%
Itens:
Detalhes:


BONES
PV: ?%
PE: ?%
Itens:
Detalhes:


HO
PV: 100%
PE: 100%
Itens:
Detalhes:


SEAN
PV: ?%
PE: ?%
Itens:
Detalhes:


SOLLRAC
PV: 100%
PE: 100%
Itens:
Detalhes:


Recuperação de energia
Funciona assim: após um tempo de descanso, o personagem recupera certa quantia de energia + o seu valor em Vigor. Então, segundo a tabela logo aí abaixo, se eu descanso por 1 hora e tenho Vigor 4, recupero 54% de energia. Essa é uma recuperação passiva, mas exige descanso, que é exatamente ficar parado, recuperando o fôlego, tirando uma soneca. Se o personagem está cavalgando, por exemplo, então ele não está descansando e não se recupera.
1 minuto: 5%
5 minutos: 10%
20 minutos: 25%
1 hora: 50%
5 horas: 100%

Recuperação de vida
Recuperação espontânea sem necessidade de descanso. Referente à dano físico, no corpo.
1 minuto: Inconsciência
5 minutos: 25%
20 minutos: 50%
1 hora: 100%
5 horas: Ressurreição


Última edição por NR Sérpico em Seg maio 08, 2017 1:18 pm, editado 50 vez(es) (Motivo da edição : ue atua de forma clandestina no submundo)
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Mensagem por Knock Sáb Nov 12, 2016 11:13 am

Estava correndo e fui me tranformar, mas deu tudo errado. Perdi velocidade, mas a transformação não se concluiu. Aquilo nunca havia acontecido comigo. Talvez eu estiesse sem energia. Que péssima hora para aquilo acontecer. Recebi o encontrão dos dois cães que vinha da minha frente. Vax estava atento e deu um salto já lutando contra os cães, nisso fui jogado para trás e os cães que eu havia despistado me pegaram. Uma mordida no pescoço, um soco reflexo.

Eu estava cercado e já ouvia mais uivos. Não tinham armas ou locais para os quais eu pudesse correr, não via Aurélio. Teria de dançar.

Me armei com os unhos fechados. Tentaria me transformar novamente. Vi Vax de lado lutando apenas com as garras. Então se não conseguisse, tentaria ao menos fazer garras com chamas no lugar das articulações do carpo para tentar aumentar o dano enquanto golpeava. Se não conseguisse, iria bater com os punhos secos.

O plano era bater até que todos. Uns diriam que não era factível, mas eu não queria apelar para um dos soberanos mesmo que fosse legal” vê-la novamente. Agora o cenário estava tão bonito. Friozinho chato... Eu tinha rasgado a roupa também. Uns cães brabos. “Êta merda” soltei baixinho

Tentei me transformar um cão escroto desses para tentar me misturar ao menos se não conseguisse, tentaria algo rápido para fugir dali com Vax. Se eu não conseguisse, iria para a agressividade pura sem ligar para nada além de ver os cães correndo entre os rabos entre as pernas (embora fosse quase impossíel de ver isso acontecendo, era a minha esperança. Aquele lance que se fala antes de uma batalha e tal eheueh). “Vamo lá que o trabalho mesmo nem começou!”

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Mensagem por NR Sérpico Dom Nov 20, 2016 1:41 am

38. Punhos molhados

Conseguiu uma garra, e com ela rasgou a fuça do primeiro cão que caiu sobre si. Sentiu dentes em sua panturrilha esquerda enquanto seu punho descia sobre a cabeça de um terceiro animal. Houve um encontrão em suas costas com intuito de jogá-lo no chão novamente, mas Ho pisou firme, girou, dançou. Soltaram a panturrilha e pegaram o braço direito, ele chutou um, agarrou o outro, girou e o arremessou. Vultos se movendo ao redor. Talvez fosse hora de se desesperar, mas Ho apenas continuou de pé, socando, rasgando com a única garra, tentando ser mortal a cada golpe enquanto recebia mordidas e rasgos. Já sangrava em seis lugares diferentes e ofegava, mas o frio da cidade balanceava as coisas em seu corpo já na febre da guerra. Em algum momento caiu e sentiu o peso de dois deles em suas costas. Agora já enfrentava mais do que meia dúzia, e pelo canto do olho tinha a vaga impressão de que Vax estava na mesma situação. Se ergueu, caiu outra vez. Sentia dor e ódio, estava banhado em sangue e saliva de cão, sua roupa era frangalhos, o chão sob seus pés era uma paçoca úmida e escorregadia, terra e sangue e suor. Torceu o pescoço de um, arrebentou com a coluna de outro. Mais vultos ao redor. Catou um menor, rugiu e girou com ele, lhe usando de arma. Varreu ao menos cinco cães com esse movimento e aí outros cinco já tomaram seus lugares. Seus punhos estavam molhados, um deles mordido e com os dedos tortos. Sangue escorria de um ferimento na testa para dentro de um de seus olhos. Estava rodeado pela neblina, quase não enxergava além de dois metros. Era só uma questão de tempo.

Então, asas. E fogo.

Ho sentiu o calor muito depois de ver as chamas. Elas acertaram o chão a sua frente, queimando uma horda de bestas ocultas na neblina, e continuaram numa carreira reta. Ho se jogou de lado e as chamas passaram rente, ardendo a rua, fazendo a sujeira do solo estalar. Depois veio o vento — foi um voo rasante — e a neblina perdeu densidade.

O ambiente se revelou outra vez: havia ao menos 30 cães ali. Metade disso estava no chão, inerte pelos golpes de Ho ou então ganindo alto com chamas sobre seus corpos.

Ho olhou para o alto e reconheceu o dragão. Sim, era o mesmo que levara Sean. Ele parecia fazer um círculo no alto, para voltar e descer em outro rasante contra a rua cheia de cães. Ho não conseguiu precisar se tinha alguém montado nele, se Sean estava lá no alto, entre as asas do bicho. Mas teve a vaga impressão de escutar um chamado, não o seu nome, mas um simples...

— Por aqui. — Como se a voz falasse em sua cabeça.

A direção, era rua abaixo — o caminho que ele já vinha seguindo antes. E, de alguma forma, sabia que teria de virar na segunda a direita até achar uma... fortaleza ou algo do tipo. O chamado vinha de lá.

O dragão criou uma distração que permitiria à Ho sair correndo agora, agora mesmo. Talvez conseguisse deixar os cães para trás. Mas aí teria de deixar Aurélio e Vax também — pois não haveria tempo de ir socorrê-los e depois correr dos cães. Se transformar num deles também parecia impossível — Ho não se sentia capaz de tal façanha. Teria de escolher rapidamente o que fazer a seguir. Mais uma rodada de dança com os inimigos poderia ser ruim, dependendo da estratégia. Mesmo com um dragão aparentemente lutando ao seu lado, os cães ainda viam Ho como alvo principal.

***

Duf fez que sim.

— É verdade — disse, como se falar fosse difícil. — É verdade, ela é o verdadeiro oponente. — No final olhou para Sean não com uma ponta, mas sim uma grande lacuna de dúvida. — É, ela, é. Ahn... É. Concordo.

O guardião ficou um tempo em silêncio, como se avaliasse a questão com calma. Disse de forma imparcial, sem demonstrar se acreditava ou não no que Sean contava:

— Então cadê ela? — a espada ainda estava pronta, talvez seus músculos ainda estivessem considerando algum movimento rápido, uma reação explosiva escondida atrás daq1uela calma de pedra. Com a voz mais dura, acrescentou: — O que ganha com isso, corvo? Hm? Servindo à essa tal mulher?

Duf, antes, tinha negociado o silício com Sean. A barganha envolvia enfrentar o tal guardião. Agora Dufreine parecia ou esquecido disso tudo, ou simplesmente já era muito amigo de Sean e não o queria ver lutando com aquele homem. Ou então ele estava com medo por si mesmo, por estar junto de Sean na sala. Uma coisa era certa: ele começou a recuar para ir embora.

— Vá, corvo — disse o guardião, não se importando realmente com a resposta para sua pergunta de antes —, e chame sua mestra. Estarei aqui, esperando quem quiser ter o que guardo. Quanto a você, nunca mais volte.

Sean, ainda com os sentidos avantajados, teve a impressão de ouvir ganidos altos. Pareciam cachorros com dores mortais. Talvez a bruxa estivesse dentro da cidade agora e aí seria só uma questão e tempo para... para o quê? Será que ela poderia rastreá-lo até ali? Ou melhor: o que será que ela queria exatamente? Sean ou ouro?

O guardião ainda mantinha a postura, como que aguardando alguma armação por parte do garoto. Sean tinha permissão para ir ou então ficar e lutar. Nada foi dito sobre ficar de boa no canto esperando a bruxa descer.

— Vá — reiterou o homem. Uma ordem.

Duf já estava dois passos para trás, no arco da porta. Só esperava por Sean.

***

Arkin acordou sentindo-se exatamente como que desperto de um sonho ruim: paralisado. Estava num lugar escuro, parecia flutuar em águas densas e pegajosas. Não conseguia se mover, nem mesmo a cabeça, mas com o canto do olho tinha a vaga impressão de que havia outras pessoas ao seu lado, na mesma posição, flutuando. Se tentasse falar alguma coisa, descobriria ser incapaz, a boca não abrindo, a garganta parecendo entorpecida.

Mas enxergava. Naquele local escuro, havia como que uma janela aberta à sua frente e através dela ele enxergava uma cidade em movimento. Uma cidade velha e coberta de neblina. Ela subia e descia, como se estivesse no meio de um terremoto. E a visão ia se aproximando e se aproximando até a cidade estar perta o bastante para se ver um portão.

— Me deixe entrar.

Era a voz de uma mulher. Mas Arkin não via, através da janela, nenhuma mulher. Não sabia de onde viera o som, apesar de parecer extremamente perto, íntimo.

— Pague o tributo.

Essa outra voz era ríspida e distante, sussurrante, e vinha do lado de lá do portão. Aos poucos, Arkin foi capaz de enxergar uma criatura nas grades enferrujadas, um porteiro. Estava oculto em mantos negros e tornou a dizer.

— Pague o tributo.

Arkin sentiu um movimento. Era como se as águas onde flutuava se moldassem ao seu redor. Viu pelo canto do olho que as pessoas que estavam à sua direita sumiram, como que de repente submergidas. Ainda não podia se mover nem falar.

Então, só assistiu.

Houve um som, como que uma grande bolha inchando e depois estourando e a visão pela janela mostrou o solo e três pessoas caídas nele. Inconscientes e nuas. Não sabia de onde poderia conhecê-las, mas sentia que não era a primeira vez que via aquelas pessoas. Pareciam debilitadas, como que há dias sem comer, clavículas e costelas acentuadas.

— Aqui está o seu tributo, agora abra o portão. — disse a mulher e o portão se abriu.

O porteiro saldou:

— Bem vinda a Carcosa.

O portão rugiu, abrindo, e Arkin pôde sentir o cheiro forte de ferro oxidado. A visão tornou a tremer conforme avançava para dentro da cidade e então o meio demônio entendeu que não era a cidade tremendo, mas sim ele andando. De uma forma que ainda não entendia, estava dentro de alguém. Dentro de uma mulher.

Então, agora, percebeu que podia falar.

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Mensagem por Knock Dom Nov 20, 2016 12:04 pm

“Por aqui”

A voz falou breve na minha mente... não me importei com tom, quem havia falado, com a idade, se era algum fantasma daquela cidade em ruínas... Só corri para onde eu me sentia instigado a ir. Fui o mais rápido que pude.

Eu sangrava e estava coberto pelo sangue dos cães contra os quais lutara. Foram tantos que mal consigo dizer, mas não foram tantos quanto um mar, porém mesmo assim, chegou ao ponto de eu me sentir afogar rodeado por mordidas, encontrões e vultos.

O máximo que eu conseguira transformar fora um dedo em uma garra, mas era o que tinha, então levantaria as mãos a Zalthar esquecido e tentaria adiar um pouco mais meu destino com a senhora que estava esperando depois da antessala. Cortei um, soquei vários, recebi mordidas, encontrões. Ficava ali no mesmo lugar batendo o que dava, reagindo ao que podia; do jeito que fora treinado ou do jeito que era guiado por instintos.

Entretanto eles não paravam de vir, os números pareciam tão densos quanto aquela neblina. Eu já nem sentia os ossos doerem de tanto me movimentar e do tanto que o meu sangue e o sangue dos outros banhavam minha pele. Na verdade eu nem sabia que ainda sagraria tanto, mas lógico que não pensei nisso naquela hora.

Continuei batendo e nem pensava mais até que cai de alguma forma e senti uns dois cães maus nas minhas costas. Olhei ao longe Vax em situação semelhante e isso me fez levantar. Percebi uma das mãos quebradas de tanto bater. Sorri. Peguei um cão pequeno e bati em outros com ele, mas ao ver que mais vinham, me enfurecia mais. Tentava não me precipitar para não morrer de forma boba. Mas eu não tinha energia nem para me curar.

Urros de ódio. Urros de ódio àquela velha. Urros de ódio contra aquela sombra da estrada. Eu avançava e batia, era mordido, era atacado. Eu nem sentia mais os danos. Sentia somente o fervor da dança com aquelas putas feias. Acho que aquele menino sorriria com o fato de ter uma dança daquelas após ter morrido, mas para mim é como Vax havia dito: Lute por sua vida. Era o que eu estava fazendo, mas sentia como se o fim da tentativa estivesse chegando.

Mas dessa vez a senhora morte ainda não me receberia nos aposentos dela. De repente me senti com frio como se estivesse no interior de um monstro estivera uma vez em uma certa mina. Era frio e incomodo, mas de repente: LUZ.

A luz vinha de algo que tinha asas que, mesmo não sendo, era como se fosse um anjo. Me joguei para o lado sentindo o calor da luz. Era fogo. Era dragão. Meu olho coberto de sangue não me deixara ver quem guiava o ser que reconheci depois de algum esforço. Eu só havia pedido um dente, mas ele trouxera todo o dragão HAHA. Achava que a própria morte não queria me conhecer.

Senti o vento das batidas das asas e voos rasantes. Então ouvi a voz. Teria de deixar Vax; Aurélio já havia sumido da minha vista há tempos. Nem lembro de ter pensado. Só corri. Nem me preocupei por ser facilmente encontrado com todo aquele sangue em mim. Só corri para onde a voz “apontava”. Eu não poderia ficar para lutar. Só não poderia. Corri mesmo sem esperar muita salvação.


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Mensagem por Hummingbird Dom Nov 20, 2016 12:31 pm

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Finalmente pude relaxar os ombros ao ouvir o Guardião concordar comigo. Em seguida um suspiro. Eu estava aliviado, entende? Aquela situação toda era muito complicada, e apesar de sua complacência, eu ainda me sentia um pouco desconfortável de ser considerado um alvo. Quero dizer, eu realmente não entendo. Se já estamos mortos, por que ele se apega tanto a esse ouro? Ele precisa mesmo passar a eternidade aqui tentando defender uma peça dessas? Peça essa, que por sinal, eu estou me arriscando em conquistar sem nem saber o real motivo. Tudo que sei é que alguém me disse que precisava dela. Assim como mamãe disse que precisava do Silício, assim como Duf disse que precisava que eu enfrentasse o Guardião. Todos precisam de alguma coisa não é?

Mas e eu?

— Ela está lá em cima, entrando na cidade... — Respondi ao Guardião, fitando-o nos olhos. Encarei-o profundamente como que encorajado a intimida-lo. — Quer saber? Eu fiz tudo isso por que me disseram que eu tinha que fazer.. e no fim o que eu ganho com isso? Todos me prometeram tanta coisa, me prometeram até que eu voltaria à vida, e ainda assim estou aqui arriscando a minha própria vida pelo seu ouro. Será que é isso mesmo que eu quero? — As palavras simplesmente saíram como se nem fossem mesmo minhas. Mas eram, eu sei disso. Eu só não compreendo porque eu não conseguia contê-las, porque eu estava me sentindo tão enfurecido mesmo sem saber o motivo. Essa era uma sensação terrível que eu não conseguia controlar. Dei um passo a frente, firme.

— Você tem razão! Talvez eu deveria ir embora mesmo! Mas ao menos eu estaria fazendo a minha escolha não é? — Bradei, mas sem hesitar, engatei uma segunda disparada de palavras que mais saiam como flechas alvejando um alvo; — E você? O que ganha passando a sua eternidade aqui? Confrontando desconhecidos tudo para defender um pedaço de ouro que alguém sussurrou, ou que alguma coisa te instigou a proteger? Seja verdadeiro comigo, Guardião! Por quê você ainda está aqui?! Onde está o seu direito de escolher o que realmente quer?! — Terminei com o peito arfando, ofegante. Eu sei que não deveria ter feito isso, e talvez se eu olhasse para o lado agora, o amigo Duf provavelmente nem estaria mais lá. Eu entendo a sua preocupação, talvez ele só não me quisesse ver triste. Mas sabe do que mais? Eu já estou triste! Estou triste porque desde que eu MORRI, todos querem que eu faça alguma coisa, mas ninguém está preocupado com o que eu realmente quero. Eu não deveria ter a oportunidade de escolher? Quero dizer, eu já estou mesmo morto, e isso tudo tem me deixado confuso, enfurecido, inquieto. Ainda mais agora, quando estou diante de alguém tão forte e com uma espada enorme dessas, mas que continua na mesma situação que eu!

— Nós podemos sair daqui! Leve seu ouro, eu não tenho interesse nele, mas venha comigo! Me ajude a encontrar o meu caminho e eu ajudarei a encontrar o seu! — Insisti, dono de um olhar persistente e com algumas lágrimas que insistiam em cair mas permaneciam ali, intactas.

O que eu quero? Eu quero a minha vida de volta. Eu quero o Ifrit de volta.

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Mensagem por Praquenome Ter Nov 29, 2016 8:23 am

(OFF: Desculpa a demora na postagem.  Não vai mais acontecer. ON)

Abri meus olhos. Minha cabeça doía como se eu tivesse escorregando a maior montanha do mundo com ela. E na minha boca, que horror! Parecia que um cavalo tinha cagado nela e um mendigo com séculos sem banho tinha me beijado. Minha primeira reação foi se cuspir mas..  Minha boca não se mexia..  não, não só ela. Percebia que eu todo estava paralisado. Eu estava flutuando numa água, se é que era água, densa enquanto minha visão ficava focada num ponto de luz que mais parecia uma janela divina em meio àquela escuridão.


Como eu tinha ido parar ali? Tentei me lembrar, forcei a mente a trabalhar nisso só para sentir uma pontada de dor aguda no meio da minha mente. Porém uma rápida imagem surgiu na minha cabeça. A de uma taberna em chamas no meio da noite. Não sei de onde ela era, mas me parecia estranhamente familiar. E antes que eu pudesse questionar mais a minha situação com aquele gosto horrível na boca e uma dor de cabeça gigante, a janela de luz começou a se aproximar e eu consegui ver com mais nitidez. Não sei se era apenas minha impressão, mas parecia que tinha mais alguém do meu lado, flutuando em meio àquele desconhecido. E põe desconhecido nisso.

A visão que eu tinha era de uma cidade, bem antiga por sinal. Ahhh, que merda de dor de cabeça, realmente não dá pra prestar atenção em nada sem sentir uma pontada. Algumas coisas contudo, eram praticamente lançadas na minha cara, como a voz de uma mulher extremamente perto de mim, a visão de um porteiro vestido em trapos e.. o"tributo". Três cadáveres que eu conhecia, mas não sabia de onde, igual a taverna. Sinceramente...  pra que três mortos só pra entrar numa cidade? Nem Tarakas faz isso, pelo menos ainda não.  O porteiro abria a porta e eu começava a me movimentar. Não, eu ainda estava paralisado.  Eu estava.. dentro da mulher?? Não, eu estou sonhado..  com certeza me deram umas ervas, sim mas...  Se o olho dela era a janela, então esse rio era..  sangue?!! - Que porra é essa??!- falei tão instintivamente que eu precisei de dois segundos pra perceber que eu conseguia falar. E então comecei a cuspir.. merda de gosto, o que eu comi pra estar com esse gosto na boca??!

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Mensagem por NR Sérpico Qua Nov 30, 2016 10:36 pm

39. Sem caminho

O guardião relaxou um pouco na postura, mas suas palavras foram afiadas:

— Escolher é ilusão, corvo. Não temos escolha, temos apenas um propósito que deve ser seguido. O meu é guardar esta peça, esse item poderoso e antigo. Fora isso não há mais nada para mim.

Não havia ironia, remorso, amargura. Era o tom de quem acredita.

A próxima replica foi assim:

— Não posso te ajudar a achar o seu propósito, o seu caminho. Ninguém pode. O meu caminho está bem definido, aqui mesmo, nessa sala, com essa espada em mãos. O seu, não existe mais. Você está em um lugar de mortos, não há mais caminhos à serem encontrados. E isso pode ser desesperador. E somente nesse sentido eu posso lhe ajudar, corvo. — Ele ergueu um pouco a espada. — Posso lhe dar descanso e você, então, não precisará mais procurar um caminho.

Sean piscou, o guardião saltou, a espada desceu, Duf tirou Sean da trajetória no último instante, a lâmina cortou alguma coisa, Sean caiu e olhou, Duf estava meio inclinado e paralisado, não sangrava, mas caiu de joelhos com a boca meio aberta e piscando. Parecia horrorizado.

Um dos gumes da espada brilhou de leve e o guardião a moveu novamente, atingindo Duf uma segunda vez, só que agora com o lado do gume que não brilhava. Preciso, abriu um sorriso na garganta do pequeno ciclope, o sangue saiu em um esguicho e Duf caiu de cara no piso, em meio uma tosse interna.

O brilho de um dos gumes sumiu, no outro, agora, havia um pequeno fio de sangue de Dufreine.

O homem se voltou contra Sean. Agora estava entre o menino e a saída.

Contra outro oponente e talvez em outra ocasião, Sean pudesse ter sensibilizado um inimigo com seus argumentos. Aquele guardião parecera desejar um final, desejar ser derrotado ou algo do tipo. Mas talvez não por palavras. Então tudo que Sean recebeu de volta foi:

— Você tem uma escolha, corvo. Ficar parado ou não. Mas nas duas opções, depois, você entenderá que na verdade não tinha escolha nenhuma.

Sean podia sentir. O guardião não era maldade, hostilidade. Aquilo não era pessoal. Aquilo era um serviço que precisava ser concluído — era exatamente assim que aquele homem encarava a coisa.

Caminhou na direção de Sean para concluir.

Então parou por um momento, quando o local tremeu um pouco. A origem do tremor vinha da superfície. Sean lembrou de vários prédios e casas desabitadas em meio a neblina, lembrou que tudo parecia velho e acabado e que não seria esquisito começarem a cair de repente, sozinhos de fracos.

Ou então a bruxa estava mais perto do que nunca.

***

— Olá — disse a mulher meio translucida.

Ho ainda recuperava o fôlego, e tentou manter a postura.

— Você veio com o meu filho, Sean, não é?

Era meio difícil captar os traços no rosto transparente dela, mas sim, talvez ela tivesse uma ou outra coisa que lembrasse Sean. Parecia cansada. Não do tipo ofegante, mas do tipo doente.

Estavam dentro de um salão de portão quebrado, por onde Ho entrou, instantes atrás. Na corrida que fizera, sentira o tempo todo que seria pego a qualquer momento, as costas fervilhando de antecipação à um salto de um cão, uma mordida e coisa e tal. Mas não aconteceu e quando viu a brecha no portão, entrou sem pensar duas vezes. Nenhum cão entrou atrás dele e agora ele estava diante de uma mulher fracamente iluminada pela luz de fora.

— Eu sou Lyra. — Ela mal se movia, mãos cruzadas à frente do corpo. Vestia o que deveria ser um vestido cinza. — O dragão lá fora se chama Cyrus. Você...

Ela pareceu pensativa enquanto encarava Ho.

Lá fora, ao longe, bem longe, Ho ainda escutava as asas de Cyrus e os rugidos dos cães. Pareciam bem distantes, como se Ho tivesse se afastado bastante, correndo por várias dezenas de metros — o que talvez tenha sido verdade. Ho simplesmente começou a correr e quando se deu conta já estava ali.

— Você... Meu filho precisa de ajuda. Ele... ele foi atrás de algo, embaixo, no subsolo da cidade. Faz mais de um dia...

Era difícil captar feições, mas no fundo do cansaço doentio era possível ver alguma preocupação genuína. Talvez ela realmente fosse quem dizia ser.

Então ela franziu o rosto para além de Ho, para suas costas.

O meio orc sentiu novamente as costas pinicando de antecipação, seu instinto mais profundo gritando que ele estiva prestes a ser atacado pelas costas.

Tinha alguém ali, na sombra de Ho, furtivo como nunca. Algo iria acontecer em menos de um segundo.

***

Assim que praguejou, a cidade parou de se mover e o campo de visão oscilou rápido para lá e pra cá. Se realmente estava vendo pelos olhos de outra pessoa, então essa pessoa deveria estar olhando para os lados nesse momento, se perguntando quem dissera aquilo. Então ela podia ouvi-lo...

O momento passou. A marcha voltou e Arkin continuou assistindo, agora uma rua de casebres velhos. Escutava rugidos ao longe, como se uma luta entre bestas estivesse comendo solta ali em algum lugar. Mas a mulher caminhava em outra direção. Rápida, parecia deslizar pelo calçamento. Arkin viu neblina, densa neblina, e escutou uivos, latidos.

— Tsc. Animais sem dono — disse a mulher, para ninguém em especial.

Dois cães dobraram a esquina como se soubessem exatamente que ela estava pra passar ali. Avançaram correndo e Arkin viu que eles grandes, cães infernais um pouco menores que cavalos. Feridos, com talhos, rasgões, sangue seco no corpo. Vai ver mortos vivos. Mas corriam como inflados de muita vida e vontade de violência.

Arkin sentiu uma oscilação na água em que se encontrava meio submerso, e lá fora, no mundo real, o ar tremeu, como que quente demais, e avançou contra os cães antes que estes pulassem na mulher. Os cães incendiaram instantaneamente, ganindo e tombando.

A mulher continuou, agora mais rápida. A visão de Arkin era um borrão cinzento com neblina. Mas a visão turva não era só pelo fato da mulher correr rápido. Não, tinha outra coisa. Percebeu que algo fora tirado de si. Era como se ele tivesse queimado energia rápido demais.

Quando melhorou, os olhos ganhando foco novamente na visão do mundo, percebeu que agora estava dentro de uma sala. Não fazia ideia de como chegara ali tão rápido, mas tornou a sentir um certo cansaço — forças deixando seu corpo sem o seu consentimento.

Como se outra pessoa as tivessem usando.

— Lyra! — chamou a mulher. — Eu vim por você! Apareça!

Total silêncio.

E aos poucos Arkin ia recordando de onde conhecia aqueles “tributos”: estavam juntos, eles e Arkin, numa estrada... parecia há muitos e muitos anos, mas não sabia dizer com precisão.... Estavam numa caminhada, logo depois que deixaram o barqueiro.... Estavam indo para um local de... condenação? Lembrava pouco, muito pouco. Seu cérebro parecia mexido, desorganizado.

Mas sim, lembrava agora: a caminhada pela estrada. A marcha. Todos ali eram condenados. Arkin, os tributos e vários outros. Cabeça baixa, pés arrastando, guiados por um ser de asas. Então aconteceu alguma coisa que o tirou de lá.

Estava quase se lembrando, quase...

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Mensagem por Hummingbird Sex Dez 02, 2016 11:37 pm

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Foi um pouco difícil de acompanhar o que sucedeu. Digo, depois da conversa. Senti o vulto de algo, como um movimento que era pra ter me atingido em cheio, um certo anseio da minha garganta por algo de pontiagudo rasgando-a. E então as mãos de Duf. Pela forma como me apertavam, senti a preocupação e também o alívio no amigo avermelhado depois de me tirar da linha de fogo. E tudo isso num piscar de olhos.

— O-Obri.. — Pensei em agradecer o amigo, mas não tive tempo. Um segundo vulto e pronto, Duf foi movido à força pela mesma grande espada que almejava o meu pescoço segundos atrás. Ouvi o barulho do corte mas até então não acreditava ser real. Eu nem tive tempo de agradecer, entende? Então aquilo me chocou um pouco. Em seguida veio o barulho seco no chão, provindo do corpo inerte de Dufreine.

— Isso é engraçado não é? Ele estava morto, e morreu de novo. — Mas não havia graça nenhuma em meu tom. Quero dizer, eu entendo bem o peso de uma morte. Apesar de tudo eu gostava do amigo Duf, mas ele se foi. E mais uma vez eu estou sozinho. Suspirei. Tinha a estranha sensação de que não havia tempo, aliás, de que eu perdi tempo. A sensação de que minhas palavras, por mais que eu acreditasse nelas, elas não poderiam mudar o curso das coisas. É uma sensação que eu conheço bem e que eu convivi com ela por muito tempo. Mas o Guardião estava certo, afinal não havia escolha, nunca houve. Então o que eu poderia fazer?

— Na verdade, você está errado Guardião. Você acabou de me dar uma escolha! — Sorri, erguendo a mão direita em sua direção. Semicerrei os olhos, concentrando-me em sua presença, em todas as sensações que senti vindo dele desde que entrei nessa sala até o presente momento. Uma única ligação era o suficiente, coisa que venho preparando desde o momento de nossas charadas. Minha intenção agora era a de arrancar a sua força de vontade de uma única vez! Puxar essa convicção que ele acha que tem de que deve lutar, eu precisava acabar com ela e deixá-lo perdido nem que por um breve instante.

— Eu vou encontrar o meu próprio caminho! E vou começar agora, fazendo as minhas próprias escolhas! — Aleguei, desta vez, pronto para um combate. Meus olhos não piscaram sequer uma vez, mantendo o contato com o tal Guardião a todo momento. Eu o estava desafiando, estava conclamando aquilo como um combate! E para a energia supostamente retirada do Guardião? Seria de imediato entregue para Dufreine.

— Você ainda não cumpriu sua parte do trato, seu medroso! Vamos, levanta! — Insistia, tentando encorajá-lo a levantar nem que fosse com aquele resto de energia que lhe dei. Ele precisava pegar o Ouro e precisava fazer isso logo. Enquanto eu, ficaria frente a frente com o guardião. A todo instante, mantinha minha atenção nos movimentos do meu adversário, afinal, eu precisava estar atento para desviar quando fosse necessário e também para investir em algum movimento ofensivo. O que eu conhecia sobre combates? Memórias em mente; quando enfrentei aquele Orc na montanha. Aquela mesma sensação de entusiasmo, sangue quente, pernas prontas para um salto aqui ou ali principalmente quando for investir num movimento de ataque. Talvez eu ainda pudesse arriscar um soco? Não, eu precisava desarmar o Guardião, tirar a espada da mão dele, aproveitar de uma possível oportunidade surpresa entre um desvio e outro para o caso dele avançar primeiro. Do contrário, eu só precisava de uma brecha para investir diretamente e tentar tirar-lhe a espada.

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Mensagem por NR Sérpico Sex Dez 09, 2016 8:02 pm

40. Reencontro

Como eu disse antes, estava fora. Há um tempo. Desde a invasão da bruxa velha através do Ball. Então não vi o momento, aquele momento. Mas, como disse, soube da maioria dessas coisas através de Ho.

E o que aconteceu foi que eles se encontraram de novo. Não. Não em outro sonho compartilhado ou coisa do tipo. Se encontraram mesmo, ali, na masmorra sob a cidade.

Foi assim.

***

O tremor de ainda agora, que por um momento fez o guardião hesitar na marcha contra Sean, era alguém entrando ali com modos menos sutis que o do garoto, quando apenas desceu escadas e passou por uma película no ar, uma redoma. Essa nova pessoa estava ali, agora, sem nenhuma intenção de ser furtiva. E estava com os outros...

O problema daquela Carcosa é que, mesmo depois de toda desgraça e degradação, ela ainda guardava alguns habitantes. Claro que não estou falando dos cachorrinhos meio mortos e com jeito para multiplicação — não, eles são apenas adornos velhos sem dono, como plantas indesejadas que, com o tempo, crescem sozinhas nas entranças de uma fortaleza.

Quando falo de habitantes, estou pensando naqueles ocultos em exílio ou limitados por alguma força maior que eles, que os impedem de seguir adiante. Calculo que existam seis forças consideráveis e meio adormecidas naquela cidade do mal, sendo uma delas da ex-charmosa Lyra. Mas também não era ela a descer até ali — não poderia nem que quisesse.

O que me leva a pensar no tresloucado do Rei de Amarelo.

Antes, mas não muito antes: um grupo de bandoleiros, ou algo próximo à isso, entregaram alguns tributos nas portas de um salão fortificado, onde o Rei fica. Acho que eles ainda estão na cidade em busca de alguma coisa. Os tributos deram salvo conduto a eles, de modo que os cães nem se quer irão farejá-los até o final do dia. Mas eles que se explodam. O fato é que os tributos que entregaram deram mais pujança do que o normal ao Rei. Óbvio que a causa dessa força além das expectativas vinha do fato de não serem simples tributos, mas sim algo melhor — “almas imortais”, diria um membro da Antessala da Morte... Então o Rei estava pronto outra vez, seus poderes de volta, babando pela revanche tão aguardada contra aquele que guarda o ouro mítico.

É que, suspeito, o Rei não é muito diferente de qualquer outro louco com poder: quer mais poder.

Mas antes de descer lá, ele aproveitou para pegar outra das almas imortais, recém entrada na cidade...

Foi a presença que Ho sentiu, em meio a conversa que tinha com a mãe de Sean. E também foi a única coisa que sentiu, depois ficou tudo preto.

Então a cena de quando Sean reagiu foi assim: o guardião avançou, subitamente detido, um instante mínimo antes de se mover depressa com aquela espada. Foi detido pela habilidade de Sean, que decidiu não haver melhor momento para usá-la. O alvo estava próximo e numa aparente adrenalina pela execução que tinha por fazer. Então, é, foi o melhor momento.

Duf ainda gorgolejava no chão quando o globo de energia sugado do guardião foi disparado contra ele. O pobre coitado pareceu não estar entendendo se deveria morrer ou viver. Se ouviu os incentivos de Sean, não demonstrou.

Ao mesmo tempo que Sean direcionou as emoções do guardião, teve de deslizar para o lado, meio para trás, caso contrário teria o topo da cabeça arranca. A lâmina passou perto, mesmo o guardião estando mais lento e abatido. E além do vento da lâmina em seus olhos, Sean teve uma breve e estranha vontade de deitar e desistir.

Deitar e desistir, como se... nada daquilo valesse a pena. Estranho.

O momento passou um segundo depois, como um peido indesejado soprado por um vento. Sean se equilibrou e assistiu o guardião observar a si mesmo, tentando entender o que acontecia, talvez tentando entender o que estava fazendo e porquê.

Ele pareceu prestes a largar a espada.

Mas então Sollrac entrou na sala.

Depois Bones entrou.

A sala pareceu ficar apertada.

E definitivamente ficou quando Ho passou pelo arco.

Mas não era ele o último da fila: veio um homem alto, magro, magro demais, raquítico, a face chupada, cabelos brancos esfiapados caindo de cima das orelhas, o topo da testa reluzindo como a mais perfeita das carecas. Reluzindo o brilho do ouro, que piscou, vivo. Ele, o velho sinistro, vestia amarelo, trapos, mantos enrolados, traçados pelo ombro, circulando a cintura, caindo pelas pernas, como um lorde de férias num local paradisíaco. O lado direito do seu corpo era visível, as costelas proeminentes na pele branca que nem cal.

E ele sorriu um sorriso de cinco dentes.

— A porta estava aberta... — disse, como que se justificando. Sua voz era fina e ele parecia fazer um esforço extra para que ela saísse bem alto, saindo, também, meio esganiçada, meio falsa, como ator de teatro. — ... então decidi entrar.

O guardião, que ia largar a espada, não largou. Se virou, dando as costas para Sean, mantendo a guarda para os novos visitantes.

Duf ainda respirava ofegante no chão, começou a se mover, com medo da própria garganta, como se ela ainda estivesse cortada. Ninguém pareceu se preocupar com ele, que estava perfeitamente ao alcance de Bones. Aí rapidamente se arrastou para um dos lados da sala, olhando tudo sem entender. No movimento que fez, como que uma brincadeira sem graça por parte do destino, algo escorregou do seu bolso e ficou no chão entre ele e Sollrac — o visitante, agora, mais próximo dele

Ah. Era um recipiente pequeno de vidro com silício dentro. Mas ninguém pareceu notar.

— Você... — disse o guardião, mas não havia firmeza em sua voz.

— Voltei para pegar o ouro! — guinchou o velho de amarelo. — Voltei para realizar minha vingança! E vou adorar cada momento! E voltei para...

Ele percebeu Sean e se interrompeu.  

— Quantos vocês são, afinal? — perguntou, com um meio sorriso de surpresa, olhos arregalados, como quem vê um prêmio grande demais logo a frente. — Vamos fazer assim: Meio dragão, pegue o ouro no altar. Tem que ser você, pois você é bom, embora se ache neutro. Ghoul, termine com esse homem. Ele já parece fraco. E meio orc, traga o menino até mim.

Os três deram um passo.

Ho estava lá. Estava em algum limbo profundo, mas estava lá. Via através dos olhos, mas não controlava as ações. Aquele velho de amarelo o rendera de surpresa e, utilizando-se de alguma magia vil, tomou posse de seu corpo. De novo. Ho sofrera isso uma vez, diante de uma simbiose amorfa, ainda no mundo dos vivos. E agora outra vez a mesma coisa, só que nas mãos de um mago. Deu mais um passo, encarando Sean, mal controlando as feições do rosto.  

Para Sean, era um rosto com ódio. Como se Ho sofresse de uma dor que só pudesse ser curada através da conclusão da ordem do velho: traga o menino até mim. Mesma coisa com Soll e Bones: caminhavam para a tarefa comandada como se só isso existisse.

Como se não houvesse escolha.

Sollrac deu alguns passos, um desses resvalando de leve no vidro com silício esquecido no chão. Mas o recipiente permaneceu intacto.

Já as órbitas vazias de Bones estavam voltadas para o guardião, que sopesou a espada e aceitou o desafio, esperando apena mais um passo de Bones para que a envergadura de seu golpe dê início ao combate. Ele se moveu um pouco, como a ficar mais perto do altar e também ter uma chance de varrer Sollrac com o mesmo golpe.

Duf arfava, com uma mão na garganta.

Ho, no início, não sentia nada. Agora sentia calor. Algo interno, pois o ambiente era ameno. Febre. No peito. Então arfou e passou a controlar o rosto, as feições. E também descobriu que podia falar. Estava desperto, então.

Mas não totalmente: ainda caminhava na direção de Sean, para trazê-lo até aquele que lhe controlava.

Este permaneceu no arco da porta, aguardando a resolução — se possível rápida — daquele caso. O peito estufado, observando tudo por cima do nariz, queixo apontado, postura dura, imponente. Parecia até um maldito rei.

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Mensagem por Hummingbird Sáb Dez 10, 2016 1:38 am

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Carambolas! Pensei que eles nunca fossem chegar! Mas...espera aí...

Bem, não é surpresa que eles estejam todos um pouco mau humorados afinal já estamos aqui há muito tempo e esse lugar meio que mexe com a nossa cabeça. Agora há pouco por exemplo, um pouco antes do guardião fraquejar e de sua espada falhar em me atingir de novo, senti uma estranha sensação de que aquilo tudo nem valia tanto a pena. Ah, eu bem que podia deitar ali no chão e descansar né? Pra quê esse fardo todo? Mas aí eu pisquei e isso foi embora. Estranho não?

Bom, ao menos o meu plano meio que deu certo. Consegui tirar a energia do Guardião e, tudo foi tão rápido que eu nem sei como mirei tão certo em Dufreine pra lhe dar aquela mesma energia. Eu nunca fiz isso tão rápido assim antes, será que foi culpa da poção? Eu estava mesmo me sentindo mais entusiasmado que o normal e, puxa, é mesmo! Todos voltaram! Que vontade de correr e abraça-los, perguntar como estão... mas aí eu vi as caras mau humoradas, um jeito de que não queriam conversa. Caramba, morrer fez mal pra eles mesmo. Eu só não esperava que justo ele, o grandão Ho, fosse ficar tão mal assim. Quando ele chegou perto de mim e me encarou foi como se eu visse uma coisa muito ruim no lugar do seu rosto. E a sensação que eu tive foi bem mais a fundo, uma sensação que eu conhecia bem; era ódio. De onde eu o conheço? A primeira vez que conheci Ifrit, que eu o vi. Foi algo bem parecido, mas muito mais pesado. Então eu meio que...me acostumei, sabe?

— Eu nem vou perguntar quem é o amarelo sem dente. Amigo ele não é. — Falei meio que entortando a boca, insatisfeito. Então meus olhos saltaram ao redor do ambiente bem rápido, caçando detalhes. Vi o Silício. Vi Dufreine num canto e ninguém parecia ligar pra ele. Entretanto o amigo Duf nem parecia me ouvir, será que valia a pena? Valia a pena? Ah! Sem essa! Que droga de pensamento é esse? Depois de tudo? Não não!

— Essa é a minha escolha! — Contrariei meus pensamentos assumindo uma postura mais firme. Eu não tinha motivos para temer o amigo Ho, talvez ele só estivesse fraco, igual aconteceu lá na montanha quando aquela gosma pegou ele. E foi justamente isso que me deu uma ideia. Pensei rápido; eu estava estranho não? Desde que tomei aquela poção? Fechei os olhos, não resistiria caso o grandão Ho viesse me pegar, então aproveitaria o momento para me concentrar. Concentrei. Meu pensamento foi longe, bem mais longe do que o normal, sentindo coisas que mesmo antes eu não era capaz de perceber nem com a minha habilidade em uso. E eu queria ir mais além, além das memórias... queria ir até ele.

— Chame... — Minha mente pregava peças. Aquela era a minha voz, sussurrando, mas não era eu.

— Acredite — Instigou.

— É tão difícil. Estou com essa sensação de que não deveria, de que vou me machucar se chamá-lo. Eu acho que estou com medo... — Aleguei mentalmente, ainda mantendo a conexão com aquele algo além. Na verdade, aquela mesma sensação de que falei, parecia me puxar para dentro de um vazio sem fim. À deriva, entende? E isso me trazia medo.

— Pensei que você fosse grandinho o suficiente para tomar suas próprias decisões e, quem sabe, arcar com o peso das consequências. Talvez eu tenha...me enganado. — Sussurrou, intrigante. Mas era um sussurro confortante, hmm?

— Essa coisa de gente grande é muito complicado. Eu não entendo e isso me faz me sentir bem menor e fraco e...

— Impotente? — Interrompeu. — Não seja tolo, pequeno corvo. A sua inocência é o que me fortalece, então quem disse que você precisa lidar com isso? — Seus argumentos realmente iam muito além do que eu podia contrariar. Aquilo me fez sorrir, eu juro que fez! Uma boa gargalhada, aliás.

E então o silêncio.

— Eu senti sua falta... Ifrit. — No meio daquele oceano de escuridão, eu pude vê-lo. Seus olhos vermelhos como brasa e seu sorriso maledicente que sempre me fazia sentir uma baita dor de cabeça. E vou confessar? Até disso eu senti falta. E talvez seja justamente através disso que eu consiga trazê-lo até mim. Ei, afinal, nós somos um só não somos? Então eu acredito em você. E vamos sair daqui juntos de novo, eu prometo! Mas você precisa me ajudar, precisamos dar um jeito nesse tal de amarelo, hmm? Tirar a energia vital dele, você é melhor nisso do que eu afinal..

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Mensagem por NR Sérpico Seg Dez 19, 2016 3:02 pm

41. Não mais separados

— Cuidado, ghoul — disse o velho de amarelo, como um treinador observando os movimentos de seu aluno. — Um dos gumes pode cortar sua alma podre.

Se Bones escutou, não deu mostras: saltou pra cima do guardião, que girou a espada, um corte seco, que fez Bones cair de lado, meio ajoelhado, à um passo do alcance de um segundo golpe, que vinha contra seu peito. Bones ergueu as mãos num bloqueio e dessa vez ouve o ranger da lâmina se chocando com algo, com ossos. Bones voo pra trás, as mãos decepadas. Se ergueu rápido, sem fazer som. Mas parecia meio hesitante, de modo que o guardião tomou a iniciativa nessa rodada, com a espada em riste. A lâmina desceu brilhando contra o ombro de Bones e, novamente, não aconteceu som ou aparente choque. O ghoul caiu de joelhos, o guardião estava pronto para o golpe de minerva. Mas parou, pois Sollrac estava com as mãos naquilo que deveria ser guardado.

Quando o meio dragão tocou no Triangulli, guinchou como se recebesse uma carga elétrica, mas não soltou a peça — permaneceu firme, dentes trincados, olhos quase fechados. O ouro brilhou fortemente na sala, um brilho opressor, parecia um pedaço do sol, depois murchou em toda sua glória, reassumindo a luz aceitável de antes. Sollrac o tirou de cima do altar, com as duas mãos, veias saltadas nas mãos, braços, testa. A coisa pareceu que não viria, como se estivesse conectada à um ímã invisível. Aí se soltou de repente quase derrubando Sollrac para trás.

Na sequência a espada do guardião voo contra o rosto de Sollrac, que se abaixou, segurou o ouro com uma mão e devolveu, com a outra, o inferno na forma de bola de fogo, contra a barriga do homem. O guardião passou pela sala, voando de uma ponta a outra, impelido pela habilidade de Sollrac.

— Traga pra mim — disse o Rei. Não ficou claro se era para Ho ou Sollrac. Provavelmente para os dois.

E sobre Sean, ficou assim: as duas mãos de Ho se fecharam ao redor do corpo do menino, um pouco além de um aperto doloroso. A respiração quente de Ho raspou no rosto de Sean. Desconfortável como estava, com a sala brilhando e depois com chamas voando, ele fez o que pôde para se concentrar, para se comunicar.

Decepcionante. Ele recorrer a Ifrit daquele jeito... Você simplesmente não pede ajuda para alguém que te matou. Será que Sean se entregara à insanidade, assim, tão jovem? Talvez merecesse aquele demônio, afinal. Hm. Estavam unidos de novo. Isso se de fato estiveram separados alguma vez.

A sala ficou um pouco menor. Ifrit surgiu nas mãos de Ho, que teve de apertar mais a pegada, sem hesitar, sem mudar a face de ódio.

— Algo antigo e macabro — disse o Rei. Ele gemeu, como se sentisse a intromissão de Sean/Ifrit. Os lábios se repuxaram para trás mostrando os dentes numa fúria repentina: — Não mesmo filho do mal, não mesmo!

Bones tombou de repente, como se quisesse tirar um cochilo.

Ho amaciou o abraço, mas não exatamente por causa da transformação de Sean...

O Rei deu alguns passos para trás, uma aura tremeluzente se instalando sobre ele. Estava sobre o arco da porta.

O guardião estava se levantando, ignorando tudo, menos o ouro seguro por Sollrac.

Duf estava olhando o silício no chão, mordendo o lábio, como se tomando coragem para fazer alguma coisa em meio toda aquela confusão.

Ho caiu sobre um joelho diante de Sean/Ifrit, a face franzida. As mãos ainda estavam ao redor de Sean/Ifrit, mas o meio orc parecia mais se segurar nele do que segurar ele.

Se Sean/Ifrit tivesse que arriscar, diria que a influência do Rei sobre Ho e Bones estava consideravelmente menor naquele momento. Como se ele estivesse planejando alguma outra coisa com a energia que tinha dedicado aos dois.

Sollrac, que ainda segurava o ouro, parou a marcha e emitiu um som gorgolejante, como se fosse vomitar. Dobrou sobre si mesmo, uma mão apoiada no joelho, a outra apertando firme o Triangulli. Seus olhos lacrimejavam, olhando para o chão.

O guardião terminou de se erguer. Provavelmente já teria saltado contra o meio dragão, se ainda fosse rápido e decidido como antes. Ainda restava uma boa dose de vontade nele, verdade, mas não o bastante para uma reação rápida. O que, mesmo assim, não lhe impediria de atacar quem quer que tocasse o ouro.

— Mudança de planos, não traga ele pra mim — disse o Rei de Amarelo, para Soll ou Ho, ou os dois. — Não mesmo!

Sean/Ifrit estava se sentindo pronto para tentar a extração. Era o momento.

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Mensagem por Hummingbird Ter Dez 20, 2016 5:27 pm

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Aaahh! O Submundo! Sabe, este é um dos poucos lugares que conheço onde a Energia Vital transita tão livre e evidente como você pode ver. Me surpreende o fato de que, mesmo com todo conhecimento que partilhamos, o pequeno corvo não entenda a verdadeira extensão dos poderes que lhe dei. É lamentável que a bondade o limite tanto. Apesar disso, eu preciso reconhecer que ter me trazido aqui mesmo depois de saber o que eu fiz, foi bastante corajoso. Eu mal posso conter o meu entusiasmo. Você consegue sentir não é? Nosso vínculo cresceu desde que você veio pra cá, comprovando o que eu disse; a energia tem lhe afetado de maneira diferente por aqui. E por falar em energia...o que é que temos aqui?

São meus amigos! Espera!

Espera...

O lugar em que você está agora eu conheço muito bem. Não é nenhuma surpresa afinal, já que nas muitas outras vezes que tomei conta do nosso corpo você foi parar aí. Só não era forte o suficiente pra permanecer consciente, então você ficava à deriva, o que parece ter mudado agora. Ao menos talvez agora você aprenda algo de fato. Já estou cansado de ter minha existência ameaçada pela sua imprudência. Abra bem os olhos garoto, está na hora de aprender como usar os meus poderes de verdade.

E-Está certo — Respondi em pensamento. E com um pouco de concentração, assim que abri os olhos, eu pude ver tudo através dos olhos dele.

O grandalhão avermelhado estava enfraquecendo só de estar na minha presença. Posso sentir a energia vital transitar nele, como o sangue correndo em suas veias. Eu diria que como um Vampiro anseia pelo sangue, eu anseio por essa energia. O meu desejo por extraí-la era grande mas outras presenças exigiam maior atenção. Os meus olhos queimavam em brasa acompanhando o ambiente até fazer um reconhecimento da situação. A julgar pelo que vejo, o meio-dragão estava sendo controlado pela criatura de amarelo. O guardião não representava ameaça afinal, uma vez que eu pude compreender uma extração de energia recém efetuada sobre ele, trabalho de Sean eu suponho. E o destino da energia extraída também se mostrou claro uma vez que o humanóide avermelhado ainda se encontrava catatônico ali num canto — efeito colateral do mau uso da habilidade. Por fim, compreendo que a peça chave para tudo isso era a criatura de amarelo.

— Você, Rei de Amarelo! — Anunciei, fazendo uso de um tom de voz multíssono — Eu vim para tomar a sua alma.. — Essas últimas palavras saltaram como um presságio. Presságio esse que certamente atingiria a espinha do grandalhão avermelhado, uma vez que sob contato direto comigo, minha energia acenderia em brasa. As chamas não necessariamente tangíveis, muito menos com o intuito de queimar, não. Essas chamas eram coisa que nem mesmo Sean seria capaz de manipular. Chamas essas que eu utilizo para drenar a energia vital de um alvo, no caso o Orc. Eu precisava enfraquecê-lo se quisesse ter liberdade suficiente em minha transformação, afinal Sean estava fraco, gastou muita energia desde que chegou aqui. Com essa primeira refeição, certamente eu seria capaz de seguir adiante. Livrar-me do abraço apertado da criatura avermelhada era o primeiro passo, se preciso forçando-o a me liberar com minhas próprias mãos.

E uma vez livre, levitando por força das minhas próprias habilidades, agora era o momento. Finalmente livre, talvez como nunca antes, eu só precisava manipular as correntes do meu corpo alvejando alvo por alvo daqueles que estivessem presentes, independente do que Sean considera como aliados ou oponentes; o intuito disso era quanto mais, melhor. As correntes exerciam a função de restrição, sendo uma parte de mim, através delas eu também sou capaz de drenar a energia vital das criaturas e portanto enfraquecê-las. Enquanto que, com a energia já acumulada, bastava criar um círculo de invocação no perímetro, ganhando uma ponta extra no desenho para cada criatura com energia a ser sugada. O círculo seria desenhado com energia vital pura, portanto não tangível, indolor e inodoro.


[Comum] Considere-se morto - Página 5 ZA3Xqfi
(Imagem do Círculo)


Mae cylch o fflamau ateb yr alwad eu Gwysiwr, llosgi holl drethi — as chamas do círculo atendem ao chamado de seu invocador, incendiando todos os tributos ac yn cymryd llawer eu heneidiau. — e consumindo a suas almas.


Obs escreveu:Tudo isso é fruto da habilidade primária do Sean. Como o Ifrit agora está fortalecido pelo vínculo da habilidade retribuição, e sendo ele um demônio, eu resolvi envolver um lance de ritual e tal, junto da habilidade passiva dos possuídos de serem capazes de drenar energia. Então é meio que um círculo de invocação pra consumir a alma dos envolvidos. E as correntes são do corpo do Ifrit mesmo, faz parte dele.


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Mensagem por NR Sérpico Seg Dez 26, 2016 11:10 pm

42. Não mais incompleto

Velha Carcosa, cidade condenada ao próprio abandono. Que suas maldições perdurem para sempre, que ela nunca se erga. Vida? Nenhuma há de abrigar. Glória? Nem em pintura. Uma grande zombaria, o que sobrou, o que se tornou. Para que todos vejam e saibam. Que o silêncio dela seja a grande mensagem de que não se pode desafiar ordens superiores.

Um longo silêncio.

Brevemente interrompido naquele dia tumultuoso.

O Rei sibilou:

— Sss — suas mãos estavam próximas, como se segurando algo invisível. Ele deu mais meio passo para trás. — Se mete em assuntos proibidos, criatura! Minha alma já foi vendida há centenas de ciclos!

Segundo Russelo, um ciclo é igual a 23 anos. Lembrar disso lembra que eles tinham 552 horas... como será que está essa conta agora?

Mas vamos a questões mais urgentes.

Superar Ho não foi difícil. Na verdade o meio orc parecia distraído consigo mesmo. Ele piscou, por um momento como se estivesse acordando lentamente num lugar onde não se lembrava de ter deitado pra dormir.

Bones se sentou, estático.

Apenas Sollrac parecia ativo, tossindo, ainda curvado. Uma das tosses soltou um líquido preto no chão da sala. Não parecia ser o café da manhã.

A sala tremeu. Como se sentisse algo, como se suas estruturas físicas e míticas, isto é, aquela película delimitadora, estivessem a um só reagindo.

A energia deixou Ho.

O círculo apareceu no chão e a sala reagiu novamente, tremendo, talvez reconhecendo só agora a presença de algo intolerável ali embaixo. Ifrit, claro.

Agora era possível ver o ar tremeluzindo nas mãos do Rei. Esse ar parecia fazer alguns caminhos pela sala, como tentáculos translúcidos. Dois deles saiam de Ho e de Bones e iam para o Rei. Das mãos do Rei saia o terceiro tentáculo, direto para Sollrac.

Correntes pegaram Ho e Bones. Correntes cataram Duf, que gritou e tentou correr, sem sucesso. O guardião fincou a espada no chão a frente do corpo, um dos gumes brilhou e a corrente que era para ele se desintegrou no ar, centímetros antes de alcançá-lo. As correntes que pegaram Sollrac rangeram em resposta, como se encostadas com algo fervendo. Fecharam-se nos tornozelos do Rei, que pareceu não se importar. Ele suava. Ifrit rogou suas palavras ruins.

A sala iniciou um tremor que ameaçaria o deslocamento da retina de qualquer observador.  

Ifrit sentiu um frio interno. Aquela manobra estava exigindo muito do seu corpo, do corpo de Sean. Era um nível diferente, arriscado. Começou a extração. Ho, Bones e Duf cederam facilmente. O alvo principal, o Rei, estava lutando contra.

— Sss — fez ele, os dentes amostra. — Não!

O guardião ainda estava protegido atrás do gume mítico da espada. Ele desprendeu a arma da fenda no chão e deu outro golpe no solo, na pedra, no entanto sua espada brilhou, acertando mais do que o físico, e o círculo de Ifrit ficou rasgado numa ponta, ali, onde o guardião tinha atingido. A pele dele parecia ter adquirido uma cor cinzenta, e seu rosto era inexpressível, frio. Ele levantou a espada e a fincou novamente. O rasgo cresceu até o meio do círculo.

Ifrit sentiu nos braços e na nuca as vibrações mágicas dos golpes. Sua habilidade estava sendo contra-atacada de forma eficaz.

Meio globo de extração estava deixando o Rei, que agora só tinha olhos para Sollrac. Ele abriu as mãos velhas e ossudas com tudo, como se dispensasse algo, como se soltasse algo de uma vez por todas.

Para Bones e Duf, a extração fora completada. Os dois estavam deitados agora.

A extração não deu certo com Sollrac, pois, seja lá o que o Rei havia feito, o meio dragão ganhou presença na sala. O tipo de presença resistente demais. E quente. As correntes, por exemplo, cederam, queimadas. Ele agora estava caído de joelhos, a testa no chão. Ainda segurava o ouro, ao passo que a outra mão começou a dar socos no chão a medida que ele grunhia.

Gritou quando as asas brotaram de suas costas.

A armação cresceu rápida e implacável, derrubando paredes a direita e a esquerda, mais de trinta metros cada. O lugar, que já tremia, ameaçou desabar. O grito de Sollrac Senun foi ficando gutural a medida que seu cabelo caia e chifres brotavam. Lágrimas pingavam de sua cara e quando tocavam o chão, soltavam um chiado quente, deixando marcas no piso. Sua pele escureceu e reluziu o brilho do ouro em triângulos pequenos — escamas exóticas. As garras bateram no chão, abriram lascas. O corpo inchou, inchou demais. Uma das três caudas derrubou outra parede, atrás. Ele ergueu a cabeçorra para o túnel acima da sala, onde deveria haver um teto, e fez fogo subir de sua garganta. O ar queimou. Daí ele levantou voo túnel acima, as asas tombando com o túnel, fazendo tudo tremer mais um pouco...

Levou o ouro e a sala ficou na escuridão.

— Manifesto! — gritou o Rei, arfando em meio os sons das pedras.

A extração dera certo pelo meio — fora interrompida pelo contra ataque do guardião. Então apenas meio globo enérgico flutuava à frente dele, dando uma penumbra fraca à sala. As energias de Bones e Duf também iluminavam parcamente a cena.  

O guardião se abaixou, como se estivesse concentrado. Mesmo em meio as pedras desabando.

Pedras. Sim, começaram descolar de suas estruturas, como se algo além de cimento as mantivessem no lugar, algo agora rompido. O lugar estava acabando.

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Mensagem por Hummingbird Ter Dez 27, 2016 3:44 pm

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Espera! O Duf é meu amigo! — Aleguei assim que senti as correntes envolvendo o corpo de Duffreine. E apesar de saber que aquelas correntes eram de Ifrit, eu tinha total conhecimento e sensibilidade a tudo que elas tocavam ou reagiam. Foi uma sensação quase tão estranha quanto a do embrulho que comecei a sentir no estômago para a medida que Ifrit rogava suas palavras antigas. Engraçado não?

Só não foi tão engraçado saber que ele ignorou meu alerta. Em seus pensamentos eu entendi que ele estava se concentrando, recorrendo a algo muito antigo que nem mesmo eu consegui compreender direito. Tinha alguma relação com aquela prece que ele estava fazendo, sim, pelo menos isso eu entendi — era uma prece. Mas o que eu podia fazer? Interrompê-lo naquele instante poderia acabar com nossa única chance de deter o tal Amarelinho sem dente.

Ifrit continuou, consciência mergulhada num tempo distante quase que viajando além desse mundo. Algumas vezes eu tinha vislumbres como se estivesse sonhando, viajando com ele. Mas na maior parte do tempo era eu quem estava consciente por nós dois e, acima de tudo, era eu quem estava sentindo as consequências daquele esforço todo. Quero dizer, desde que Ho cedeu sua energia e a partir dela, Ifrit invocou aquele círculo. Eu senti, senti um tremor dentro de mim como se eu estivesse desfalecendo para a medida que o círculo ficava mais forte. Mas não parou por aí, o Guardião também atacou em função de nos deter, eu senti tudo. Senti quando a sua espada mágica brilhou e quando seus cortes mesmo físicos causavam tremores em meus braços e na minha nuca. Um presságio? Aquilo não era bom sinal. Senti o círculo enfraquecer, senti meu corpo tremer junto dos inconstantes tremores na sala. E daí tudo ficou meio turvo.

— Bydd y fflamau eich llosgi — pelas chamas vocês vão queimar, vão queimar, vão queimar — llosgi i lludw — queimar até as cinzas.

E repetiu. Uma, duas, várias vezes. Aquilo precisava ser entoado para fortalecer o vínculo com aquela coisa antiga que o círculo parecia querer invocar. Mas Ifrit estava fraco, eu senti. Senti quando o círculo rasgou facilmente diante dos ataques do Guardião. Senti quando Solrac mudou completamente e transformou-se diante dos nossos olhos. Mas também senti o recuo do Rei Amarelo diante da nossa investida, e senti também as energias de meus companheiros sendo extraídas sem grande esforço. E eu podia reconhecê-los, como se no lugar das pequenas esferas de fogo eu pudesse visualizar o rosto de cada um deles. Duf ainda assustado e medroso, Bones curioso com o ocorrido e Ho, bem, ele certamente estaria revoltado por mais uma vez estar sendo controlado por algo ou alguém. Não é a primeira vez, não é?

Nosso corpo não vai aguentar, Ifrit. Eu preciso fazer alguma coisa. — aleguei, mas novamente ele não me deu ouvidos.

Então decidi aproveitar do tremor para fazer uma coisa. Se eu estava sentindo tudo então eu também podia me movimentar, não? Ergui o braço como que tentado a controlar o braço de Ifrit, e eu senti que este responderia, então não havia motivos para hesitar. Estava na hora de re-alocar as energias. A mesma energia retirada de Dufreine, seria redirecionada ao Guardião, em busca de devolver a sua força de vontade e força. Ele não é o Guardião afinal? Seu ouro acabou de ser roubado, meu amigo!

Já a energia do círculo, provinda de Ho, e a energia de Bones, seriam absorvidas diretamente pra mim. Considerando o Ifrit em meu lugar agora, talvez eu fosse capaz de fortalecê-lo e garantir que nosso corpo aguente mais um pouco com essa energia extra. Deixando, por fim, somente a energia do Rei de Amarelo nas mãos de Ifrit. E por falar nele...

— Heb esgyrn a soulless — bradou, consoante ao meu movimento de realocar as energias nos colegas de grupo.

Nossos olhos brilharam em chamas ardentes enquanto as correntes que antes seguravam o Rei de Amarelo pela perna, agora puxariam-no abruptamente em nossa direção. A energia antes flutuando à sua frente também seria trazida junto como que por atração. E eu logo entendi que a intenção desse movimento só podia ser empalar o Rei de Amarelo com os grandes chifres de Ifrit. Consolidar o efeito do círculo, depois de tantas intromissões, só seria possível agora com um dos alvos, sendo este o próprio Rei. Uma vez a energia do círculo completa dentro do próprio Ifrit, o seu chifre empalando o rei serviria para quebrar o seu espírito, consumindo-o nas chamas.

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Mensagem por NR Sérpico Ter Jan 10, 2017 11:55 pm

43. Engolido

Onde estava, era gosmento e quente e elástico. Sentia um cheiro e talvez acordou por causa dele. Um cheiro ácido. Acordou? Bom, não exatamente. Estava mais para aquele estado de preguiça, aquele momento em que a pessoa não está acordada e nem dormindo. Esse era Sean agora, um meio termo. Por quanto tempo estave no silêncio?

Alguns vultos em sua mente mostravam as pedras caindo, mostravam uma energia se recusando a entrar em si mesmo, em Ifrit; mostravam as pedras explodindo antes de tocar o guardião, que recebera de volta sua porção roubada de essência; mostravam o enterro de Ho e Bones e Duf; mostravam o Rei rendido e empalado, rogando alguma praga última para Ifrit, o sangue dele grosso, até mesmo um pouco granulado como areia, caindo sobre o rosto de Sean. E depois o som do mundo quebrando e aí o tal silêncio.

O que Ifrit realmente queria invocar ali? Se conseguiu, Sean não teve olhos para ver o que foi.

Agora os sons voltavam. Um glub-glub constante, como se o menino estivesse debaixo d’água, ou perto. Era gosmento, quente e elástico. Tentou se mover e não conseguiu. Tinha a vaga impressão que estava despedaçado, como um boneco. Podia sentir sua mão longe demais de onde normalmente ela estaria; assim como a perna, que parecia não estar no lugar correto. Mas aos poucos... sim, além da volta dos sons, ele quase podia sentir que o seu corpo estava sendo remontado. Ou ao menos a sua percepção de corpo.

Aquilo poderia deixar qualquer um louco.

Na Antessala, Russelo falou da possibilidade de insanidade. Se não agora, quando voltasse. Voltasse a viver. Como? Recolhendo o Triangulli. Sim, agora já lembrava melhor das coisas. Sua mente também estava entrando nos eixos, afinal. Os vultos voltaram noutro giro de memória, o círculo, as energias, Ifrit, sangue arenoso, Sollrac dragão completo.

Sentiu uma lufada, um bafo, um gás. O cheiro de ácido estava ali, por perto, e talvez fosse ele, o ácido, a fazer glub-glub. Mas então as paredes daquele lugar gosmento, quente e elástico se contraíram contra Sean, um aperto repentino. O ácido subiu de lugar nenhum, lhe envolveu. Apertado, sentia que era impulsionado, conduzido numa direção.

Na direção da luz.

Mas antes de sair completamente de lá, passou pela língua bifurcada, passou pelas presas, e então tombou no chão, ensopado, o ácido gástrico pingado dele e pingando da boca da enorme cobra branca.

E aí ela disse:

— Fique aqui. Fique quieto. — E tinha a voz do Vax.

Era estranho, respirar outra vez. Por exemplo, agora, fora de onde esteve, respirar parecia a coisa mais incrível e essencial a se fazer. Ele poderia passar a vida inteira só ali, parado, respirando.

Os luminares no céu do submundo já estavam deitando. Logo seria noite. Aquilo de algum modo pareceu bom. Noite lembra dormir — e para Sean dormir, dessa vez respirando, parecia uma ideia interessante.

A cobra se moveu, Sean não viu para onde. Mas se fizesse algum esforço para mover a cabeça para o lado, veria que não estava só na terra quente. Aurélio também estava lá, desmaiado, com vermelhidão na pele, as roupas úmidas de ácido.

Então Sean sentiu que tinha mais alguém ali por perto, chegando, vindo para ele. Essa pessoa, quando apareceu no campo de visão dele, disse:

— Seu fraco.

Era a jovem bruxa.

Sean descobriu, só agora, ser incapaz de mover qualquer coisa que não fosse a cabeça. E os olhos. Até a boca parecia embargada, a língua como que três vezes o tamanho original, obstruindo tudo lá dentro. Estava ficando sonolento.

— Está com a porra do silício?    

Um dos lados da cabeça dela sangrava, pingos gordos saltando do queixo para o chão. Ela se agachou, pegou no queixo de Sean com uma mão suja, num aperto que fez a boca do menino abrir um pouco, e intimidou:

— É melhor que você tenha engolido a coisa. Caso contrário...
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Mensagem por Hummingbird Qua Jan 11, 2017 5:14 pm

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Sabe, uma das coisas que me deixa inseguro em conhecer gente nova é justamente isso; a amnésia. Com o tempo eu aprendi que o convívio com Ifrit me causava alguns apagões na memória e, independente do meu esforço para reavê-los, era simplesmente impossível. Então eu fico pensando como é que vou explicar isso pra alguém, já pensou? Eu conheço alguém hoje e daqui a uma semana ou mais eu esqueço? Mas é melhor não focar nisso. Quero dizer, haviam outros pensamentos que tomaram a minha atenção no momento.

A começar pela sensação de inconsciência meio consciente. Isso existe? Eu deveria ter perguntado pra mocinha bonita da floresta, ela com certeza saberia me responder! Mas, na minha perspectiva, o que chega mais perto de explicar é a sensação de acordar de um sonho dentro de outro. No caso, eu ainda estava no sonho. Deu pra entender?

Estimular minha cabeça à pensar no que aconteceu me trouxe confusão. Tudo estava meio desconecto, incluindo sentidos — que cheiro é esse? As palavras de Russelo vieram na minha cabeça, uma voz curiosa. Depois lembrei das palavras de Ifrit. Lembrei também das palavras do Rei de Amarelo, e só aí é que as coisas começaram a tomar alguma forma — imagens, porém sem muita conexão. Parece que elas vinham como se fossem os últimos pensamentos que tive antes de apagar, como algo que eu estava pra fazer mas acabei esquecendo. Bom, deu pra ver que não esqueci por completo. Mas será que consegui fazer alguma delas? Não consegui lembrar. Daí veio a sensação de ânsia, mesmo que eu não sentisse muito bem o meu corpo como normal. CADÊ MINHA MÃO?

AAAA.

Eu queria gritar. — Queria. Mas não consigo. Por que?

Depois veio a luz. Veio o escorregão, veio eu. É bom respirar de novo. Aliás, é bom sentir outro cheiro que não aqueles gás. Bom também ouvir alguma coisa. Era o senhor Vax? Pensei em coçar os olhos pra conferir a visão mas minhas mãos não respondiam. Que preguiça. Mas eu estou vivo, afinal. E tenho a sensação de que isso deveria ser comemorado, só não sei o porquê.

Mas espera, espera! Eu não estava falando sobre o medo de conhecer alguém e acabar esquecendo por conta desses apagões? Bom, ao menos eu posso dizer que ela eu não esqueci. A dona bruxa. Assim que ela se aproximou eu pude sentir uma presença conhecida, hmm? Não precisei, na verdade, fazer algum esforço para vê-la. Ela veio até mim. Sua mão direita parecia me segurar pelo queixo mas, por mais que eu tentasse entender aquilo, eu não conseguia sentir. Acho que estou sonhando no fim das contas. Mas se realmente me fosse possível, eu não poderia deixar de sorrir diante daquele contato tão... próximo.

— E-..esses olhos... — era o que eu queria dizer.

Talvez ela, somente ela, pudesse entender. Como se sente agora, desejando tanto por uma resposta que não pode ter? E bem, não era preciso ser um gênio pra saber que nas minhas condições eu nem sequer pensei em reaver o silício das mãos de Duffreine. Mas eu estava sem forças e aliás sem vontade de explicar. Talvez se eu lembrasse de mais alguma coisa, conseguiria dizer quando foi a última vez que o vi, mas até então tudo estava muito confuso. É cedo pra dizer.




OFF - parafraseei o que ela disse quando morreu. Só pra me vingar dessa vagaba que me deixou morto de curiosidade na época!

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Mensagem por NR Sérpico Ter Jan 17, 2017 8:53 pm

44. Amiga em comum

Mesmo o mais otimista não apostaria em um silício ileso depois de todas aquelas rochas caindo. Foi um tempo em que tudo que Sean respirava era o pó das estruturas, não havia ar de tanta demolição, nã tinha como nada sobreviver àquilo. Por falar em estrutura, assim que abriu a boca para falar com aquela moça, sentiu uma imensa vontade de vomitar e isso, por um instante, roubou sua sonolência.

Ela largou o queixo de Sean, que virou a cabeça e cuspiu saliva quente e pegajosa no chão. Logo descobriu que o cuspe não era só cuspe. Depois de alguns segundos, o vômito terminou. Sean ficou com um gosto ruim na boca.

— Sean? — perguntou a voz fraca do Aurélio, ali ao lado.

Quase que ao mesmo tempo, ele começou a tossir, virou a cabeça e vomitou exatamente como Sean. A mesma coisa pegajosa e translucida.  

— Aquela cobra tem algum talento — disse a moça, assistindo a cena. Voltou seu foco para o filho de Lyra. — Mas é realmente uma pena que você não tenha engolido o silício junto com toda essa substância. Nossa amiga em comum realmente precisava daquilo. Pensei que você era especial, por causa desses... olhos. Ela também pensou isso. Burra.

Sean estava deitado na terra. Ao redor de si, não tinha a percepção de nada, apenas a mesma paisagem, o campo rochoso de sempre em todas as direções. Mas quando olhava para a bruxa via, além dela, no horizonte, o que deveria ser fumaça. Mas estava realmente longe para captar de onde subia toda aquela cortina.

— Agora, nesse momento, eu deveria aproveitar e fazer você pagar. Não por isso, do silício. Mas por aquilo. Fui morta por me distrair com você. E agora eu poderia... — Ela se curvou de novo e pegou o queixo de Sean. — Que droga. Por ela, menino, é por ela. Hoje. Não prometo misericórdia caso nossos caminhos se cruzem novamente.  

Ela soltou o queixo outra vez, se empertigou e pareceu pronta para ir embora. Deu um passo para longe de Sean.

Sean já se sentia capaz de se mover. Mas ainda lutava com sua consciência, que teimava em lhe dizer para dormir ao invés de ficar acordado e de papo com aquela estranha.

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Mensagem por Hummingbird Qui Jan 19, 2017 9:24 pm

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Eu preciso dizer; essa situação não era de fato algo inesperado. Quero dizer, não havia motivos para me desesperar afinal, no convívio com Ifrit — ainda vivo, isso acontecia direto. Náuseas, dores de cabeça, entre outros sintomas. A diferença é que agora eu sabia que boa parte dessa exaustão em excesso era fruto daquela poção que o amigo Duff me ofereceu. Como eu sei disso? Meu estômago mandou avisar tempos atrás, ainda na conversa com o sr.Guardião. Eu definitivamente não sei como consegui segurar aquela dor de barriga que quase me fez me borrar lá mesmo.

— N-..gnhhh... —  as palavras embrulharam-se junto da minha língua, dando espaço para o tal líquido esquisito sair. E pasmem; aquilo não era saliva. Aliás, nem eu sei o que é, mas prefiro não saber.

Ainda perdido em meus sentidos, num misto de sensações entre fraqueza e inconsciência, uma voz conhecida me confortou. Aurélio estava por ali, talvez do meu lado direito ou esquerdo, não sei dizer. Meus olhos pesavam, pareciam me enganar entre um mundo de visões e sonhos, e a realidade. Será que estou doente? Maluco talvez?

Ao menos Aurélio estava lá. Isso significa que estou entre os bons. Não entendi o que a Dona Bruxa estava fazendo ali, mas pelo rumo da conversa, suas palavras denunciaram alguma ligação com minha mãe. Afinal, foi a pedido dela que fui na busca do silício não é? Só se ela conhecesse a Lyra pra saber dessa busca. Ou podia ser aquela senhora presa na bola de vidro, não sei. Quem é que pode dizer? Pensei em perguntar para Aurélio, mas ele talvez estivesse tão fraco quanto eu. Tão perdido quanto também. Optei por respirar, ainda que o ar parecia muito semelhante àquele que respirei quando Cyrus afogou o mundo em chamas. A diferença é que não tinha cheiro de churrasco, não dessa vez...

— Ei..Obrigado... — já que minha fraqueza embargava minhas palavras, decidi investir num dialogo mental. Por um instante esqueceria dos eventos externos, almejando elevar os meus pensamentos até ele. — Da próxima vez eu garanto que não vamos fraquejar tá? — e em resposta; o silêncio. Silêncio este que ninguém mais poderia interpretar senão eu. Silêncio este que, muitas vezes, representava o conforto de uma presença, a sua presença.

E esse conforto me dava forças.

Abri os olhos.

— -O...O o-ouro... Sollrac!? — tentei cuspir as palavras, forçando-as a sair. Quebrar o embargo. Seja lá quanto mais daquele líquido eu precisasse cuspir, mas eu precisava falar. Precisava entender o que aconteceu. As palavras e a dúvida vieram num impulso, e só depois é que vieram imagens que relacionavam o perguntado ao ocorrido. Lembrei do dragão, e do ouro levado. Por quê lembrei? Porque falavam do silício. Talvez o único capaz de tirar a mamãe daqui. Mas segundo os juízes, com os pedaços do ouro eu poderia sair, e quem sabe levá-la também. Não dá no mesmo então?

Se pudesse, colocaria esse raciocínio em palavras, mesmo que emboladas. Precisava tentar expor o meu ponto de vista, mas o sono, naquele momento, era o último dos meus mais resistentes adversários. Será que consigo vencê-lo?


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Mensagem por NR Sérpico Dom Jan 22, 2017 9:14 pm

45. Eu de novo

Não tinha como lutar e a moça bruxa parecia pouco interessada em manter Sean desperto, de modo que ele começou a escorregar para o sono. Antes, teve a vaga impressão de que a bruxa tinha se ido e que uma cobra enorme surgira ali perto logo depois. Essa cobra inchada e branca abriu a boca de um jeito articulado que parecia doloroso pra diabo. Começou a pingar ácido de lá, seguido de Bones e depois de Ho. Ambos tombaram inconscientes no solo e aí sim, Sean se foi.

Ressurgiu no sonho. O cenário era o mesmo: sala pequena e escura e quadrada, com grades de barras grossas e diagonais no lugar de uma das paredes. Parecia uma cadeia. Do outro lado das grades fechadas havia um corredor, no outro extremo tinha uma porta de madeira fechada, ao lado da porta um único archote ardia e iluminava um pouco o ambiente, lançando a sombra do homem no corredor até a ponta das grandes onde Sean estava.

— oi.

Há que se manter o bom humor, então:

— como se sente ao saber que foi engolido e vomitado por uma cobra? experiência única, jovem!  

Mas vamos ao que interessa. O fato é que Sean conseguiu, sim, colocar em palavras, ainda que essas palavras tenham se perdido metade no mundo dos acordados e a outra proferida aqui, antes que despertasse. Uma meia mensagem do seu pensamento alto ultimo sobre a mãe. Mas peguei a ideia.

O homem simpático lá pelo meio do corredor, contra a luz do archote delineando sua silhueta e dando apenas alguns poucos traços para Sean interpretar (os mesmos cabelos compridos, as mãos nos bolsos da calça larga, sem camisa, algum desenho esquisito em seu peito, um desenho circular que só seria possível ver melhor se houvesse luz do lado de cá do corredor também, ou se o sujeito se virasse um pouco, enfim), disse:

— talvez tenha um jeito. de você voltar a vida junto com sua mãe, digo. mas você teria que pagar.

Sean estava pleno em suas capacidades. Podia falar, se mover. Mas tinha a noção de estar em um sonho. Um sonho lúcido.

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Mensagem por Hummingbird Seg Jan 23, 2017 12:44 pm

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E dormir nunca pareceu tão reconfortante e essencial como agora. Talvez um complemento à sensação desesperadamente necessária de respirar novamente como fiz há pouco. Ou teria se passado mais do que "um pouco de tempo"? Eu não sei. Tudo parecia tão confuso, palavras e lembranças escorriam em minha mente como vidas distantes ou pequenos sonhos sem sentido. Palavras de Russelo, Ciclos, explicações de Aurelio, a voz de meu pai.

Então acordei. Será?

Estava aliviado, disso ao menos eu tenho certeza. Dormir foi tão revigorante que só de aparecer ali eu poderia comemorar. As minhas palavras até saíram, ignorando o embargo anterior. Então eu pisquei, olhei ao redor, respirei fundo. Percebi que eu podia falar, podia me mover, eu era eu novamente. Nós — eu quero dizer. Daí então reconheci as grades, o lampião antes quebrado que me lembrava o corredor ante a sala de Duf. E o homem. Os mesmos cabelos longos e um jeito aparentemente simpático e descontraído que me trazia a sensação de conforto.

— E se tu vens, por exemplo, às quatro, desde às três eu começarei a ser feliz... — parafraseei as palavras de Baien. Pai, para os íntimos. E um sorriso bobo ganhou meu rosto, como que dando-lhe de presente para aquele homem — Olha, depois de ser chamuscado por um dragãozão e sair vivo? Ser engolido por uma cobra pode ser mais tranquilo do que parece, hahaha. — engatei em resposta.

Depois o silêncio. Aproveitei o momento. Seja lá onde eu estava, podia aproveitar um pouco mais do poder das memórias. Aquela capa que eu vestia e que tanto sentia falta. Meus dedos tamborilavam pelas bordas da vestimenta, ajustando-a para melhor aconchego. O mesmo sorriso bobo no rosto. As mesmas palavras de uma vida distante. Mas elas não eram as únicas ecoando naquele lugar; soaram consoante as palavras do homem da consciência coletiva — era assim que ele se apresentou né? E ele pegou minha ideia, pareceu compreender que mesmo depois de tudo, eu ainda queria dar uma segunda chance para minha mãe. Mas como esperado, a palavra pagar ou preço parecia estar sempre vinculada a qualquer tipo de pedido de ajuda que eu buscava com alguém. E eu não estou me queixando ou coisa do tipo, só que... eu não sei.

— Por que as coisas sempre fazem parecer que eu sou um devedor pra sempre? Como se eu realmente tivesse escolhido ter essa história.. — curioso; as palavras saíram com uma sensação esquisita de alívio. Um desabafo, é isso? Mas eu acho que já aprendi a lição. Aquele moço provavelmente também deveria ter suas próprias certezas, igual o sr.Guardião. Então não ia adiantar enrolar.

— O que eu tenho que pagar pra trazê-la comigo? — Indaguei, inocente.


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Mensagem por NR Sérpico Seg Jan 30, 2017 9:20 pm

46. Sacrifícios

Me antecipei a garantir que:

— não é pra mim, não. — Pôs a mão no peito. — só estou falando que é normal ter de pagar para sair daqui, do submundo. não fique tão frustrado assim, você é jovem. ainda pode reiniciar sua história umas três vezes.  

Depois um pigarro e o retorno ao assunto:

— o pagamento. bom, já escutou a história do cavaleiro negro? que péssima pergunta, é claro que já. deve ter escutado umas mil histórias do cavaleiro negro, não é? talvez já ouviu falar de uns 108 cavaleiros negros diferentes. é, parece algo bem comum, admito. mas estou falando do primeiro cavaleiro negro. o primeiro homem sombrio à usar uma armadura completamente negra, um homem que por onde ia, deixava mortos. esse homem escapou daqui. quer dizer, ele negociou a saída com quatro demônios poderosos. ele queria vingança com o homem que o tinha confinado aqui, e os demônios se aproveitaram disso falando que ele sairia daqui, mas enquanto não concluísse sua vingança, teria de oferecer um sacrifício em sangue de tempos em tempos, lá, do mundo dos vivos. se não fizesse os sacrifícios, demônios menores, mas em grande quantidade, iriam até ele reclamar o sangue devido, no caso, matando ele. é. bom, esse homem não era de matar as pessoas sem que merecessem, ao menos não no início, então ele teve um problema moral em executar esses sacrifícios. não demorou para demônios surgirem para pegá-lo, já que não cumpria com o acordo. aí ele matava os demônios todos. os demônios continuavam indo, de tempos em tempos, sedentos, e morriam, sempre. o cara sabia matar uma horda de inimigos, isso sim. ele usava uma espada enorme pra fazer o serviço. então os demônios começaram a possuir pessoas próximas a ele, pra ver se assim conseguiam. tentavam pegar ele dormindo, comendo, cagando. e ele matava a todos mesmo assim. é claro que não conseguia explicar para as autoridades que as pessoas não eram mais elas mesmas quando as decepou, que eram demônios... acabou se tornando um sujeito procurado, com recompensa oferecida pelo rei da época para trazer o assassino à justiça. certo dia ele conseguiu sua vingança, finalmente achando o cara. os demônios foram embora e ele passou a ter de enfrentar os homens que o caçavam de tempos em tempos, em busca de recompensas. nessa altura, ele já estava paranoico demais e não tinha escrúpulos, matava qualquer um que achasse uma ameaça. conseguiu uma armadura negra e uma espada maior que a anterior e todos se afastavam quando via ele ao longe. aqui, os quatro demônios riram do resultado: eles tinham forjado uma criatura louca e matadora em um homem que queria apenas vingança. a vida dele foi regrada pelo sangue, desde que saiu daqui... esse é um exemplo, um exemplo comum, devo dizer. sacrifícios, o pagamento mais comumente exigido. se prepare para ouvir esse tipo de proposta, Sean.
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Mensagem por Hummingbird Qua Fev 01, 2017 3:05 pm

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— Ah... — rendi um suspiro como que aliviado — Então ta certo! — terminei relaxando os ombros e voltando o meu olhar para o tal homem do outro lado da sala escura. E sabe, no começo eu até estava curioso para ver o seu rosto, mas não sei, depois de me ver aqui novamente é como se não fosse assim tão necessário. Ou talvez eu só esteja mais focado em outras coisas como por exemplo...

Uma história!

— Não! Eu nunca ouvi essa. — e apesar de hesitar um pouco àquele entusiasmo de sempre, acabei me rendendo — Mas eu adoro histórias! Me conta! — quem é que resiste a uma história? Sentei-me de pernas cruzadas, mãos apoiadas na ponta do sapato e uma cara de quem acabou de ganhar um presente. Ouvidos atentos, imaginação à flor da pele. Por um instante até me perguntei por que eu estava tão tenso anteriormente?

Bom, o fato é que a história falava de sacrifícios. Engraçado que é bem o tipo de história que o Ifrit gosta, e eu me pergunto se essa satisfação toda em ouvi-la foi fruto desse gosto pessoal ou só porque eu gosto de histórias mesmo. Bem, isso não vem ao caso eu acho. Confesso que me perdi em algum momento, ponderando em como eu chamaria aquele homem no decorrer da nossa conversa. Afinal, como se conversa com alguém que você não sabe o nome mas que também provavelmente não tem um? Isso é muito difícil. Precisei interromper.

— Vou chamar você de Rocco. Posso? — e veja bem, não tinha nenhum motivo especial para o nome. Foi só o nome que eu achei que combinava com ele. E independente de resposta, ficaria em silêncio ouvindo o restante da história.

Oras, não sou tão mal educado assim. Sei como me comportar quando os outros estão contando histórias tá?

— Aaahhh...no final ele se deu mal do mesmo jeito! — comentei surpreso, engatando no fim da história. Mas o que eu realmente entendi por tudo isso fez um paralelo com o que aprendi com o Sr.Guardião, ou quero dizer; o que acho que aprendi. O cavaleiro fez sua escolha, e não foi a escolha de voltar a vida, mas sim voltar a vida pra se vingar. Como disse o guardião, as consequências disso são nossas responsabilidades né? Fiquei pensando sobre isso antes de voltar a falar;

— Eu só preciso saber de uma coisa, Rocco — chamá-lo assim me fez me sentir mais confortável — Eu vou ter oportunidade de escolher? Mesmo depois da proposta feita? — meus olhos fitaram-no com certa hesitação. Por traz dessa preocupação existia um medo, sim, um medo. Quem sabe o quê ou quem eu serei proposto a sacrificar pela salvação da minha mamãe e a minha?


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Mensagem por NR Sérpico Qua Fev 08, 2017 9:04 pm

47. Vazio aberto

— rocco? — Na penumbra, ele pareceu sorrir sem mostrar os dentes, deu de ombros. — pode ser. é, pode ser.

Depois, quanto a pergunta última de Sean, o homem explicou que:

— sim. acredito que sim. você vai poder escolher tranquilamente. mas talvez uns ofertantes sejam mais impacientes que outros, então você vai ter que decidir rápido. vou te mostrar.  

Ele se virou e começou a ir contra a luz do archote, até o lado oposto do corredor, abrindo a porta que estivera fechada. Do lado de lá a paisagem era de um azul negro ondulante. Fazia som de água. A luz do dia entrou e o archote, agora desnecessário, apagou.

— vem. a cela tá aberta.  

Na verdade, não havia tranca nenhuma ali, apenas as barras de ferro em diagonal, separadas umas das outras por alguns centímetros. Como que “estava aberta”? Mas se Sean tocasse nelas, sua mão atravessaria — como se ele, ou as barras, não existissem. Então poderia sair para o corredor atravessando as barras e seguir o homem que já estava dando um passo pra fora daquele lugar sem nem esperar por Sean.

Não parecia haver um chão do lado de lá. Apenas uma queda livre no azul negro. Era como se estivessem em túnel no céu, na vertical. Aquilo poderia dar alguma desorientação gravitacional só de pensar.

Ele ia dizendo, enquanto isso:

— tem uma possibilidade que sem dúvida vai te sair caro, mas é a mais comum e aberta. nenhuma autoridade interfere, por exemplo. os outros dois jeitos são clandestinos: além do acordo, na hora de atravessar, se tiver azar, algum superior pode aparecer e te pegar. ou então você pode retornar com o Vax, que é exatamente o que ele está fazendo agora. andando, pois suspeito que ele já não tem energia para aqueles saltos no espaço, hm. o problema de voltar para o julgamento é que sua mãe não estará inclusa no pacote, caso você ganhe a vida de volta. mas... francamente, você poderia deixar pra lá. sua mãe com certeza será ajudada por outra... pessoa. você conhece ela, aquela menina. se tentar rastrear sua mãe, vai acabar topando com ela e isso pode não ser bom. a menos que você chame o Ifrit para destruir tudo outra vez... mas seria melhor apenas não acontecer, sabe? fratricídio é algo triste, em todas as histórias. como é, vem ou não? não gosto de deixar essa porta aberta por muito tempo...
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Mensagem por Hummingbird Sex Fev 10, 2017 1:27 am

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Olha, eu não posso deixar de dizer; como é incrível ter meu cabelo de volta? Eu estava sentindo falta, é verdade! Posso ver as pontas escorrendo da minha testa e provocando meus olhos a encará-las por mais difícil que seja. Mas eu gosto da sensação. Eu sinto como se, apesar de tudo, eu esteja bem. Aliviado, sabe? Mas não só pelo meu cabelo. As palavras de Rocco me confortaram; no fim das contas eu tenho uma escolha então.

— Então tá! Eu vou com você. Mas... espera aí.. — enquanto me levantava, analisei as grades que nos separavam dentro daquele salão. Ponderei se realmente eram reais, uma vez que o próprio Rocco disse que eu podia passar, que eu nunca estive preso. Toquei as grades. Minha mão atravessou! — U-Uoh! Atravessou! Você viu? Viu? — animado, deixei um sorriso escapar e novamente repeti o ato, atravessando agora meu corpo inteiro.

Nossa, aquilo foi incrível!

Depois veio aquela mudança de cenário, a imensidão escura porém encantadora. Eu mal conseguia piscar! É verdade! Senti como se pudesse voar, como se não houvessem amarras, uma sensação de..liberdade. Até onde eu poderia ir? Minhas pernas queriam corres? Eu queria desbravar aquilo, mergulhar? Eu não sei, é tudo tão confuso. Olhei para Rocco. Ele falou umas coisas engraçadas, fingi concordar como se estivesse entendendo tudo mas eu confesso que não consegui compreender tudo. O que era um Fratricídio por exemplo? Bom, talvez não seja o momento de perguntar. Fiz que sim com a cabeça.

— Vamos sim! — afirmei de imediato. Não dá pra esconder meu entusiasmo, eu não consigo, oras!

Ainda assim eu sabia, lá no fundo, sabia que essa não é uma viagem a um parquinho e que também não vou encontrar só diversão. Mas só de repousar meus olhos naquela imensidão azul escuro, era como voar num céu que poucas vezes eu vi na vida. Lá em Takaras o céu nunca brilhou tanto assim, nem as estrelas. Não chegaria perto dessa beleza nem que tentassem. Ou será que não? Ou será que no fundo dessa escuridão pode existir diversão?

No fim eu acho que essa aventura toda me deixou foi bastante chato. Normalmente eu teria me divertido a beça com isso tudo...


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Mensagem por NR Sérpico Dom Fev 12, 2017 1:29 pm

48. Fenômeno de luz

Saiu pela porta e caiu. Depois flutuou. Era como sua Levitação, mas sem precisar ter de pensar em levitar. Sentia-se leve. E não apenas o cabelo estava de volta: as roupas, a que imaginasse, estaria ali também.

Estava num mundo aberto, abaixo, o oceano negro e denso. Escutou uma porta se fechando atrás de si, se virou e viu Rocco, não mais na penumbra. Ele sorriu e tinha dentes pontudos. Seus olhos laranjas semicerrados observaram o mundo e ele respirou fundo. Os cabelos compridos eram vermelhos, amarrados na nuca. Rocco meteu as mãos nos bolsos das calças largas, descontraído. Não estava mais com o peito nu: um manto enrolado passava pelo ombro, dobrava na cintura e voltava para o outro ombro. Algo nele parecia jovem, uma disposição quase que infinita, um jogador paciente.

Ah, e da sua barriga despontava um fio prateado quase que translúcido. Esse fio se dividia em quatro pontas, três delas sumiam no ar, até onde os olhos de Sean enxergavam, como se estivessem ligadas a alguma coisa distante. Já a quarta ponta do fio ia até o próprio Sean, em sua barriga. Um tipo de cordão umbilical. Se tentasse pegar o fio, seria o mesmo que tocar nas grades abertas do lugar secreto de Rocco: sua mão atravessaria, como se aquele cordão não existisse de verdade, sendo apenas um efeito visual momentâneo, um fenômeno de luz como um arco-íris — mas que não desaparecia.

Rocco disse:

— o primeiro cara... você se lembra do Mic?

Ele saiu levitando numa direção. Primeiro lentamente, para que Sean acompanhasse. Depois aumentando a velocidade gradativamente, nada grosseiro, mas o bastante para ter vento nos cabelos.

— lembra dele comentando que estava devendo, ou algo assim. ah, sim. um cara, feito de pedra, lembra dele? estava cobrando o Mic quando vocês apareceram na colina. então. uma das três opções de negócio é justamente esse cara que o Pintor ficou devendo. um demônio chamado Gushnasaph, ou somente Nasa. vou te mostrar onde ele fica.

Voavam bem agora, quase que completamente inclinados de peito para baixo. O cenário continuava o mesmo, oceano de todos os lados. Uma vez que Sean olhasse para baixo, notaria que alguma criatura marinha imensa acompanhava o voo deles, como se realmente os estivesse vendo. Rocco também percebeu, mas não pareceu ligar.

E lá longe, na direção para onde voavam, surgiu um brilho, depois outros, logo um monte. Como reflexos. Os dois estavam bem longe de lá — por exemplo: ainda não dava para enxergar terra ou qualquer outra coisa na borda dos mares, mas os reflexos contrariavam isso, pois pareciam se projetar para o céu, formando imagens e formas cada vez mais claras, como se estivessem de fato se aproximando de algum lugar.

Antes que as imagens feitas de pura luz refletida pudessem ser interpretadas, Rocco observou Sean com um sorriso.

— talvez você veja uma miragem logo mais. talvez já esteja vendo nesse momento.

Sean enxergou Chagas rindo, mordiscando uma maçã. Estava montado no cavalo, depois do pique até a borda da floresta. Esperava o grupo com provocação preparada. Hayashi foi o primeiro a surgir.

— Onde aprendeu a cavalgar, irmão? — Brincou Chagas. — Na igreja?

Ao que Hayashi riu:

— E quem disse que eu sei cavalgar?

Logo o segundo colocado estava ali, e Sean se lembrava de ter chegado logo depois de Hayashi, mas quem estava na sela não era ele, era um homem cuja as feições não lhe diziam nada em termos de reconhecimento, mas mesmo assim, como em um sonho com desconhecidos, Sean podia sentir como se conhecesse profundamente aquele sujeito. Um homem que não fez parte daquilo, daquela busca pela herança do Targo, mas que no entanto estava desenhado na visão entre as luzes.

Chagas lhe atirou uma das maçãs e disse:

— Esqueci de amarrar uma corda em vocês antes de sair! Mil perdões!

Ao que o homem riu daquilo, catou a maçã no ar e falou:

— Eu sim: aprendi a cavalgar na Igreja.

Os reflexos continuaram a piscar, distantes, mas as formas e imagens sumiram.

— o que viu? — Rocco quis saber, descontraído, como quem não se importa. Mas seus olhos pareciam sérios.

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Mensagem por Hummingbird Ter Fev 14, 2017 12:56 pm

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— Hmmm, sabe, você até que me lembra um pouco aquele velho? — Referia-me ao Rei de Amarelo. Quero dizer, as palavras saíram mais como um reflexo, quase como se eu as tivesse puxado de alguma memória distante em que, mesmo naquele instante, eu não era capaz de acessar. Eu só não consigo lembrar, mas sinto que devem ser parecidos, principalmente porque aqueles fios brilhantes me causaram um arrepio. E é aquela história, esses arrepios sempre me trazem más lembranças...

De qualquer forma, não fiquei empacado nessa teoria. Na verdade, ainda estava encantado com o tal oceano. Talvez tão encantado que só por isso notei alguma coisa nos acompanhando durante o voo livre. Pois é, estamos voando, ta vendo que incrível? E a bruxa ainda me chamou de fraco.

— Ei, você ta vendo aquela coisona ali seguindo a gente? Sinceramente eu não quero ser engolido por outra cobra não. — e apesar do tom amistoso em minha voz, eu estava um pouco preocupado. Já passei por uns maus bocados né? Queria ter um pouquinho de tempo livre, sei lá, respirar um pouco?

Mas daí o Rocco entrou logo em outro assunto, falando sobre Mic e sobre o amigo dele;

— O Nasa! Lembro sim. Nomezinho complicado heim? Aliás eu sempre me pergunto quem é que escolhe esses nomes de demônio? — foi mais uma pergunta retórica, não que Rocco precisasse respondê-la. Pra ser mais direto, eu  ainda estava mais preocupado com a coisa nos segundo em baixo do oceano escuro do que com a conversa, mas tudo bem.

Daí papo vai e papo vem, ele entrou no assunto antes referido; o sacrifício. No caso, um dos sacrifícios válidos seria o tal Nasa, contratante do pedregulho que por sua vez estava batendo no tio Mic. Aquilo me deixou preocupado pois imediatamente as memórias me atingiram em flash's, a começar pelo tal pedregulho. Se ele era daquele tamanho e tão forte — que nem mesmo o grandão Ho conseguiu bater nele, como seria o tal demônio Nasa? Deve ser umas dez vezes maior! Isso me preocupa. Ao menos se eu tivesse um dragãozão pra me acompanhar seria mais fácil... onde está o Cyrus quando a gente precisa?

— Miragem? — cortei a conversa, quase como se desse de cara com aquilo que acabara de ser referido.

Na verdade foi tudo muito estranho porque as coisas estavam acontecendo muito rápido. Desde a queda livre no oceano escuro, o voo, as luzes... e no fim Chagas. Espera.. Chagas? A maçã, o riso. Eu lembro disso tudo! Foi minha primeira grande aventura a mando do tio Targo! Mas isso faz tempo, por que estou lembrando disso agora? — dúvida essa que ficou pra depois

— Quem é aquele? — respondi ao passo que as imagens sumiam e eu permanecia catatônico como que por efeito de um sonho. — Aquele que estava no meu lugar! Que esquisito.. tenho certeza de que fui o segundo a chegar! — resmunguei quase como se estivesse mais insatisfeito dele ter chegado primeiro que eu do que de fato ele estando no meu lugar. Eu sou competitivo de vez em quando ok?

O fato é: — Tinha um homem no meu lugar. Lá na época da missão do Tio Targo.. — comentei com uma resposta mais concreta desta vez. Encarei Rocco então como se esperasse por uma resposta ou qualquer coisa. Sei lá né, ele parece ser um Aurélio evoluído..


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Mensagem por NR Sérpico Ter Fev 21, 2017 8:28 pm

50. Zimbro

Conectado novamente, soube de que velho ele falava. Que comparação de mal gosto. Nem comentei, pra não perder a amizade. Quanto ao monstro marinho:

— ele pode nos ver, mas não pode nos pegar. mesmo se quisesse. relaxe.

E depois, sobre a miragem:

— um homem no seu lugar? e isso não lhe diz nada, não é? bom, apenas uma miragem aleatória então. estamos quase lá.

Depois do sumiço das luzes holográficas, já dava para ver uma massa de terra no limite do oceano. Alguns segundos depois, o monstro marinho abandonou a perseguição, como se tivesse perdido o interesse, ou como se pudesse ir apenas até ali. Mais alguns poucos segundos e já dava para ver um porto na costa.

Diminui, o que fez Sean diminuir também.

Sobrevoando o porto, descemos para o terraço de um prédio de pedras negras. Dali dava para ver boa parte da região.

Olhando sentido continente, figurava uma cordilheira. Alguns pontos dela brilhava, como que refletindo as luzes do dia. Mas o foco no momento estava na cidade portuária.

— zimbro. quase uma cidade, se não fosse pelo seu fedor. ninguém consegue ficar aqui por muito tempo.

Mas Sean não sentia nada de mal. Ou seu nariz não estava funcionando ou já estava acostumado o bastante com Takaras para não se incomodar com o odor de Zimbro.  

A região era assim: a parte colada com o mar era baixa, uma praia cinzenta e arenosa. As plataformas de madeira pareciam ter a mesma idade que Lodoss, talvez um pouco mais, caindo aqui, apodrecendo ali. Em contradição, as embarcações pareciam em perfeito estado e as pessoas indo e vindo, tripulações grandes formadas por raças diversas, dava a impressão de que aquele era um lugar no mundo dos vivos, e não num meio termo como o submundo.

Então as plataformas entravam areia adentro, e por cima delas foram feitos estabelecimentos baixos, como tavernas e casas de comercio. Ou ao menos assim pareciam. Ao fim da praia, a região era calçada em pedras negras, das quais, parecia, muitas foram esculpidas e tornadas em prédios, como o que Sean pisava no momento.

A região onde Sean estava era o alto de Zimbro, como que no pico dessa grande pedreira à beira mar transformada em cidade.

Não muito longe, havia outro prédio, e do terraço lhe foi feita uma sacada com cobertura. Havia uma grande mesa no centro e tinha um garoto sentado numa cadeira, aparentemente lendo alguns papéis que deveriam ser documentos.

— aquele é o Nasa.

E apontei para o garoto.

Careca, franzino e pálido. Vestia um camisão com pelos de animais nos ombros. As duas mãos estavam enluvadas em couro. E só, nada mais que pudesse chamar atenção naquele agiota casca grossa que na verdade parecia ter uns 10 anos e ausência de alimentação decente.

Mas Sean meio que sentia como se estivesse sendo observado pelo tal Nasa, apesar dele estar com os olhos em sua leitura.

— aquele demônio vai fechar um acordo com você. algo muito próximo com a história do cavaleiro negro. mas a passagem que ele pode abrir daqui para o seu mundo pode ser interceptada por... guardas, e aí você estaria por conta. teria de continuar pelo caminho à força. se perder, há uma grande chance de você ser completamente extinguido. é um dos três jeitos, e é clandestino. Arriscado, mas não impossível. alguma pergunta sobre ele? se não, já irei lhe mostrar a segunda alternativa. não fica longe.

Um dos quatro fios que saia do meu próprio umbigo piscou, como se energizado por um instante. Sorri:

— seu amigo Ho despertou. acredite, isso é uma boa noticia depois de tudo.  

***

Ho despertou e levou alguns segundos para lembrar como faz para se mover. E lembrou apenas disso, o resto estava nublado demais. Tinha algum fragmento de quando entrou numa fortaleza com uma mulher fantasmagórica e então algo lhe acertou e dali pra frente, tudo ficou obscuro. Lembrava de ter visto Sean e de querer pegá-lo, lá, embaixo, numa sala em que uma peça de ouro flutuava. Lembrava que Bones e Sollrac também estavam lá, mas entender o porquê daquilo já lhe escapava das capacidades atuais.

No momento, estava numa carroça.

Ao seu lado, viu um pano roxo amarrotado, como que enrolando algumas coisas, depois viu Sean e Aurélio, ambos dormindo. O cocheiro era Vax, dando nas costas de duas hienas grandes que puxavam diligentemente o veículo em velocidade razoável. Cruzavam um deserto rochoso e quente, que fazia os horizontes vibrarem em ondas. Deveria ser um meio dia, vários luminares celestes no topo do zênite. Ho sentiu sede.
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Mensagem por Knock Qua Fev 22, 2017 11:04 am

[jutify]Meus olhos se abriram de súbito, porém o meu corpo não respondia... era como aquele sono de quando estava nas missões e passava dias sem dormir; cansava de tanto suor e a carne se fartava de tanto sangue – aquele sono que se demora a levantar, não se sabe onde está. Vi alguns dos meus comanheiros lá e demorei para reconhece-los. Tie a impressão de ter sido capturado por algum adversário, mas acho que só fora reflexo.

Vi Vax guiando uma carroça com hienas... “De onde saíram esses bichos?” fora a primeira coisa que pensei e depois falei “Vax, te deixei na mão” chamando a atenção da víbora... depois complementei “O que aconteceu?”

Estava ensolarado... Como um deserto... Senti sede. Sol a pino. Seco.


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Mensagem por Hummingbird Dom Fev 26, 2017 12:26 am

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Por algum motivo sentia-me confiante. Talvez uma pausa nessa sequência de eventos atordoantes tenha me feito enxergar as coisas com mais facilidade. Eu sei que costumo me distrair facilmente, como por exemplo aquela criatura marinha que nos seguia durante o caminho. Quase posso dizer que não ouvi boa parte do que Rocco falou durante a viagem uma vez que meus olhos acompanhavam, enfeitiçados, o movimento da grande criatura.

Daí chegou um ponto onde ela simplesmente voltou. Foi quase um ultraje; ela nos acompanhou sem ser convidada, não deu satisfação nenhuma e depois foi embora. Poxa, não deu nem um tchau?

Mas a conversa logo me trouxe de volta. E me trouxe bem longe de onde estávamos no começo, aliás, será mesmo que posso chamar de longe? Eu até agora não sei exatamente onde estou nem como estou. Quer dizer, o cheiro eu senti e me trouxe certa nostalgia. Pensei em lodoss. Mas logo senti também que aquilo não era lodoss, e em lodoss eu sentia-me diferente. E sentir era a única base que eu tinha para determinar na minha cabeça onde e como estou.

Ficou confuso. Mas talvez esse só não seja o momento certo pra responder essa dúvida.

O verdadeiro objetivo ali era conhecer o tal Nasa. E eu nem preciso dizer o tamanho da minha surpresa quando vi aquele garotinho mal alimentado com luvas de couro e uma careca bem apresentada. Passei a mão em meus cabelos, por puro instinto, talvez só pra lembrar que sim, eles ainda estão ali. E então um suspiro. Ufa!

— Uau? Esse lugar não para de me surpreender. — iniciei num tom de surpresa, puxando papo com Rocco — Eu nunca que imaginei um Nasa tão... err.. pequeno? — Será que estamos mesmo falando do Nasa?

Bom, eu não estou em posição de questionar. No fim ficou esclarecido que ele era uma das três opções que eu tinha disponível. E porque diabos eu tenho a impressão de que ele está nos vendo? Mas se Rocco disse que a criatura na água não podia nos ver muito menos nos pegar, então talvez o mesmo seja com esse Nasa. Mas é melhor não arriscar, não mantive contato ocular com o demônio por muito tempo. Voltei a encarar Rocco, ou por vezes, distraía-me com a praia, as cordilheiras, ou mesmo a cidade.

— Tenho uma pergunta sim! — levantei a mão cheio de euforia — Esses tais guardas que você falou. São parecidos com o Sr.Guardião que enfrentei aquela hora? — indaguei, dono de um certo receio. Algo do tipo: definitivamente não estou pronto pra enfrentar outro daqueles, mesmo que as chances sejam baixas. Mas eu ainda não havia feito minha escolha!

Então só fiquei neste questionamento. No mais, seguiria Rocco para onde quer que ele me levasse.

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Mensagem por NR Sérpico Seg Fev 27, 2017 11:36 pm

51. Nossa sociedade falhou

— o guardião?

Um momento de hesitação pensativa e então:

— mais ou menos. sim. bom, varia um pouco. você pode encontrar seres feitos apenas de fogo ou água, por exemplo. mas também pode achar seres humanos imortais, elfos, draconianos. e eles quase sempre estão acompanhados de algum animal original, o que dificulta a peleja. você já deve ter escutado histórias de um cachorro de três cabeças guardando alguma porta para outro mundo. bom, eles têm algo do tipo acompanhando eles. mas isso varia bastante também. já ouvi falar de um corvo de quatro cabeças e cada cabeça tinha o poder das estações do ano, podiam te fazer você secar e definhar como no verão ou te renovar como na primavera, acompanhando uma anã mestre em artes marciais. hm.

Ainda observava Nasa, mas depois de um tempo me virei para Sean com um olhar sugestivo.

— sabe... o tamanho dele não deveria te surpreender. apesar de pequeno fisicamente, ele, aquele demônio ali, sabe o potencial que reside em sua alma, e esse conhecimento, da própria extensão da força, o torna muito grande, acredite... não é a toa que ele não tem nenhum tipo de segurança. bom. é uma das opções. vamos para a segunda.

Levantei voo e Sean veio junto.

— sul.

A praia correndo logo abaixo e os brilhos ocasionais das montanhas ficando para trás. Depois, um desvio para a direita, entrando no interior da massa de terra, deixando o oceano pra lá. Apesar da condição astral, era possível sentir o calor da Sarça na pele.

Uma imensa árvore foi crescendo no horizonte. O voo terminou a distância de um quilômetro ou mais. Bastava para ver bem o lugar. Deveria ser do tamanho de uma montanha. Era possível ver as raízes despontando da terra, enormes raízes. E os galhos secos e apontados em todas as direções tremeluziam num ar quente inflamado, como num princípio de incêndio. Soprava um bafo escaldante de lá.

— exatamente agora, no seu mundo, uma ilha voadora chamada Eala passa acima da sua ilha, Lodoss. nessa ilha voadora tem uma árvore, parecida com aquela, no centro. as duas se conectam, de um jeito que eu não sei explicar. você teria que ir lá, ao pé dela, e descobrir como. esse é um meio, digamos, legitimo. ninguém vai te impedir de passar desse mundo para outro se descobrir como fazer. creio que a própria árvore irá se manifestar na forma de alguma pessoa para você, e te orientar no caminho. suspeito que um possível preço será você ter que deixar alguma coisa para trás. não algo físico. algo como sua coragem, sua juventude, ou sua memória. coisas assim. das três opções, essa é a mais próxima da sua localização atual, do seu corpo. pronto para ver a terceira?

***

Vax olhou por sobre o ombro com um meio sorriso.

— Você fez o que qualquer um teria feito. Não te julgo por isso, muito pelo contrário. — Ele tornou a olhar para a frente no caminho, embora não houvesse nada de novo para olhar. Acrescentou, como que pensando alto: — Apenas peças num tabuleiro. — Pigarreou e respondeu a pergunta: — Estamos em algum ponto ao sul daquela cidade. Voltando. Nossa... sociedade... falhou. Acho que por enquanto será apenas você, Sean e o Bones no julgamento.

Ele olhou de novo por sobre o ombro e apontou com o queixo os panos amarrotados como uma bagagem improvisada. Deu a entender que os ossos do ghoul jaziam reunidos ali dentro.

— Foi uma completa desgraça. Eu devia ter previsto. Foi aí que errei. Mas não havia tempo para saber de tantos detalhes. O Sean aí tendo relacionamento com gente daqui e Sollrac tendo um selo interno tão fraco, porém oculto, que foi arrebentado facilmente por um feiticeiro velho... Foi uma total desgraça. Mas não havia tempo para estudar todas essas nuances.

Ho se lembrou vagamente, uma imagem súbita pintando em sua mente, de Sollrac em ataques convulsionados, se tornando um dragão completo e derrubando o lugar onde esteve antes de apagar.

— Como se sente?
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Mensagem por Knock Qui Mar 02, 2017 11:40 am

Então estávamos voltando ao local de julgamento. Senti um gosto amargo na boca e um arrepio na nuca, o qual me proporcionava uma sensação sombria.
-Entendi. Entendo- Falei como se respondesse e como se pensasse alto.

Só conseguia pensar nas consequências dá falha. Pensava que se eu estivesse mais preparado... Alguma arma ou armadura... Ou será que havia perdido alguma possibilidade que houvesse passado despercebida por mim... Mas lutei com toda a minha energia, mente... Depois lembrei que havia lutado até os meus dedos quebrarem e quase fazer os meus pulsos serem destroçados... Ainda assim me senti mal. Qual soldado gosta de falhar?! Respirei fundo e fiquei aproveitando o que talvez fosse a minha última visão de algo não tão ruim.
-Frustrado- respondi perante a última pergunta de Vaca.

Eu quis pensar em mais algo, mas dessa vez não pensaria em nada. Só aproveitaria. Deitei e olhei para o céu que não estava nada convidativo. Como eu havia chegado nesse ponto. Talvez agora fosse capaz de sentir o medo que transformou um dos homens que eu mais admirava na face dá ilha. A morte enfim estava quase para me abraçar. No fundo eu tinha curiosidade de saber daqueles caminhos mesmo. Bora lá.

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Mensagem por Hummingbird Sex Mar 03, 2017 3:49 am

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— Ah, poxa! Por que esses guardas nunca são do tipo que, sei lá, gostam de cartas? De jogar conversa fora? Beber!? — resmunguei baixinho como se não fosse pra Rocco ouvir, mas ouvindo. — As vezes sinto falta do amigo Gregar e do encrenqueiro também. Mas acho que você não os conhece né.. — então dei de ombros como se não fosse tão importante.

Depois Rocco falou algo sobre o Nasa. Sobre ele ser pequeno mas conhecer o poder dele e isso o fazer grande. Essas metáforas são meio confusas, mas acho que entendi. Meu pai costumava falar muito sobre a grandeza de alguém, sobre pessoas que possuem uma índole e um caráter tão bonitos que isso os tornava grandiosos. Será que isso se encaixa no que Rocco quis dizer? Bem, foi o mais perto que consegui chegar de uma explicação.

Mas não expus isso em palavras. Apenas pensei. E o pensamento veio como um sopro, passou rápido assim pois haviam outras informações pertinentes a serem ditas. Afinal, estávamos falando da minha vida não é?

Voltamos a voar e, depois de algum tempo, lá estávamos; diante uma árvore grandona. O hálito quente me fez lembrar Cyrus, e em seguida, Lodoss. Daí senti nostalgia. Que saudades. Esse tempo que passei aqui agora fez-se parecer uma eternidade! De repente me pesou o peito, senti falta de caminhar pela floresta da tortura, ou de comer. Alisei minha barriga como que por instinto; pasmem, nem roncando ela estava! O que está acontecendo comigo?!

— Espera! Então essa árvore aí é tipo uma ponte pro outro lado? — foi mais uma pergunta retórica, meus olhos foram de cima a baixo regulando a tal árvore. — Caramba. Já pensou se aquele carvalho que eu mijei lá atrás era um desses? Meu xixi veio parar aqui? — Desta vez a pergunta foi real. Olhei para Rocco. Depois um silêncio, tempo suficiente para que ele respondesse e depois para que eu formulasse mais questões em minha cabeça. Quero dizer, ele explicou a respeito do possível preço a ser pago pela viagem através da árvore.

— Mas se a outra parte está numa ilha voadora, quando eu chegasse lá eu ia ter que pular até cair em Lodoss de volta? Isso parece perigoso... — as palavras saíram com receio, acompanhadas de uma bisbilhotada a mais na tal árvore, tentando ver o interior cercado pelos galhos.

— Mas bem, a ideia parece legal! Já pensou se eu volto pra lá já adulto? Espero ficar com um cabelão como o seu, hahahaha! — e voltei a sorrir, entusiasmado com as possibilidades.

— Vamos, vamos, agora quero ver qual a última opção! — e tentaria puxar sua mão, apressando-o naquela tarefa.








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Mensagem por NR Sérpico Qua Mar 08, 2017 8:44 pm

52. Fim do sonho

O mundo oscilou por um instante. Era Sean, racionalizando seu próprio estado, como a questão da fome. Sentindo vontades disso e daquilo. Lembrar também era um problema, convocava imagens demais ali pra dentro, uma convocação que não era feita por mim, de modo que não tinha como fazê-las sumir; Cyrus, Gregar, o pai — eu podia sentir a mente dele convocando esses nomes, visíveis como uma aura. Essas coisas estavam quebrando aquela realidade astral. Eu tinha de ser mais rápido.  

Não falei nada sobre o xixi. Você começa a levar a pessoa a sério e ela solta uma dessas. Serviu para me lembrar a idade dele, afinal.

Direto ao ponto:

— exato! uma ponte, sim. ela tem muitos caminhos, na verdade. o mais perto é esse, o da ilha voadora. e tem muitos meios de descer de lá sem se machucar. tem um conhecido lá. quer dizer, acho que ele ainda está lá. o elfo. ele estará atrás de um meio para descer para Lodoss, certeza.

O interior entre os galhos da imensa árvore era apenas luz, não intensa, mas pulsante e embaralhadora do ar. Era como a luz de um vulcão explodindo, caso Sean já tivesse visto um vulcão explodindo.

Ao terceiro local, então. Curioso como eu pude prever muitas coisas na minha vida e morte, mas não pude prever aquele puxão pela mão. Deu pra sentir algumas imagens minhas, que passaram pra ele no toque.

Eu, jovem, uns cinco ou seis anos mais velho que o próprio Sean, tocando um alaúde num salão em festa. Meu mestre estava lá, Slao também. Era uma boa época, Ratharyn em glória. Os Caminhos estavam em ordem. O pássaro estava adormecido e a grande árvore no centro da ilha ainda podia fazer milagres para os peregrinos mais fiéis.

Um frame, apenas. Soltei a mão dele e mantive distância. Voando a toda para o porto, comentei:

— eu era de lá, da Eala.

E só.

Havia uma mancha no céu, vindo do sul. Essa mancha cresceu, essa mancha mostrou asas. Em algum lugar dessa mancha, algo dourado brilhava.

— opa — acelerei, para que aquela coisa não cruzasse com a gente conforme íamos para o leste. — seu amigo Sollrac já era. Não vai demorar até alguém ir caçá-lo por causa do Trianguli. Azar.

A coisa voadora ficou pra trás, indo, aparentemente, para o norte. Continuamos a leste. Lá longe o mar começou a aparecer, mais pra baixo, o Porto Comum figurou. Descemos na praia.

— sua terceira opção é contratar um barqueiro, bem aqui. eles aceitam algumas moedas... mas você não as tem mais. terá de negociar outra coisa ou conseguir moedas com gente do porto. — apontei para o mar. — um barqueiro te levará para além das ilhas, até o fim do Estige Negro, e te deixará em alguma praia de Lodoss. simples, desde que sobreviva aos perigos do mar. lembra daquele bichão nos seguindo? pois é, ele pode ser pior que um guardião de porta e seu animal original.

O mundo oscilou de forma violenta dessa vez. Pareceu um terremoto súbito. Aí passou. Mas ao longe, uma onda enorme se formou. Às vezes me pergunto: porque sempre tem de terminar num afogamento?  

— faça a sua escolha. mas antes, terá de escapar do Vax. ele está levando vocês de volta, e se isso realmente acontecer, será julgamento. Cyrus pode te ajudar, você pode convoca-lo, se tiver vontade o bastante para tanto. você pode. você não precisa do Ifrit.

Então a onda quebrou num estardalhaço e a água negra e espumante dominou o mundo. Quando Sean descobriu que não podia respirar, despertou.

***

— É — comentou Vax. —Também estou frustrado. É como as coisas são: difíceis.

Ho deitou, observou o céu. Talvez fosse seus últimos momentos observando um céu, antes de ser confinado novamente dentro de um prédio para ser julgado.

"Um bardo nascia naquela armadura enferrujada?", se perguntou, certa vez. Uma lembrança esquisita, de quando contava uma história sobre uma emboscada aos seres da floresta, perto da casa do Pintor. Que coisa. Uma história real, ou parcialmente real. Uma história que lembrou Ho, na ocasião, de que havia sido feliz enquanto vivo.

Aquele céu quase podia fazer isso: lembrar histórias de quando era vivo. Seria um bom exercício, ficar apenas ali, revivendo coisas. Mas teve de olhar para o lado quando escutou alguém sufocando de repente.

Sean — que acordou se levantando com tudo, como que saído de um pesadelo.

Para Sean foi estranho sentir tudo como antes, o corpo, o próprio peso, ossos rígidos de quem dormiu de mal jeito. Estava numa carroça, guiada por coiotes, ou bichos próximos disso. Vax era o cocheiro. Ali, atrás na carroça, estava Ho e, num canto, um pano roxo enrolado.

— Olha quem acordou — comentou Vax, sem ânimo e apenas olhando por cima de um ombro.  

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Mensagem por Hummingbird Sex Mar 10, 2017 5:08 pm

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O pior de tudo nem é acordar num solavanco desses, mas sim, acordar com a sensação de que tinha algo de muito importante naquele sonho que agora, acordado, eu não conseguia lembrar.

A princípio na minha cabeça veio o afogamento; e não estou falando de metáfora não. Literalmente minha cabeça foi inundada por imagens e coisas que eu lembrava daquele sonho e também do que aconteceu antes dele. Eu pude ver Rocco, lembrei também de pedaços grandes de pedra e das paredes caindo numa espécie de salão — o Sr.Guardião estava lá também não estava?, e muitas outras coisas.

Chacoalhei a cabeça como que tentando me livrar da dormência. Olhei ao redor; encontrei Vax como nosso cocheiro, encontrei a carroça em que estávamos e também encontrei Ho! Assim que o reconheci, deixei um largo sorriso escapar e, se me fosse permitido, o abraçaria. Talvez esse também fosse o primeiro teste pra saber se ainda tenho alguma força comigo, ou se ainda estou tão fraco como estava quando encontrei com a dona bruxa.

— Ei! Que bom que você ta vivo! Eu jurava que o Ifr.. — e de repente as palavras engasgaram. O sorriso no meu rosto foi desaparecendo e dando lugar a aflição — Ah! Q-Quer dizer.. err, eu não lembro direito. Mas que bom que estamos bem! Hah-ha.. — e então desviei o olhar.

Qual é? Como é que vou dizer pra ele que eu e o Ifrit tentamos sugar a sua alma pra um sacrifício? Não tem como!

E foi nessa desviada de olhar que encontrei o outro saco com alguma coisa embrulhada. A curiosidade me cutucou mas, em algum lugar da minha cabeça eu sabia que era melhor não mexer ali. Ansiei para que meu palpite estivesse certo e aquilo que estivesse la dentro fosse quem eu realmente imagino que seja. E quanto ao amigo Sol, bem, na minha lembrança eu o via como um dragãozão voando com alguma coisa brilhante. Demorei a pensar no trianguli, naquele momento só pensei; é, ele já era. E onde é que eu já ouvi isso mesmo?

Depois voltei o meu olhar para Vax. Na curta distância entre nós eu fantasiava uma trilha fria e solitária. E eu imagino que isso seja fruto do que aconteceu desde que nos separamos. Fiquei um pouco envergonhado afinal eu larguei o grupo tempos atrás quando decidi seguir com Cyrus. E agora, aqui estamos. Mas eu não me senti culpado, acreditem!

— Obrigado por nos ajudar, senhor Vax. — enchi o peito e decidi falar, apesar da falta de jeito. Era uma situação embaraçosa, eu acredito que fiz o que tinha que fazer, mas isso também fez os meus amigos ficarem sozinhos, incluindo o senhor Vax. E mesmo assim, ele parece ter nos ajudado. Mas eu não entrei em detalhes. Confesso que ainda to aprendendo a lidar com isso, essa sensação esquisita que eu posso traduzir melhor como: "é melhor não falar/fazer tal coisa. Não é o melhor momento."

Depois dei tempo ao tempo.

Tempo suficiente pra me fazer lembrar de mais algumas coisas daquele sonho. Desde que acordei dele eu me sinto diferente. Tem tanta coisa passando pela minha cabeça e mesmo assim eu não estou assustado ou perdido. Tem tanta coisa que eu gostaria de saber, e mesmo assim não vejo a necessidade de perguntar. Nem mesmo a estranha sensação do Ifrit estar ou não estar comigo tem me perturbado agora. E isso foi o que desencadeou a lembrança essencial daquele sonho.

— E-Eu preciso escolher... — murmurei baixinho, como se tivesse lembrado de algo importante;

Na mesma hora veio tudo na cabeça; todas as opções, o motivo do sonho, o mergulho no oceano escuro e tudo mais. Foi como uma avalanche! E disso eu sei, assim como também sei o que é um vulcão explodindo. E porque diabos estou me respondendo isso? As duvidas ficaram para traz e eu me coloquei a pensar — eu posso convocar o Cyrus e ele pode ser o nosso transporte. Mas e o grandão Ho? Eu definitivamente não quero deixar que outras pessoas decidam nosso caminho. E o mesmo conflito de ideias que tive com o Guardião, agora me trouxe a resposta que eu precisava. O julgamento não é a minha escolha, e acredito que também não é a do grande amigo Ho. Vax nos ajudou muito e, eu agradeço por isso. Mas eu não quero mais fazer parte disso, não sou uma peça.

— Quer saber? Eu não quero isso. — cuspi as palavras num súbito, como que um ataque surpresa.

Chamar atenção? Não, não era esse o objetivo.

— Até agora eu só tive opções mas não pude escolher nenhuma delas. E eu não quero mais isso. — eu não sei direito de onde vinha essa reação, mas foi o suficiente pra queimar aqui dentro de um jeito que poucas vezes eu senti antes. Senti um entusiasmo diferente, não era só alegria ou vontade de correr. Era só... eu não sei, vontade de estar livre. Como naquele oceano negro, ser capaz de voar para onde eu quisesse. E se eu realmente sou capaz disso, então por que até agora eu nunca escolhi por isso?

Eu quero ir

Eu quero voar longe

Eu quero voar o mais alto que eu puder, independente de que seja pra bater nas nuvens e cair

Mas eu quero ir.

— Cyrus, se você pode me ouvir, eu quero que me empreste as tuas asas. — murmurei, fechando os meus olhos e buscando que as palavras ecoassem no meu interior. Como muitas vezes eu fiz com Ifrit. E se Rocco estiver certo, essas mesmas palavras vão ser capazes de alcançar o grande dragão e trazê-lo até mim.

E uma vez o dragão escutando o meu chamado e estando junto conosco, a ideia era usá-lo para ir de encontro à Sarça Ardente. Em caso do nosso encontro ser tumultuado demais, eu teria pouco tempo para expor as opções para Ho e deixá-lo escolher; vir comigo ou com Vax.

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Mensagem por NR Sérpico Sex Mar 17, 2017 7:12 pm

53. Uma estrela está morrendo

Ho não lhe deu resposta ou reação ao abraço. Parecia perdido do lado de dentro da cabeça. Quanto ao agradecimento feito à Vax, o guia apenas rebateu:

— Não precisa agradecer... Sou o responsável por vocês, de qualquer jeito.

E sim, Sean já se sentia melhor do que antes. Normal. Era como se tivesse dormido por dias e estivesse até com preguiça por conta disso, mas aos poucos ia despertando o corpo como um todo e se sentindo satisfeito com isso. A mente, bem, a mente já estava acesa desde que a onda quebrou.

Pra se distrair, checou que, realmente, em meio os panos, havia um punhado de ossos quebrados...

Houve um silêncio. A carroça se movimentava numa velocidade razoável, fazendo a paisagem correr num ritmo constante.

— Hm? — Vax olhou pra trás quando Sean murmurou. — O que disse?

E sim, pelo que lembrava do tamanho do dragão, mesmo sendo jovem, ele provavelmente conseguiria carregar Ho também. O problema era que... Sean não sentiu nenhum retorno dessa comunicação. Nenhum indicio de que tinha dado certo. Observou o céu em direções variadas e se deteve ao norte. Talvez...

— O que foi? — Vax parou a carroça de repente. Estava de pé no acento do cocheiro, olhando na mesma direção de Sean. Encarou o menino. — Algo de errado?

Fazia um completo silêncio no grande nada onde eles estavam. E calor. Estranhamente intenso, pois não estava assim há alguns instantes. O próprio Vax suava. Ele olhou para o céu logo acima, com uma mão no rosto, tapando os raios dos luminares, e sua boca se dobrou pra baixo. Largou as rédeas.

— Rápido, pra baixo da carroça!

Ele pegou a trouxa com ossos e saltou para o chão, já rolando entre as rodas do veículo. Não deu pra entender. Mas havia alguma mensagem mortal nas duas gotas de suor que saltaram de seu rosto branco quanto ele pulou e evaporaram em pleno ar.

A luz estava ficando intensa, como um despertar incômodo de um sonho escuro, a luz simplesmente invadindo e batendo forte. Mas não era um sonho.
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Mensagem por Hummingbird Sáb Mar 18, 2017 4:03 pm

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E então... nada.

— Ah.. — rendi um suspiro meio que desapontado mas tentando disfarçar — Só estou ensaiando meu discurso pra quando for à julgamento. — menti. Dei de ombros como se não fosse algo de fato importante, mas no fundo eu estava um pouco intrigado. Será que deu certo? Da última vez que encontrei-me com Cyrus ele parecia voar bem rápido. Talvez esteja cansado, ou ocupado quem sabe.

O problema é que a conversa logo foi interrompida. Vax fez como se não se importasse muito com o que eu falava mas sim com o que eu supostamente teria visto nos céus. Olhei para o norte, como se algo lá talvez chamasse atenção, mas nada confirmado. Um palpite? Eu sei lá, meu instinto anda confuso desde que vim parar aqui. Talvez seja porque estamos mortos? Ficou aí o questionamento.

Mas ficou pra depois.

Vax imediatamente saltou da carroça e consigo já puxou o saco de ossos que antes eu pude averiguar e por palpite, fiz menção de Bones em meus pensamentos. Ficamos eu e Ho, com um curto período de reação. Pigarrei, e a saliva desceu a seco, talvez mais do que o normal. Meus olhos piscaram num breve instante e nos poucos pensamentos que tive antes de reagir, estranhamente lembrei de quando abri a porta do laboratório do amigo Duff. Tudo precisava acontecer tão rápido assim? Será que consigo correr pra debaixo da carroça nessa mesma velocidade que Vax anunciou?

Não havia tempo. Nem para tantas perguntas como também pra pensar. Então não pensei.

Me joguei de lado pra fora da carroça, talvez num pulo impensado que renderia uma cambalhota. Se durante a queda eu ainda conseguisse um ângulo melhor, já daria a cambalhota pro lado da carroça, abrigando-me abaixo dela. Se durante o processo fosse possível puxar a mão de Ho para que ele tivesse alguma reação semelhante, eu o faria. Senão, infelizmente teria de deixá-lo para traz outra vez, coisa que eu trataria apenas como última opção.

E se houvesse tempo ou abrigo depois disso;

— Por que isso tão de repente? O que foi isso? — as perguntas como sempre rápidas como flechas. Olhos atentos nos arredores pra tentar identificar o motivo daquela manobra ou algum perigo à vista.

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Mensagem por NR Sérpico Seg Mar 20, 2017 8:13 pm

54. Pequenas medidas que queimam hienas em segundos

Sean se moveu. Tentou para que Ho viesse, mas o meio orc apenas permaneceu deitado olhando para o céu. Não parecia estar ali. Sean tentou mais e até conseguiu arrastar um pouco o companheiro, mas só quando Vax ajudou que realmente deu certo.

— Mais que merda! — E o céu esquentando, queimando. — Rápido!

Sean rolou, Vax arrastou Ho e também se abrigou. De suas costas, do couro do seu sobretudo, subia fumaça e ele estava meio rosado, como que subitamente queimado. As hienas que puxavam a carroça ficaram firmes até há pouco, mas então começaram a relinchar e tentar se livrar das rédeas. Iriam puxar a carroça, correndo, tirando a cobertura do grupo, mas antes disso Vax fez um movimento com a mão e suas unhas brilharam. As rédeas foram cortadas, liberando os animais, que aceleraram pra longe. Mas não tão longe: caíram a poucos metros, guinchando. A carne se abriu, borbulhou, chiou, soltou no ar um gás quente, e depois secou e secou até virar uma carcaça escurecida de aspecto esquentado. Tudo isso em poucos segundos enquanto o mundo ao redor era luminoso e insuportavelmente quente.  

Então passou. E aí o mundo ficou mais escuro, não mais como uma manhã de sol alpino, mas como uma tarde de sol entre nuvens. Entre as frestas mínimas da carroça, dava para espiar a estranha ausência de um luminar no céu. Vax, deitado com um careta de dor, disse:

— É isso, está começando. Esses fenômenos... — Ele respirou fundo e fez que não com a cabeça. — O fim do mundo vem em pequenas medidas, jovem.

Ali embaixo estava quente, como se tivesse uma forja acesa por perto. Mas além da cobertura da carroça — que também parecia meio queimada, com algumas partes estalando como gravetos ao fogo — o chão não era nem um pouco convidativo para uma caminhada. Era visível a fumaça subindo da terra.

— Vamos ter de ficar mais um tempo aqui — reclamou Vax, ainda como quem sente dores.

Então, o som das asas.    

Vax despertou da própria dor e franziu o rosto para aquele som chegando perto. Olhou para Ho mas nada veio de lá. Então observou Sean como se estivesse perguntando "está ouvindo isso?".

E não era preciso se concentrar para que Sean tivesse certeza: Cyrus.
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Mensagem por Hummingbird Ter Mar 21, 2017 11:34 am

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Eu preciso dizer que não fiquei nem um pouco contente com a reação do grandão Ho. Vocês viram isso? Quase acabamos como as pobres Hienas só por ter de ajudá-lo enquanto ele se recusava a seguir nosso chamado. O que aconteceu com ele? Onde está toda aquela força que eu via nele quando o conheci?

Mas esses questionamentos ficaram pra depois. Deixei-os de lado junto a um grandão Ho catatônico e uma sacola de ossos inanimados que seria o amigo Bones. Voltei minha atenção para Vax que depois de uma manobra muito rápida, conseguiu nos salvar mais uma vez. Isso ia me deixando cada vez mais sem jeito de abandoná-lo quando eu tiver de partir...

Essas coisas são tão difíceis de escolher!

No entanto, como se nada nesse mundo fizesse sentido, ouvi o som do bater de asas que eu tanto esperava minutos atrás. Era Cyrus, eu sei disso. Mas, em primeiro lugar me passou pela cabeça como ele estava lá mesmo depois do mundo acima de nós ter sido queimado daquela maneira? Ele deve ser um dragãozão resistente mesmo, ou talvez mamãe tenha o ajudado?

— O fim do mundo parece um pouco...quente. — murmurei com um sorriso que escapou sem querer. Enquanto isso, meus olhos desviaram do olhar questionável de Vax e voltaram para além do nosso abrigo, procurando pela direção onde o som de Cyrus voando estava vindo. Encarei a fumaça subir do solo, averiguei, questionei; será que..

Sendo ou não sendo, bom, essa é minha chance.

Corri

Por traz daquele olhar vago e do meu sorriso de canto de rosto existia uma memória em particular do dia em que o meu mundo foi mergulhado em chamas, pelo próprio Cyrus é claro. E que apesar do calor infernal eu consegui sobreviver, coisa que me fez questionar se agora seria diferente. Quanto tempo eu consigo correr na terra abrasada? Tempo suficiente pra Cyrus me pegar? Vou descobrir então!

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Mensagem por NR Sérpico Sáb Mar 25, 2017 11:29 pm

55. Sarça

— Ei! — Vax chamou, a exclamação dos que não acreditam no que estão vendo.

Mas Sean apenas continuou. Estava bem o bastante para levitar sobre o solo queimado, de modo que a pele de seus pés descalços continuou no lugar, sem risco de derreter e grudar no chão. Mas deu pra sentir o calor que irradiava de baixo. Ao menos o bolsão solar, ou seja lá o que foi aquilo, não estava mais no ar para queimar seu corpo. Olhou pra cima e uma lufada de vento vinda de asas batidas soprou em sua cara e repuxou suas roupas velhas, ainda aquelas, dadas por Lyra.

Ei! — Vax deveria ter saído de baixo da carroça. — Não!

Pó, pairou no ar, uma tremenda nuvem se instalando com aquele bater de asas. Sean não precisou esperar que ele pousasse — se impulsionou para cima e de repente já estava de novo lá, entre as asas do dragão. E ali, com Cyrus, soube que estava tomando a decisão certa. Afinal aquele dragão parecia ser o último resquício (amigável, hm) de família para o menino.

Ou não. Não o último.

Sean olhou para trás, vendo Vax ficar menor. Suas unhas brilhavam, mas apenas isso, ele não chegou a usá-las. A terra estava queimada num grande círculo, mas somente ali e não no mundo inteiro. Provavelmente, no momento do acontecimento, Cyrus ainda estava fora daquele raio de alcance. O que foi ótimo. Mas... Notou, então, que Cyrus parecia ferido. Era um dragão jovem, e poderia ser até bem resiliente, mas Sean conseguia sentir que não estava tudo certo.

Viu marcas de garras em alguns pontos, viu uma mordida num flanco.  

Cyrus parecia fechado para essas coisas, fechado para a dor que poderia vim desses ferimentos. Tudo que Sean conseguia dele no momento era ler uma vontade simples que o dragão tinha de ficar com o menino. Era como se seguisse uma ordem última.

Sarça, então. Cyrus sabia a direção. Levou um tempo e enfim a árvore figurou no horizonte. Cyrus, antes de se aproximar definitivamente, circundou a árvore e então desceu em espirais. O vento ali era quente como no sonho. Agora, mais perto e fisicamente ali, dava para considerar a ideia de que a própria Sarça soprava aquele ar em todas as direções. E mesmo agora, a visão dos galhos, da copa, era embaçada, como coberta por um lençol translucido tremeluzente que sugeria uma temperatura escaldante, de onde até mesmo pulsava alguma luz como se várias pequenas piras estivesse acesas.

Quanto ao caule e as raízes, essas davam para ver bem. Eram como de uma árvore comum, com a óbvia diferença de serem muito, muito maiores. Assim que Cyrus pousou e Sean tocou naquele solo com os próprios pés, foi como se sentisse um coração pulsando através do chão. As enormes raízes da Sarça saltavam pra fora da terra, criavam coberturas generosas, se esticavam em todas as direções — e era possível sentir que estavam vivas...

— Sim, menino, vida. Aqui, há vida.

A voz veio de baixo de uma raiz, de onde uma senhora estava curvada, agachada, ou algo do tipo. Oculta. Apareceu de repente, escapando até da percepção do dragão, que se empertigou, atento.

— Torço para que esse bicho mantenha a compostura. Esse aqui não é qualquer jardim.

Ela era baixa e magra, cabelos platinados ondulados, não passando dos ombros. Vestia um traje de couro rígido que deixava amostra os braços. Da cintura pra baixo uma saia branca lhe servia longamente. Ela tinha as mãos sujas de terra e junto ao colo havia uma bolsa, igual àquela que o próprio Sean pegou com o Mic, uma bolsa de camponês para guardar sementes ao alcance da mão.  

Ela estreitou os olhos e, com o tom de quem recebe uma visita inesperada, falou:

— O que está procurando, jovem?  

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Mensagem por Hummingbird Dom Mar 26, 2017 7:58 pm

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Nas asas de Cyrus, uma sensação que eu gosto de pensar que é o mais perto de conforto familiar que eu já senti. Digo, desde que estou por minha conta, é claro.

O vento acariciava meu rosto e um monte de sensações e pensamentos invadiam minha cabeça. Eu pensei em Vax, deixado para traz com não mais do que exclamações e dúvidas. Um grandão Ho que já me ajudou muito mas que escolheu seu caminho e também ficou para traz. E isso sem contar nos demais colegas do nosso grupo. Que fim teria tomado o amigo Ball? Sollrac pelo menos eu sei que passou por poucas e boas.

E seguindo essa linha de pensamento, eu percebi também uma certa mudança na minha relação com Cyrus. Era engraçado, sabe? A questão do sentir. Num primeiro contato que tivemos, tudo foi muito conturbado e a sensação que eu tinha era de que a nossa ligação se resumia em Lyra, minha mãe. Ela era o nosso único ponto em comum. Mas agora eu sinto isso diferente. Através do contato, da sua presença, eu sinto um ar diferente. Através das escamas em suas costas eu posso compreender que existe alguma dor ali, problemas causados provavelmente por aquelas hienas violentas que enfrentamos nas ruínas. Posso sentir também o seu conforto na minha presença assim como eu compartilho desse mesmo conforto.

— Você estava certo afinal.. — referia-me a Rocco em meus pensamentos.

E o restante do voo serviu para aproveitarmos da companhia um do outro. Talvez um dos poucos momentos de alívio e tranquilidade que tive desde que cheguei aqui.

...


A chegada nas imediações da grande árvore também foi tranquila. Apesar disso eu pude compreender a aflição de Cyrus em rodear a árvore como se estivesse se certificando de que não havia perigo antes de pousar. A descida em espirais me trouxe um pouco de diversão e rendeu algumas risadas. Oras, não posso me divertir um pouquinho nem depois de tudo que passamos?

Mas o que mais chamou atenção quando descemos não foi nem o tamanho da árvore, nem suas raízes ou o ar quente que emanava dela. E sim o primeiro contato que tive; os meus pés tocando o chão, me trouxeram imediatamente a ideia de que havia vida ali. E não foi só isso. Mais tarde, uma voz confirmou essa intuição. No início eu confesso que pensei ser coisa da minha cabeça, mas quando Cyrus se prostrou na minha frente, alvejando a dona daquela voz... aí eu entendi que se tratava de alguém real. Não era mais como no sonho com Rocco.

Era real.

— Hmmm, então era de você que ele falava.. — murmurei com um olhar curioso e a cabeça um pouco inclinada. As palavras que ecoaram na minha mente lembravam um Rocco explicando sobre a Sarça e sobre uma possível entidade que viria ao meu encontro, talvez para me testar ou para me cobrar algo antes de eu usar a tal passagem. Quem sabe?

Os grunhidos alarmados de Cyrus me despertaram das lembranças e eu retribuí erguendo a mão direita em sinal de paz. Fiz um sinal para que ele se acalmasse, uma vez que aquela senhora aparentemente não representava perigo. Depois corri um pouco na frente, entusiasmado, indo na direção da senhora.

— Ah...err,, oi! Me desculpa. O Cyrus é um dragãozão bonzinho. Ele só está meio assim porque está ferido e preocupado. Mas ele não vai nos fazer mal! — aleguei com um largo sorriso — Aliás eu me chamo Sean! Sean Lionheart! — terminei me apresentando.

Meu entusiasmo era tanto que as vezes eu acabava atropelando as perguntas das pessoas. Mas isso não significa que sou mau educado e não vou responder. Era só uma questão de tempo até eu voltar na pergunta de fato e respondê-la. É que as vezes eu preciso de um tempinho pra pensar numa resposta legal. E foi isso que aconteceu.

— Eu estou tentando voltar pra minha vida. Um amigo disse que você poderia me ajudar, então eu vim até aqui. — não dei detalhes sobre Rocco pois eu não sabia até que ponto eu poderia explicar a respeito dele. Era como falar do Ifrit para as pessoas, entende? E enquanto conversávamos, meus olhos percorriam o local com grande curiosidade. Quero dizer, apesar de já ter estado aqui antes, é diferente quando você vem pessoalmente e consegue sentir tudo mais de perto, o calor, o contato, o ar...

— O ar daqui é tão gostoso... — mencionei aleatoriamente, fechando os meus olhos e enchendo os pulmões numa respiração mais profunda.

Obs:

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[Comum] Considere-se morto - Página 5 Empty Re: [Comum] Considere-se morto

Mensagem por NR Sérpico Seg Abr 03, 2017 8:44 pm

56. Encha

Ela não chegou a se apresentar formalmente, meio como se soubesse que Sean já sabia quem ou o que ela era. Mas ao menos interagiu com um simples:

— Nome bonito, Sean Lionheart. O que significa? Sabe?

Ela esfregou as mãos suavemente, removendo a terra das palmas. Seus lábios repuxados sugeriam um sorriso a meio caminho de acontecer. Ela ainda tinha olhos cerrados pra cima de Sean, como se não enxergasse bem mesmo com ele próximo.

Quando escutou sobre o que ele queria, ela fez que entendeu soltando um “ah”.

— Você está longe da estrada para as Quedas ou para a Escada. Vou presumir que escapou do que o destino tinha lhe preparado, e escapou com um dragão, veja só! Isso é algo quase que novo. Alguém escapar... e um dragão vivo. — Ela sorriu de verdade agora. Então sinalizou com a mão e se virou. — Me acompanhe. Ele pode vim também, ah, sim, até metade do caminho.

Ela caminhava num passo constante, olhando para o chão, rumo à árvore. O ar era bom, diferente, mas Sean já estava em suor — o calor só fazia aumentar conforme se aproximavam. Era algo fazia doer o pescoço, olhar pra cima, acompanhar aquela planta com os olhos até o zênite da tarde. Mas não dava para ser o tempo todo assim, pois o terreno era traiçoeiro demais, com sulcos e raízes menores, e havia sabedoria na postura da senhora em andar olhando para o chão. As raízes mais altas eram como monumentos petrificados, muitas delas maiores do que casas, lançando sombras enormes.

— Agora ele terá de ficar aqui — ela disse, sem olhar pra trás, e entrando num túnel escavado entre uma encruzilhada de raízes altas ao pé da Sarça. Quando falou de novo, de dentro, sua voz veio num eco. — Aqui dentro pode ser meio apertado.

Cyrus pareceu conformado com a ideia e ficou bem na entrada, observando o interior.

A sensação de vida era mais intensa ali, Sean sentia como se alguém estivesse lhe abraçando, e abraçando tão bem abraçado a ponto de sentir o coração da pessoa. Ou então era o seu próprio. Aquilo foi novo — era como se, pela primeira vez, se sentisse realmente vivo, não apenas uma ilusão da mente, mas algo a mais. Se guiou pela pouca de luz que entrava atrás de si e pelos passos da senhora mais a frente. Então houve o som de quem abre uma porta. Já acostumado com a escuridão, Sean foi até lá.

Era uma sala completamente vazia, aparentemente feita de pedra calcária e com uma segunda sala anexada. Desta, vinha alguma luz e vapor, assim como as batidas de ferro em ferro.

A senhora esperou Sean entrar na sala vazia para fechar a porta, encerrando eles lá dentro.

— Você quer voltar a vida? Deve saber que isso não pode ser feito de graça, não é? — Ela caminhou até a sala anexa, parou no arco, se virou, deu uma olhada na sala vazia onde Sean estava agora, deu uma olhada em Sean. — Você tem muitas coisas a oferecer, jovem Sean Lionheart. Posso ver. Tem tudo para que nossa transação dê certo. Vou lhe dar um tempo para pensar no que pode oferecer.

Então ela entrou na outra sala e começou a fechar a porta. Antes disse:

— Aproveite e encha essa sala pra mim, por favor. Volto logo.

E então fechou a porta, que abafou os sons do lado de lá e não permitiu passar nem se quer um fio de luz pelo batente. Então, ali estava, no escuro e numa sala vazia que deveria ser preenchida. Mas preenchida com o quê?
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[Comum] Considere-se morto - Página 5 Empty Re: [Comum] Considere-se morto

Mensagem por Hummingbird Qua Abr 05, 2017 9:15 pm

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O que significa?

— Ah! Sim-sim! Agora que você falou nisso, eu me lembro! — no rosto uma expressão de quem lembrou algo muito importante — Lembro de papai ter falado uma vez que era um nome derivado de um nome famoso lá da Catedral de Zaltar. Alguma coisa relacionada a religião, mas eu não sei o significado exato. Então pra mim está tudo bem sendo só o meu nome, hahah! — logo emendei, terminando com um sorriso juvenil.

Acompanhei as expressões daquela senhora para a medida que falava sobre Quedas e Escadas ou sei lá o quê; se bem me lembro Vax ou aquele senhor Russelo falaram algo semelhante não foi? Mas agora eu não consigo lembrar o que é. Daí falou sobre a presença de Cyrus e sobre estarmos ali, e eu só concordei com a cabeça acenando positivamente.

Ei, mas espera aí! O que ela quis dizer com "é quase algo novo alguém escapar com um dragão"? Quer dizer que mais pessoas já escaparam? Mais gente conheceu o Rocco? Daí uma série de perguntas inundou minha cabeça e eu fiquei um pouco distraído, talvez o suficiente pra me deixar levar pela senhora para dentro da tal árvore.

Durante o caminho acabei me deixando tropeçar nas armadilhas da falta de atenção, tropeçando uma ou talvez duas vezes nas raízes. Nada que me levasse direto pro chão, afinal eu sou um menino rápido, consigo me equilibrar a tempo! Fora isso, lá dentro o calor aumentou, comecei a sentir alguns pingos de suor escorrendo da nuca e deslizando nas costas. Aquela era uma das piores sensações de uma vida! Mas isso também me fazia questionar se mesmo morto nós sofremos com isso? Seria injusto eu acho..

E por falar em injusto, a partir dali, Cyrus deveria ficar para traz. Eu sei, eu sei, ela já tinha avisado. Mas, é que é uma sensação ruim ter de deixá-lo para traz logo agora, depois de tanto tempo separados. E acreditem, eu sei bem como é essa sensação. Então caminhei até ele, erguendo a mão e se possível acariciando seu nariz caso ele viesse ao meu encontro.

— Amigão, eu preciso de um favor seu. E eu só confio em você pra fazer isso! — iniciei, tentando estabelecer alguma comunicação com ele antes de seguir a tal senhora para dentro daquele buraco — Vá procurar pelo grandão Ho! Se puder ajudá-lo ou protegê-lo que seja, mas encontre-o. Ele vai precisar da sua ajuda, você consegue fazer isso? — terminaria, se possível, encostando minha testa em seu nariz como que depositando minha confiança nele.

E depois disso, uma despedida. Sem olhar para traz. Simplesmente corri e segui aquela senhora para dentro do buraco.

...



Entrar lá dentro me trouxe uma sensação estranhamente parecida com a que eu tinha quando Ifrit estava no controle. Eu não sei explicar, só me lembrou isso. Talvez pela sensação de que aquilo tudo não era aquilo e sim alguém. O ar quente lá dentro podia ser sua respiração sabe? E essa sala vazia em que chegamos, quem sabe, seria o coração?

Perdido em devaneios, despertei quando a senhora foi para a outra sala e depois de deixar mais um enigma, ela simplesmente fechou a porta e mergulhou o mundo em escuridão. Não deu nem tempo de pedir pra ela esperar, aliás, eu não a culpo já que eu estava perdido em outro mundo. Ou seria outro alguém? Hoje eu to cheio dessas pegadinhas!

Chacoalhei a cabeça e deixei isso pra lá.

— O que será que ela quis dizer com encher? — e a primeira coisa que me veio na cabeça foi a lembrança de estar caminhando à cavalo com o grupo, naquela missão do tio Targo. Lembrei das maçãs entregues por Chagas. Lembrei da sensação de fome em minha barriga e de como fiquei satisfeito em saborear as maçãs uma a uma. Guloso, meu amigo cavalo, também comeu um montão de maçãs! Aquilo sim é o que eu chamo de encher a pança!

Mas eu não entendo como faria pra "encher" isso tudo aqui. Primeiro andei. Queria ver se encontrava algo no escuro. Talvez fosse alguma pegadinha dela e tivesse alguma coisa na sala que eu não prestei atenção. E andando na escuridão, insisti em puxar na memória algum exemplo ou sinônimo do que eu entendo por esse enigma. Lembre-se Sean, pense! Como você pode encher essa sala? Rocco talvez soubesse a resposta, mas eu acho que daqui eu não consigo falar com ele..

Talvez uma onda grandona como aquela pudesse encher essa sala rapidinho, né? — idealizei em pensamento.

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[Comum] Considere-se morto - Página 5 Empty Re: [Comum] Considere-se morto

Mensagem por NR Sérpico Qua Abr 12, 2017 7:53 pm

57. Coisas que enchem

Andou, logo encontrou a parede, morna. Andou mais um pouco, foi, voltou. Nada. No escuro, era a mesma sala que vislumbrou ainda agora, quando havia luz — uma sala totalmente... vazia.

Seu nome, era um nome bem grande. Enchia a boca na hora de falar. Sem contar a homenagem secreta à outra pessoa, ou mesmo um sentido próprio que, vai saber, se escrito, poderia encher a página de um livro velho.

Cyrus... ele pareceu entender que Sean precisava entrar por uns instantes. Um toque revelou que o dragão estava confortável naquele lugar. Talvez o calor mítico da árvore lhe emprestasse algum vigor, algum fascínio. Era como estar diante de algo que deve ser contemplado, e ele provavelmente não se incomodava em ficar sozinho um pouco, enquanto Sean resolvia aquele teste.

Ele, Cyrus, poderia facilmente encher aquela sala, com seu tamanho... Mas a porta foi fechada e Sean meio que sentia que agora só podia ir adiante, e não voltar.

Ifrit, talvez... ele era um demônio bem grande, não era?  

Nada da velha sair. Nem se quer um som significativo. Às vezes Sean tinha a impressão de captar algum barulho, mas não dava pra entender o que era. Em suma, a sala daquele lugar cheio de vida jazia vazia de sons...  

Apenas Sean, cheio de suor e de memórias. Cavalos de herança divididos entre três irmãos; “Lyra (também chamada Laira, Lhirra, Lirya) foi uma inimiga poderosa, mas não para nós”; o senhor a cavalo que aprendeu a cavalgar numa igreja; “Homúnculos sonham com ovelhas de carne e osso?”; como aquele vinho era azedo!; “Você não vai enfrentar ele?”; além da bola, ela tinha uma pulseira de cabelos traçados, cabelos castanhos — mas os dela eram pretos; Tok tok; “Cercada de inimigos, despertou um velho feiticeiro chamado Destruidor”; Gregar quase lhe esmagou com um cometa de gelo negro; e por aí vai. Era tanta coisa que daria até pra encher uma sala com elas, hm...

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Mensagem por Hummingbird Sex Abr 14, 2017 4:09 am

[Comum] Considere-se morto - Página 5 Nc6WiBi


" Ele nunca teve medo do escuro.

Talvez tenha sido essa a primeira característica dele que me chamou atenção. Fez-me observá-lo com outros olhos, eu diria com menos desprezo e mais curiosidade. Foram muitos os anos em que vivi como um demônio e portanto torna-se justificável o meu sentimento de menos valia que tenho por humanos; todos os que tive o desprazer de conhecer, eram dominados facilmente pelo seu medo, pela sua escuridão interior. Eu digo que se passar tempo demais olhando para um abismo, ele olhará em retorno. E isso para os humanos é a mais pura verdade. No entanto, nas profundezas de Sean eu não encontrei o abismo. Eu encontrei algo novo.

Séculos de experiência e nada para justificar aquela sensação. Era irritantemente incômoda. Não havia escuridão no garoto para ser usada, mesmo ele tendo passado pelo que passou. No tempo em que vivi como Demônio, aprendi que mesmo as almas mais jovens podem ser marcadas pelo destino e lapidadas com uma ou duas cicatrizes, coisa que seria suficiente para num futuro próximo transformar-se no pequeno abismo daquela mesma pessoa. Esse tipo de ferida não se fecha nunca, e o tempo trata apenas de deixá-la descansar e apodrecer, transformando-a na escuridão de um ser. Mas no futuro de Sean eu não conseguia ver essa ferida apodrecendo. O que eu vi, na verdade, é que não havia ferida alguma. Mas... como? "




— Eu sei que você está aqui. — as palavras ecoaram no meu pensamento, interrompendo o raciocínio dele e rendendo um ar de surpresa. E num primeiro momento, como resposta, eu tive o silêncio. Mas aquilo não me incomodava sabe? Porque como eu disse, estar aqui no escuro me deixou confortável. As lembranças me vinham na cabeça e traziam momentos dispersos, e eu não entendi muito bem como aquilo parecia tão real, mas eu estava lá. E mesmo depois de checar na sala e conferir que não havia nada lá, eu podia ouvir o som dos cavalos marchando em meio a selva. Eu podia ouvir os risos de Chagas fazendo piadas com o nosso grupo por não conseguir acompanhá-lo na corrida de cavalos. Pude ouvir aquele barulho chato na fazenda do tio Targo, e ouvi também os sons das árvores retorcidas lá da Floresta da Tortura. Aliás, foi tanta coisa que eu comecei a ouvir que simplesmente não entendi o porquê de não estar agonizando em dores de cabeça. Por dentro eu estava...bem. Cheguei a conclusão de que estava em paz.

E então ele falou;

— Eu não sou bem vindo aqui. Talvez não seja boa ideia você chamar atenção falando comigo daí desse lugar.. vai que te pegam? — e com isso eu entendi como referência aos tais guardiões que Rocco mencionou naquela nossa conversa. Mas eu não estava preocupado uma vez que falar com Ifrit, pra mim, era como falar comigo mesmo. É o que chamam por refletir né?

— Não estou preocupado com eles. Estou preocupado com você agora. — respondi em pensamento, quebrando o silêncio proposto pelo salão escuro mesmo que por um diálogo mental.

— H-huh?! Huhuhuhu.... o pequeno corvo, preocupado comigo? Não seja tolo. Quando você recorrer aos meus poderes, sabe muito bem que não serei derrotado. Eu sou muito mais poderoso do que você imag-

— ... — meu silêncio o interrompeu.

Em tom de estranheza, pude sentir a sua vibração mudar. Ele estava curioso, certamente sentiu o que havia de errado, pois eu estava longe. Minha mente voou longe e explorou a escuridão. Aquilo foi surreal, como se eu tivesse aprendido a fazer tal viagem depois da minha experiência com Rocco. E eu não sei bem como eu consegui, mas em algum momento daquela conversa, eu senti que era capaz. Eu senti que precisava buscar alguma coisa nessas memórias, alguma coisa muito distante, e que se Rocco estivesse certo, eu era capaz de fazer. E eu fui. Fui muito além do que diz respeito às minhas memórias. Eu fui nas memórias dele.

E apesar de involuntário, ele me deixou passar. Durou pouco, mas eu consegui ver o seu povo. Eu consegui ver mais dos Ifrit, aquela tribo de criaturas mágicas que eram cheias de poderes e conheciam um montão de coisas. Era um tempo tão diferente que mesmo o sentir parecia extrapolar as sensações. Conheci as tribos e conheci o seu passado; o estopim, a decadência, o vazio. Mas antes disso, eu descobri aquilo que instintivamente me fez viajar até aqui. Eu descobri o que me preocupava em nós dois.

Mas ele resistiu. E então a nossa conexão oscilou por um instante, fazendo-me retornar para o vazio daquele pequeno salão escuro. O ar quente preencheu meu peito, e eu voltei, ainda de olhos fechados, concentrado naquele monte de coisa que invadiu minha cabeça e que não sei nem como eu conseguia organizar. Em simultâneo, senti a sua fúria e desconforto por ser invadido daquela maneira. Tamanha foi a sua frustração que eu posso descrever como a sensação muito parecida de estar nas chamas do Cyrus de novo, só que de dentro pra fora.

— Como ousa usar os poderes que EU lhe cedi para vasculhar no meu próprio passado?! Justo você que tanto fez-se parecer diferente dessas criaturas desprezíveis que são! — sua presença tornou-se violenta dentro do meu mundo, me fazendo estremecer e me diminuir. Era quase opressora, sua energia crescia dentro de mim como se mesmo naquela distância de um mundo para o outro, ele ainda tivesse tamanha força. Mas isso não me assustou, não me assustou porque aquilo que eu descobri em seu passado completou o que eu descobri sobre mim agora há pouco. E eu sei o que preciso fazer com isso, eu ouço isso aqui dentro. Então eu não deixei que aquela energia me suprimisse, nem que a escuridão me engolisse e me deixasse inconsciente como na maioria das vezes aconteceu antes.

— Nós dois fomos tão bobos. Você não consegue perceber, Ifrit? Não consegue ver que estamos juntos por um motivo? — as palavras cresciam no meu pensamento com uma sensação esquisita de alívio e carinho ao mesmo tempo.

— Eu deveria tê-lo consumido assim que recuperei as minhas forças, mas acreditei no seu potencial, acreditei que poderia me tornar mais forte para concluir o meu objetivo mais rápido. Achei que você seguiria comigo colhendo almas para trazer de volta a minha tribo, mas não! Você continua preso nessa humanidade fútil! — e o seu descontrole aumentava ao ponto de eu conseguir idealizar a sua energia dentro da sala. A escuridão deu lugar às chamas, amarelo-fogo vibrantes, reluziam nos meus olhos e iluminavam todo o ambiente mesmo que fosse fruto só da minha imaginação.

Mas eu encarei as chamas de frente. Olhei-as profundamente, pois sabia que no seu âmago estava ele. E eu o encarei com aqueles mesmos olhos que eu lembro que meu Pai me encarava todas as noites...

— Nunca foi sobre eu precisar de você, mas sim, você precisar de mim. Pois eu posso sim te fazer mais forte... — e acompanhando aquelas palavras, eu me levantei, caminhando na direção do âmago daquelas chamas. Elas se tornavam cada vez mas intensas e o calor era tamanho que mais parecia ter se fundido com o calor da árvore e estava me fritando por dentro. Mas os meus pés seguiram, um atrás do outro, levando-me até ele. — Você só precisa vir até mim, e eu vou aceitá-lo. Porque você e eu somos um só, Ifrit. — a minha mão direita avançou dentro das chamas, alcançando as correntes que desciam pela mão dele.


clique no play abaixo do título


Aquelas correntes eram tão pesadas que sozinhas, poderiam encher essa sala escura só com os sentimentos ruins que carregavam. Mas eu precisava segurá-las. Eu tinha que ser mais forte do que todo sofrimento que havia na história dele, ou eu não conseguiria trazê-lo comigo, e sem ele, nós não existimos. E mesmo que para isso eu tivesse de abrir mão de alguma coisa, como até agora parece que eu tenho sido obrigado a fazer, era uma coisa que agora eu sei que estou pronto pra fazer. Papai, Mamãe, ou qualquer um dos amigos que conheci nessa minha jornada até aqui, eu podia vê-los em minhas memórias, ou mesmo nas chamas. Eu pude ver tudo. E por mais que a saudade fosse grande, eu sabia que não podia voltar. O único caminho que eu tinha pela frente, agora, era com ele.

Então eu o abracei.

Teu nome eu sei, Efreet Izzat — aquelas palavras eu pronunciei em voz alta, acolhendo-o.



" Tornar-se um demônio e ter o seu nome banido, pode ser comparado a uma dessas cicatrizes que abordam a escuridão de um ser. Principalmente em se tratando de uma criatura mística, como eu já fui um dia. Ser julgado por companheiros celestiais que um dia celebravam ao seu lado, e ser reconhecido apenas como uma criatura caída, desprezada, é detestável. E para cada mísero dia em que eu passasse vagando nas terras ao lado dos Humanos ou raças semelhantes, eu só conseguia alimentar mais e mais essa ferida pois, para mim, a culpa sempre foi deles. A minha tribo, o meu povo, a minha história, tudo se perdeu por culpa das condições do que é ser humano. Os tais sentimentos e emoções, as fraquezas, tudo isso nos apodreceu até secar cada gota de vida que tínhamos.

Eu exponho esses pensamentos numa perspectiva do que vocês, humanos, são capazes de compreender. Mas como criatura que sou, eu voz digo que me arrependia amargamente do dia em que me deixei contaminar por tal perspectiva, em que me deixei humanizar desta forma. E acredito que todo o meu povo extinto se arrependa da mesma maneira. Pois a condição ser humano é dolorosa, é como um mártir, pois as feridas só pioram e dão origem a outras e revivem experiências e machucam ainda mais e te escurecem cada vez mais, só que isso nem é o pior.

O pior é você conhecer coisas como o Sean. É você estar queimando no fogo dos 7 infernos, agonizando com almas em sofrimento, e ainda assim ser aceito. E não é sobre a necessidade de ser aceito ou reconhecido que eu voz digo, humanos. Mas sim, sobre a capacidade que tens de levantar depois de cair. A capacidade de se remontar mesmo depois de cair no fundo do abismo, ou a capacidade de abrir mão de um mártir tão pesado, para puxar alguém de um abismo mais fundo. A capacidade de variar entre o desprezível ao transcendental em questão de um piscar de olhos.

Quanto poder há em vocês.

Talvez se tivéssemos compreendido esta grandeza ainda naquele tempo, hoje o meu povo poderia compartilhar o mesmo que estou sentindo ao lado do pequeno corvo. "


Resumao:

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[Comum] Considere-se morto - Página 5 Empty Re: [Comum] Considere-se morto

Mensagem por NR Sérpico Sex Abr 21, 2017 2:48 pm

58. Espelho

Sean deixou de ser minha melhor escolha, eu já comentara. Quando ficou claro que ele não estava vazio, percebi não ter muitos pontos ao meu favor. Ifrit era um problema — se eu perdesse, poderia ser incorporado. Então meus olhos foram em outras direções, outros meios. Mas no fim, Sean parecia o mais capaz. É o que ele fez com Ifrit que me dava expectativas, hm.  

A porta abriu, a luz correu pelo lugar escuro. Havia uma neblina na sala, uma neblina que não estava lá antes daquela porta ser fechada. Quer dizer, havia um vapor vindo da outra sala. Mas não denso, como agora. E, com a porta fechada, não teria como todo aquele gás ter enchido a sala no tempo em que Sean ficou só.

“Só”.  

Na escuridão, não percebeu a neblina, lógico.

A senhora apareceu no arco, pareceu farejar o ar embaçado.

— Essa sala está cheia de... descobertas. As vantagens da escuridão e da solitude. — Ela deveria estar olhando para Sean, mas seu rosto estava sombreado demais para ter certeza. — Você descobre coisas, quando nas trevas.

Entrou de novo, mas dessa vez deixou a porta aberta, um convite. Todo aquele gás, como que vivo, aceitou o convite: foi chupado pela porta. Não havia mais os sons de pancadas, mas algo quente foi mergulhado. Subiu o chiado escaldante. De lá de dentro a voz da senhora comentou:

— Há muitas formas de nascer de novo, Sean Lionheart. Há muitas formas de se alcançar um objetivo. Os caminhos variam, com atalhos, com atrasos. Errado está aquele que diz existir apenas um jeito, uma via, uma escolha. Não. É como as veias no seu braço, é como os galhos numa árvore. Diferentes, mas parte de um todo, com o mesmo objetivo. Você escolheu um caminho dentre outros possíveis. E agora você está no final dele e deve escolher como irá terminar.

As pancadas recomeçaram. Uma segunda coisa estava sendo forjada.

Na sala redonda, um ferro incandescente era martelado por um homem baixo sem boca e sem olhos e sem orelhas. O formato era o de uma pinça enorme, bruta, do tipo que serve para apanhar coisas grandes do meio de um forno ou do fundo de um poço quente. O ferreiro tentava dar forma a coisa.

As paredes eram cobertas de pinças como aquela. Muitas — um brincalhão poderia dizer que nem havia paredes ali, apenas pinças empilhadas sustentando o teto. Algumas delas eram realmente bonitas, luxuosas. Havia algumas quebradas. Tinha as com dobradiça aparentemente frouxa, do tipo que não fecharia muito bem para pegar alguma coisa que precisava ser pega. Outras eram rústicas, até mesmo enferrujadas, mas que pareciam ainda funcionar. Compridas, curtas. Tinha as densas, pesadas demais, ruins para o manuseio. As finas e fracas, como que feitas às pressas e sem planejamento. Vários tipos.

A senhora estava de pé num canto, perto de um poço. Nesse poço de águas escuras, havia algo reluzindo lá embaixo, um ferro vermelho esfriando, esperando para ser recolhido... Toda aquela neblina da outra sala, parecia ser absorvida por essa água, o que gerava um efeito interessante: a própria água fazia subir um vapor enquanto ao mesmo tempo recebia o novo gás.

De frente com o poço havia um espelho, e a senhora se afastou um pouco, para que Sean observasse apenas a si mesmo no reflexo e dali tirasse alguma lição.

Ela perguntou:

— Para que tenha sua vida de volta, para que retorne, o que está disposto a deixar, Sean Lionheart?

As batidas forjavam a pinça, moldavam.

E no espelho o ar da sala tremeluzia, mas a imagem de Sean era nítida, sem obstruções. E, talvez, ali no reflexo, fosse outro Sean, um Sean mais jovem, um Sean sem tantas... descobertas. Era, em última análise, um encontro com o eu. Era o fim. E também um começo.

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Mensagem por Hummingbird Sáb Abr 22, 2017 5:23 pm

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A voz da senhora logo me despertou como que acordando de um sonho bom. Meu corpo estava quente, suando, e dos meus olhos escorriam lágrimas que pareciam ter acabado de sair do forno; escaldantes. Aquilo foi estranho até pra mim, acreditem.

Mas não foi só isso. Ao esfregar os meus olhos e me livrar da sensação de ardor provocada pelas lágrimas, percebi que havia uma certa neblina na sala. Busquei no restante do espaço alguma brecha que justificasse o aparecimento da neblina, mas não havia nada senão escuridão e o embaçado provocado por tal gás. Aliás, da sala onde a senhora estava também saia uma outra neblina, mas não era tão presente quanto a que estava nesta sala. Mas as perguntas ficaram pra depois; essa mesma neblina abriu caminho para o salão onde estava a mais velha. Caminhei em sua direção, uma última olhada para traz confirmando apenas tudo que aconteceu agora há pouco; não era necessário alguma silhueta ou vestígio para que eu soubesse da escolha dele. Pois agora, não somos mais distintos, escolhemos juntos esse caminho afinal.

Entrei.

E numa primeira impressão:

— Uaaau? — meus olhos percorreram as paredes, analisando aquelas ferramentas que mais pareciam pinças. Eram tantas, de tantos tamanhos diferentes, talvez servissem pra apanhar coisas diferentes também. E por falar nas pinças, um homem — se é que posso chamar assim, estava fazendo outra pinça ali num canto da sala. Batia com suas ferramentas, amaçava o material quente, batucadas e mais bate-bate. Aos poucos fui me acostumando tendo em vista a curiosidade instigada pela senhora. Ela me levou até um poço que havia num outro canto da sala. Que sala organizada pra um espaço tão escondido. Espaçosa né?

Daí olhei o mais próximo possível, cuidando pra não ser queimado, e esperava ver um mínimo do meu reflexo nele. Mas a água era escura e saia uma espécie de gás dali, enquanto outro se misturava à água dando a impressão de vapor ou sei lá o quê. Tive a impressão também de ver alguma coisa lá no fundo, chiando, chamando...

— Quem vê de longe pode até dizer que é um pedaço de ouro. — brinquei, deixando um riso abafado escapar. E depois voltei a acompanhar a senhora que, de frente ao poço, apresentou-me um espelho. Este sem muitos detalhes, exceto pelo reflexo que eu tanto esperava ver.

Me foi instruído então que, para retornar, eu deveria abrir mão de algo. Um preço a pagar. E sabe, eu já esperava por isso? Rocco já havia comentado sobre e, desde então, eu vim pensando sobre o que eu deixaria para traz. O que eu estaria disposto a pagar? E olhando agora para o meu reflexo, eu só tenho mais certeza do que é.

— É engraçado esse meu reflexo porque eu o vejo incompleto — as palavras saltaram da minha boca com certa naturalidade enquanto eu dava um ou dois passos, o suficiente para ficar frente a frente com o espelho — Tudo que eu esperava ver em meu reflexo antes era um vestígio de um outro eu. Aquilo que não podia esconder de mim, aquilo que sempre me perseguia e talvez até me atormentasse. Tudo porque não era completo; éramos partes distintas, um Sean que eu não conseguia abraçar. — e nesse ponto a minha mão direita já tocava o espelho, repousando a palma sobre a mão do meu reflexo. Olhos fitando um ao outro diretamente. E depois de muito tempo eu finalmente pude aceitá-lo, não havia mais o que temer em meu reflexo.

— Agora eu não espero ver outra coisa senão o meu eu inteiro. Eu não preciso mais fugir, esse é o caminho que escolhi. Não sou mais a criança que temia ter a sua personalidade perdida. Agora sou aquele que se encontrou completo. — completei.

Naqueles últimos instantes encarando meu reflexo, mentalmente eu o agradecia. Tudo que sofri, o que passei, e as coisas que tive de abrir mão. No começo eu não entendia e achava que o tempo só me faria perder as coisas. Mas hoje eu vejo que essas coisas precisavam ficar pra traz. Ou nós não estaríamos aqui. Então tudo que eu podia fazer era agradecer e respirar fundo, pois o caminho à frente traz muito o que perder ainda. Mas eu estou pronto.

— Eu quero deixar essa criança para traz. Eu quero abrir mão deste reflexo incompleto e temeroso do futuro. Pois agora eu já sei quem eu sou. — e essa foi a minha decisão final.

A juventude.

Ainda que, em algum lugar da minha mente, eu tenha escutado-o falar: " — um pequeno grande corvo, hmm? "

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Mensagem por NR Sérpico Sáb Abr 29, 2017 9:28 pm

59. Fria e pesada

— Então que assim seja. Tudo o que você era, até um passado recente, ficará aqui. Essa é a barganha e a barganha foi aceita.

O reflexo se tornou uma mancha no espelho. Ao mesmo tempo, o trabalho do ferreiro chegou ao fim: ele pegou a pinça de repente modelada, se aproximou do poço sem hesitar, como quem conhece cada milímetro da sala, meteu a pinça entre a água e tirou de lá uma... chave de ferro. Enquanto dentro da água, a coisa parecia muito maior, talvez uma barra de aço, quem sabe de ouro. Dava a impressão de algo mais encorpado. Mas fora da água, se revelou como uma simples... chave.

O homem a estendeu, ainda a segurando pela pinça. De fato, da chave subia uma fumaça.

— Pegue — disse a senhora.

Era estender a mão embaixo da pinça que o homem a liberaria. E contrariando a aparência, o item não estaria quente, mas frio. E pesado.

— É para abrir a sua passagem de volta — ela explicou. — Vamos?

O homem, depois, colocou a pinça num canto, junto de outras, rente a parede. Sean, olhando pra ela, não sentiu nada de especial... Não era como se tivesse realmente deixado algo para trás. Talvez isso era bom sinal: o que barganhou, no fim, não lhe custou muito.

A senhora saiu da sala. Mas seguiu numa direção diferente da que veio, contra a luz de lá de fora. Seus passos foram entrando na escuridão daquele local subterrâneo. Sean sabia que deveria segui-la, já se sentia colega da escuridão daquele lugar pulsante. Mas sentia como se estivesse deixando mais alguma coisa...

Cyrus. Quem era mesmo? Um dragão, claro. Um dragão que o ajudou a chegar até ali, o pegando no meio do deserto rochoso. Se lembrava dessas coisas, mas não conseguia explicá-las com precisão.  Sean lembrava que tinham um tipo de conexão... só.  

A senhora, do fundo da gruta:

— O caminho está aqui. Se cruzá-lo, poderá considerar-se vivo outra vez. Os olhos se acostumando, se acostumando... deu pra ver: agora a senhora estava de frente com um imenso buraco numa parede de madeira, uma parede que deveria ser uma raiz enorme. Desse buraco, havia um único ponto brilhante, distante. Ela adicionou. — E, se cruzá-lo do jeito que está... irá levar alguém mais consigo. Um espectro que, de alguma forma, está conectado à sua morte. Acho quem é.

Confesso que fiquei surpreso. Não deveria, mas fiquei. Me senti nu. Estava na mão dele.

— Devo removê-lo do seu umbigo?

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Mensagem por Hummingbird Dom Abr 30, 2017 3:26 pm

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— E-espectro? — gaguejei como quem acaba de acordar de um transe.

Olhos acostumando uma segunda vez, reconhecendo e organizando o que via. Primeiro veio na memória a imagem do meu reflexo manchado no espelho. Estranho; eu não conseguia idealizar o meu rosto nele, como uma memória difícil de lembrar, uma festa de aniversário de 3 anos ou algo assim. Depois a chave — essa que eu ainda carregava em minha mão direita, e por fim, a estranha sensação de ter deixado algo para traz. Algo importante.

Tinha relação com o dragão.

Sabe, pensando agora isso faz lembrar o pesar que acompanha tomar decisões. No fundo eu sabia que já havia tomado a minha e era este o motivo de eu estar aqui e não lá atrás onde o tal dragão ficara. Compreendo que eu poderia sim ter voltado atrás e procurado pistas com o tal dragão e seja lá o que for a relação que tenho com ele, mas algo aqui dentro também me fez compreender que isso é passado.

Sem mais delongas, voltei a minha atenção para o momento;

— Você disse um espectro? Mas... como isso é possível? — foi mais como uma pergunta retórica, afinal, eu fiz ela mais pra ele do que para a senhora. Eu não conseguia entender como Ifrit não percebeu a presença de um terceiro entre nós. E de repente em meus pensamentos eu enxergava com mais amplitude algumas das nossas capacidades; dentre elas, a possibilidade das interferências bloqueadas pela nossa simbiose. Então da mesma forma que esse espectro não podia interferir em nosso pensamento, nós também não podemos interferir na presença dele? Perguntas rondaram a minha mente, mas não seria surpresa que Ifrit distraído com nossas desavenças não tenha percebido um intruso.

Porque é assim que eu o vejo; um intruso. Digo, o espectro.

— Remova-o. — dono de poucas palavras, respondi a seco.

Cerrei meus punhos, apertando a chave na mão direita como que insistindo em manter o meu objetivo em mente. Muitas coisas estão manchadas em minha mente como aquele reflexo no espelho. Coisas incompreendidas como a existência daquele dragão ou como o sentimento de simplicidade que aquela pinça me trouxe. Reaver essas coisas pode acabar trazendo apenas sentimentos de menos-valia ou semelhantes, a julgar pela sensação que a tal pinça me passou. E se eu estou correto no raciocínio, não é pra isso que eu vim até aqui. Eu vim até aqui pra começar minha nova vida, e ela não envolve terceiros, então a minha decisão não pode ser outra senão removê-lo.

Curioso  que essa reação parece inusitada até pra mim. Na minha cabeça ainda é um pouco confuso mas eu tenho a sensação de que, em outra ocasião, eu teria perguntado mais a respeito do tal espectro, talvez até oferecer-lhe amizade. Mas agora eu vejo isso como apenas um obstáculo. Será que não estou mesmo esquecendo de algo importante?

Não mesmo — me veio um pensamento dele.

É, vai ver não é nada mesmo.

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[Comum] Considere-se morto - Página 5 Empty Re: [Comum] Considere-se morto

Mensagem por NR Sérpico Sáb maio 06, 2017 11:10 pm

60. Coda

— Não sei ao certo como isso foi possível. É uma nova magia. Mas... — Ela fechou os olhos, que viraram e desviraram por debaixo das pálpebras. Então os abriu subitamente, como uma pessoa desesperada por enxergar na escuridão e de algum modo Sean viu tudo isso claramente. — ... ainda assim, é uma magia e sempre há uma contra magia.

Ele não sentiu nada de especial, mas ela garantiu:

— Está feito.

Sem a ligação com Sean, senti a atração imediata pra longe dali, mais especificamente de volta para Ho e Bones — os que eu ainda tinha um laço razoável. Não tinha como eu permanecer longe de um possível hóspede, então comecei a voltar, depois de chegar tão perto do meu Retorno... Foi ali que Sean deixou essa história, foi ali que o perdi de vista: naquela gruta subterrânea, de frente com um caminho profundo, um caminho que cruzaria toda a Sarça Ardente por baixo até sair do Outro Lado, na Forja da Eala, sobrevoando Lodoss.

Provavelmente ele estaria com um corpo novo ao terminar a passagem. Ou então a transformação já estava em gradativa atividade, desde o espelho embaçando.

Em algum ponto do caminho, Sean usaria a chave para destrancar alguma coisa. Mas de todas as portas ou portões numa rede enraizada de túneis, a chave funcionaria em apenas uma fechadura, a fechadura para o seu mundo natal — ou para o mundo que ele quisesse ir, realmente não sei, especulo. Nesse ponto — ou antes, ou depois — a árvore iria interagir com ele. Não mais na imagem de uma senhora imparcial... mas em imagens variadas, acho, do passado de Sean, não sei com qual propósito, se para sustar ou frustrar o retorno último. Não sei se meras ilusões ou se invocações reais.

A última visão que tive dele, já não era dele, mas de outra pessoa. Esse estranho... gosto de pensar que o ajudei, de alguma forma, embora não tenha me beneficiado do jeito que planejei. Mas não estou lamentando — lamentar deixa o homem fraco. Volto aos planos de antes e, se um dia conseguir retornar aos meus e falar com as pessoas, não apenas em um corredor fechado numa dimensão de sonhos, se um dia conseguir tocar as pessoas novamente e andar pelo mundo dos vivos como homem livre, então aí está um Lionheart com quem se reencontrar para conhecer novamente.

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Mensagem por NR Sérpico Dom maio 07, 2017 2:51 pm

Contando a partir da última XP concedida, apenas Knock e Hummingbird continuaram o jogo. Então:

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