[Ficha] Gregar Walker

Falando a verdade tive uma infância um tanto quanto “conturbada”, não que eu goste de me gabar, ao menos não por causa disso, mas de toda forma posso garantir que normal não é uma palavra que se encaixava facilmente em minha vida. Nasci em um pequeno vilarejo isolado de tudo e de todos que provavelmente ficava em algum canto de Hirt, nunca realmente soube onde ele se localizava e nem pretendo voltar lá para descobrir, mas voltando ao assunto principal, aquele tal vilarejo era “protegido” por algumas magias que o faziam ser praticamente a definição de isolação, basicamente se alguém quisesse tentar encontra-lo ele ou precisaria de um morador para ser vir de guia ou podia tentar a sorte em encontrar um caminho sozinho, o problema é que além de uma ou outra dúzia de barreiras, toda estrada para o vilarejo era recheado de armadilhas e criaturas muito menos amistosas do que um visitante não convidado desejaria encontrar, então não era nada comum termos visitantes naquele lugar, graças a isso tudo as pessoas naquele lugar foram se tornando boas em garantir conforto por elas mesmo, , fosse alimentos, roupas, armas, aquele lugar conseguia gerar quase qualquer coisa, mas como todo bom vilarejo isolado aquele também tinha um pequeno “costume”, enquanto alguns não acreditavam ou não se importavam com deuses as pessoas naquele lugar oravam a uma certa “divindade” bem diferente.
Normalmente eu ficaria longe de tudo, mas não fiquei, deveria ter uns quatro anos quando aconteceu, até o momento tinha vivido uma vida completamente ordinária uma criança que corria de um lado para o outro com a única preocupação de qual seria a próxima brincadeira da qual ela usufruiria, um belo dia como qualquer outro durante uma daquelas brincadeiras de se esconder eu me afastei mais do que devia e acabei indo parar no templo. Era conhecimento comum não se aproximar do templo para não atrapalhar o sacerdote nem nossa divindade em suas “tarefas sacras”, além dos dois só alguns seletos ajudantes poderiam adentrar naquele local livremente, provavelmente eu mantinha essa informação em algum lugar bem dentro de minha cabeça, mas mesmo sabendo disso a curiosidade falou mais alto, ela sempre fala, e eu acabei entrando naquele templo. O lugar com chão de pedra ao topo de uma enorme escadaria era bem mais assombroso do que pensava, aquela enorme casa de madeira não era exatamente convidativa, de passo em passo eu tinha chego à construção principal onde o sacerdote supostamente ouvia as preces dos moradores e junto da divindade dava um jeito nos problemas... sinceramente nunca me arrependi tanto antes de abrir uma porta, o cheiro nauseante que passava por ela deveria ter sido o bastante para ter me parado, mas bem ele não parou, e eu ainda assim resolvi ver o que tinha por detrás daquela porta, uma pilha de cadáveres era o que eu tinha visto, sentia o estomago se remexendo enquanto meu corpo travava, antes que pudesse sequer entender o que estava acontecendo um vulto negro passava pela minha frente, e eu desmaiava.
Nunca torci tanto para que quando acordasse tudo não passasse de um sonho, pena que não foi, o quarto onde despertava estava tão perturbadoramente parecido com a sala que tinha visto antes que sentia o mundo se remexer ao meu redor, com esforço eu voltava a me manter de pé, minha cabeça doía como se tivesse sido levada contra um muro de pedras e cada nova passada dada fazia com que sentisse que facas trespassavam minha carne, de alguma forma conseguia chegar a porta e ao abri-la tive uma nova surpresa, menos sangrenta, mas não mais desejada que a anterior, podia ver vários rostos familiares que ao me perceberem faziam uma reverencia e tudo na mesma sala que antes tinha visto os cadáveres, agora o sangue não mais podia ser visto era quase como se tudo não tivesse passado de um sonho ruim, mas não tinha tanta sorte, após algum tempo provavelmente percebendo a confusão em minha cabeça uma mulher se aproximava e me estendia um espelho, a principio eu não entendia muito bem, mas logo após ver meu novo reflexo podia perceber muito bem o que tinha acontecido, por detrás de uma grossa bandagem meus olhos e cabelo não eram mais os mesmo, o vermelho e o branco tinham tingido-os, e mesmo uma criança como eu já tinha ouvido uma historia ou outra sobre o que isso significava, a tão querida divindade tinha me escolhido como seu mais recente hospedeiro...
Apartir de então da pra imaginar como as coisas mudaram, eu passei a viver no templo e para que não acontecesse como o ultimo hospedeiro eu passei a ter uma espécie de treino especial, todo dia era basicamente o mesmo, tinha pilhas e pilhas de aulas sobre tantos assuntos que eu nem mesmo lembro, depois surgiam horas e horas de treinos físicos alguns com armas outros sem, mas ambos igualmente exaustivos, e se os treinos e estudos já eram bem ruins as seções de preces eram bem piores, tinha de ficar sentado geralmente durante toda à tarde com aquele elmo no rosto, ouvindo das pessoas como elas eram infelizes ou o que elas queriam, mas eram preguiçosas de mais para conseguir, se tivesse que escolher diria que essa era a pior parte em tudo aquilo, não poder mandar nenhuma daquelas pessoas levantarem dos malditos traseiros e se virarem. Mas nem tudo era espinhos naquele lugar, é verdade tudo que eu queria eu conseguia, ao menos quase tudo, qualquer que fosse o pedido eu o teria realizado em questão de instantes, e é claro que também pude conhecer Kenna a tal divindade local que de divino tinha apenas a fama, uma vez eu cheguei a perguntar a ela como ela tinha ido parar naquela situação e a historia foi bem mais hilária do que esperava, pelo visto Kenna a alguns bons anos era um demônio como tantos outros causando um pouco de caos aqui e terror ali, um dia moradores fartos dela chamaram uma espécie de exorcista para lidar com o demônio, o problema é que ele não conseguiu realmente lidar com ela e para não fugir após ser surrado o homem decidiu selar o demônio no próprio corpo, e foi assim que tudo começou, de tempos em tempos quando o antigo hospedeiro estava prestes a morrer ela era passada para um próximo, esse foi um dos grandes motivos para ser tão mais fácil líder com Kenna, visto que como ela disse estava “acostumada” a lidar com humanos.
Como éramos um vilarejo pequeno encontrar um novo sacrifício de tempo em tempo não era exatamente fácil então foi ai que a pior parte do treino começou, a parte sobre “adestrar” Kenna para ser mais exato, basicamente os treinos nessa etapa serviam para que diferentemente do antigo hospedeiro eu não pirasse e saísse matando tudo e todos, coisas como evitar impulsos e evitar drenar a energia das pessoas até elas morrerem, não era exatamente bom em não ser impulsivo, mas com certa “orientação especial” e algumas boas doses de pancadas que me deixavam desacordado por um tempo fui me acostumando a evitar matar pessoas sempre que precisava me “alimentar”. Após essa ultima e fatídica parte do treinamento, tudo que fazia era ouvir os pedidos e preces, sinceramente estava prestes a surtar quando a chance de sair daquele lugar veio à tona, certo demônio parecia ter aparecido nas proximidades e estava causando encrenca nas redondezas, com receio do que pudesse acontecer eu fui mandado para lidar com ele, é claro que tive de ir junto de um ajudante vulgo pessoa que iria me impedir de fugir, com meus dezessete eu sai do vilarejo pela primeira vez e aquilo foi literalmente surpreendente, nunca poderia esperar que as coisas do lado de fora pudessem ser tão diferentes do livros, essa era minha chance e não é de meu feitio perder chances tão boas assim, um golpe rápido enquanto ele estava distraído foi tudo que precisei e meu guarda-costas estava caído no chão em uma poça de sangue, tomando dele seus pertences fiz a única coisa que podia fazer, parti o mais rápido que pude. O resto não passa de uma historia chata do cotidiano, passei a andar de um lado para o outro nunca ficando mais tempo do que o necessário vendo todo tipo de gente, passei uns bons dois anos simplesmente caminhando enquanto usava os conhecimentos ganhos nos dias presos no templo ao meu favor, fazia alguns pequenos trabalhos aqui e ali e sempre que precisava de energia o gênio de Kenna somado com o treino me ajudavam bastante em não matar por engano meu alvo, no geral nada de importante aconteceu nessa época, só uma boa e monótona vida cotidiana.